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scouts/olheiros do SCBraga... para que servem?????

Started by (S)oon(C)hampion(B)raga, 23 de July de 2020, 21:32

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(S)oon(C)hampion(B)raga

Quote from: 100%SCB on 23 de July de 2020, 22:33
O que me parece é que estamos a olhar principalmente para que há dentro do país, quer na Primeira Liga, quer nos escalões de formação.
Por exemplo, os espanhóis que, cá dentro, poucas hipóteses tem de concorrer connosco e com os outros três (creio que até foi um dirigente deles que disse isto), criaram um "gabinete" em Paris e tem apostado em jogadores franceses.

Sinceramente também acho que o nosso scouting, em termos de equipa A e de mercado externo, tem funcionado muito mal.
Para nos tentarmos aproximar dos "grandes" temos de apostar no scouting, em conseguir talentos a "baixo" custo. Um pouco como está a fazer a Atalanta e outros clubes.
Assim, é natural que seja complicado sair disto... a gestão está longe de ser boa.

O Vitória SC tem sido destaque nos últimos dias, nos media e redes sociais, pelas contratações apresentadas. Uma política de contratações inovadora, diferenciada, assente em pressupostos pouco comuns no futebol português, chegou à cidade-berço. Neste artigo analisamos o trabalho realizado pelo Vitória SC e perceber a nova política de contratações do clube e as alterações feitas na área do scouting, mas também do treino.

Carlos Freitas – a peça-chave
Antes de progredirmos é importante recuar no tempo. Em julho de 2019, Miguel Pinto Lisboa tomou posse como o 23º presidente do Vitória SC. A sua chegada ao clube vitoriano trouxe consigo um nome importante neste processso, Carlos Freitas. Na tomada de posse, Miguel Pinto Lisboa referiu-se a Carlos Freitas, dizendo que "pela sua experiência, profissionalismo e competência será uma peça-chave".

Depois de passagens por Sporting CP, SC Braga, Panathinaikos, Metz e Fiorentina, o diretor desportivo assumiu o cargo no Vitória SC e o seu impacto foi imediato, na construção do plantel, mas também em mudanças estruturais. Implementou um gabinete de scouting eficiente: em Portugal, capaz de encontrar jogadores da 1ª Liga até à última divisão distrital, e em França, um gabinete sediado em Paris com observações em vários pontos do globo.

Na primeira temporada de trabalho surgiram vários nomes:

Denis-Will Poha (emprestado pelo Rennes – opção de compra de 1,250 M€)
Marcus Edwards (chegou a custo zero do Tottenham, Vitória SC detém 50% do passe)
Abou Ouattara (emprestado pelo Lille até ao final da época 20/21 – opção de compra de 50% do passe por 3 M€)
Elias Abouchabaka (chegou a custo zero do RB Leipzig)
Easah Suliman (compra de 70% do passe ao Aston Villa)
Nico Janvier (chegou a custo zero do Rennes)

O perfil de jogador


Jovens, baratos, opções de compra vantajosas para o clube e pergaminhos nas seleções nacionais jovens dos seus países (só Abou Ouattara é internacional A pelo Burquina Faso). Esta política de contratações tem em mente os fatores referidos anteriormente. Todos estes jogadores participaram em Europeus ou Mundiais jovens, foram destaques nas suas seleções, mas não tiveram o devido espaço nos seus clubes, encontrando em Guimarães um refúgio e um espaço de crescimento e potencialização das suas capacidades.

É importante ainda focar a nossa análise num outro ponto. Com as contratações de Marcus Edwards e de Easah Suliman, o Vitória SC entrou no mercado inglês e, como é sabido, é um mercado que mexe com valores elevados todos os desfechos. Esta entrada no mercado britânico é ainda mais importante pelo contexto atual que se vive. Com o Brexit, os clubes ingleses terão entraves maiores na hora de contratar jogadores oriundos de outros países pela possibilidade de estes se tornarem extra-comunitários, tendo de virar as suas agulhas para jogadores de nacionalidade inglesa. Com a aposta em jovens como Marcus Edwards e Easah Suliman, o Vitória pode ter um retorno financeiro nunca antes visto em Guimarães.

França é mina de ouro
Em França foi criado um departamento de scouting, comandado por Carlos Freitas à distância e dirigido no local pelo scout Olivier Feliz (ex-scout do Paris Saint Germain). Segundo Olivier Feliz, Carlos Freitas "conhece muito bem os campeonatos franceses" e esta aposta deve-se à dificuldade de recrutar jogadores em Portugal.

Depois da chegada de Nico Janvier, que já renovou com o clube até 2024, ficando com uma cláusula de rescisão de 50 M€, os conquistadores continuaram a apostar em jovens jogadores franceses:

Vincent Marcel (compra de 50% do passe ao Nice por 100 mil €)
Jason Bahamboula (custo zero do SM Caen 'B')
Dayane Yessoufou (proveniente do Lens)
Jonathan Mutombo (emprestado pelo Paris Saint Germain)
Mamadou Tounkara (proveniente do JA Drancy)
Melvin Maboungou (proveniente do AC Boulogne-Billancourt)

Portugal com talento

Os holofotes do Vitória SC não estão apenas voltados para o estrangeiro e é importante frisar isso. Em Janeiro, chegou à cidade de berço João Santos, um ponta de lança que foi destaque na 2ª divisão distrital de Lisboa pelo Belenenses. Estar atento a todos os campeonatos é um fator preponderante para conseguir recrutar melhor.

Para a próxima temporada o Vitória SC contratou os dois melhores marcadores da zona Norte do Campeonato Nacional de Juniores: André Ramalho (ex-Rio Ave) e Duarte Moreira (ex-FC Porto). Dois perfis jovens, com um potencial assinalável e capacidade para crescer em Guimarães.

A equipa B do Vitória está a ser reforçada com jovens talentos do Campeonato de Portugal: Nuno Pereira, médio centro de 19 anos, ex-Cerveira; Diogo Castro, médio de 20 anos, ex-Sintrense; Abel Joshua, médio centro de 20 anos, ex-Amora.

Na equipa de U23, o Vitória SC contratou Mário Évora ao Águeda, guarda redes de 21 anos; Hugo Cardoso ao Aljustrelense, extremo de 21 anos; Diogo Ferreira, extremo de 18 anos, ex-Sacavenense; Bruno Amado à Sampdoria, avançado de 18 anos.

Hora de arrumar a casa


O trabalho do clube não tem sido apenas realizado dentro de campo. Mudanças na estrutura têm sido notadas nos últimos tempos. Luís Morais e Pedro Machado foram contratados ao Sporting CP. Luís Morais mudou-se para o Vitória SC para assumir o cargo de Coordenador de Scouting e Pedro Machado integra o departamento de scouting e prospeção do clube.

No comando técnico da equipa de U23, para a temporada 20/21, Tozé Mendes abandonou o cargo de treinador, dando lugar a Dominik Glawogger. É austríaco, tem 30 anos, treinou na Áustria a na Alemanha, mas não pertence à Red Bull. Dominik Glawogger foi contratado para a equipa de U23, após duas épocas no Holstein Kiel.

Scouting a carborar


Se até aqui se tem notado uma aposta do Vitória SC no scouting, essa aposta está a ser reforçada para a temporada 20/21. Sentido de oportunidade, aposta em jovens de valor e seguindo uma política e um perfil de jogador perfeitamente identificado.

Noah Holm

Ponta de lança de 19 anos, norueguês, que chega do RB Leipzig a custo zero. Assinou um contrato válido por quatro temporadas e ficou com uma cláusula de 50 M€. Um ano mais novo que o astro noruguês Erling Håland, Noah Holm foi o jogador mais jovem a assinar um contrato profissional com o Strømsgodset, com apenas 15 anos.

Esta temporada veio a Portugal defrontar o SL Benfica para a Youth League, onde apontou um golo. É um avançado forte fisicamente (186cm) e com boa capacidade técnica. É um jogador com poder de explosão e aceleração, capacidade de jogar de primeira, boa capacidade de finalização e forte no jogo aéreo.

Jung-Min Kim

Médio centro de 20 anos de idade. Contratado ao RB Salzburg, o médio sul coreano passa a ser uma das grandes promessas do clube. Internacional jovem pelo seu país, é mais um jogador que vai ao encontro da política de contratações do clube. Participou no Campeonato do Mundo U17 e U20.

Jogador que pode desempenhar várias posições no meio campo, seja a '8' ou a '10', mas também pode descair para as alas. É bastante tecnicista, evoluído ao nível do passe e do controlo de bola. É rápido, ágil e dinâmico. Joga de cabeça de levantada e tem uma boa visão de jogo, aliando à sua capacidade de desequilíbrio com a bola nos pés.

Jonas Carls

Defesa esquerdo de 23 anos de idade, chega ao Vitória SC por empréstimo do Schalke 04, ficando o clube minhoto com uma opção de compra no valor de 800 mil €. Fez a sua formação no Bayer Leverkusen, passou depois pelo FC Nürnberg, antes de chegar ao Schalke 04. Na última temporada esteve emprestado ao FC Viktoria Köln onde fez 17 jogos e apontou 2 golos.

É um defesa esquerdo que se destaca pelo seu poder de explosão e aceleração. É um jogador com um bom posicionamento em campo e boa capacidade de desarme e marcação. Consegue recuperar bastantes bolas para a equipa. Ofensivamente consegue fazer o corredor todo com facilidade, chegando muitas vezes ao último terço. Boa capacidade de drible, passe e cruzamento.

@ https://www.proscout.pt/vitoria-sc-o-futuro-nas-maos-do-scouting/

tens ai a estrategia do bitorinha a nivel de scouting...

que ao que parece comparada com a do nosso SCB dá-nos 10 a zero...

mas atenção eles pelo que li aqui apostam no scounting para os sub-23 equipa B... e o nosso scouting apesar de muito fraco tem mais a vertente escolinhas...

mas acredito que se juntassem o scout senior ao das escolinhas eramos campeão nacional no máximo em 2 ou 3 temporadas
[url="https://fb.watch/l3N5OntDOI/"]https://fb.watch/l3N5OntDOI/[/url]

joaoPC

A sério que acabaste de por este texto gigante para tentar de alguma forma provar que o Vitória está a trabalhar melhor que nós? [emoji23] A estupidez não tem limites

(S)oon(C)hampion(B)raga

Quote from: joaoPC on 06 de March de 2021, 03:44
A sério que acabaste de por este texto gigante para tentar de alguma forma provar que o Vitória está a trabalhar melhor que nós? [emoji23] A estupidez não tem limites

podia por só o titulo e o link... mas como sei que personas como tu nem sequer o abriam...   ::) ::) ::) ::)
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joaoPC


(S)oon(C)hampion(B)raga

e numa altura que começa de começar a silly season das transferências (para a comunicação social claro) com 15 dias sem jogos para o campeonato e a comunicação social a ter que durante esses 15 dias encher chouriças para ocupar as páginas dos jornais desportivos e tempos de antena nas TVs e rádios o que andarão os scouts/olheiros do nosso Braga a fazer??

isto se eles sequer existem... e se existem se fazem outra coisa a não ser coçar a micose...
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Hawk

Quote from: (S)oon(C)hampion(B)raga on 06 de March de 2021, 03:49
Quote from: joaoPC on 06 de March de 2021, 03:44
A sério que acabaste de por este texto gigante para tentar de alguma forma provar que o Vitória está a trabalhar melhor que nós? [emoji23] A estupidez não tem limites

podia por só o titulo e o link... mas como sei que personas como tu nem sequer o abriam...   ::) ::) ::) ::)
Incrível como não dizes nada de jeito publicação atrás de publicação em tópico atrás de tópico.. Enfim.. [emoji1745][emoji1751]

Enviado do meu IN2020 através do Tapatalk


Quim

Quote from: Hawk on 23 de March de 2021, 18:19
Quote from: (S)oon(C)hampion(B)raga on 06 de March de 2021, 03:49
Quote from: joaoPC on 06 de March de 2021, 03:44
A sério que acabaste de por este texto gigante para tentar de alguma forma provar que o Vitória está a trabalhar melhor que nós? [emoji23] A estupidez não tem limites

podia por só o titulo e o link... mas como sei que personas como tu nem sequer o abriam...   ::) ::) ::) ::)
Incrível como não dizes nada de jeito publicação atrás de publicação em tópico atrás de tópico.. Enfim.. [emoji1745][emoji1751]

Enviado do meu IN2020 através do Tapatalk

É ignorar. Se ninguém lhe passar cartão pode ser que se canse e se vá embora.

(S)oon(C)hampion(B)raga

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(S)oon(C)hampion(B)raga

#68
Diretor de scouting do Shakhtar Donetsk lamenta realidade do Brasil: "Estão destruindo os talentos"

Homem forte do futebol do clube que tem 12 brasileiros, José Boto sente falta do "futebol que pressiona e quer ter a bola"
Não contrata, mas indica. Não escala, mas ajuda na montagem do elenco. Não faz gol, mas há quem diga que tem participação na jogada. Trabalhar como scout é ser fundamental na engrenagem de um clube, mas quase sempre longe dos holofotes. É o caso do português José Boto, que, depois de 11 anos de sucesso no Benfica, tem nesta temporada ajudado o Shakhtar Donestk a ser ainda mais brasileiro.

Visto por muitos como um dos melhores profissionais da área, o chief scout (diretor do departamento de scouting) do clube ucraniano participou diretamente das recentes contratações de, por exemplo, Marcos Antônio, o Bahia, ex-Athletico Paranaense, e Mateus Tetê, ex-Grêmio. Duas promessas (de 18 e 19 anos, respectivamente) que deixaram o país antes mesmo de terem jogado profissionalmente.

Lucas Paquetá poderia ter sido mais um na lista de aquisições do português. Não foi por falta de dinheiro que o ex-flamenguista acabou por preferir o Milan. Pelo contrário. O Shakhtar tem poder financeiro para brigar de frente com os grandes da Europa. Opta, no entanto, por uma estratégia diferente e até certo ponto arriscada: "jogar na antecipação" e buscar "jovens segundos jogadores", principalmente no futebol brasileiro.   

Boto, de 53 anos, reconhece que há talentos de sobra no Brasil, até por isso sonha um dia trabalhar no país. Por outro lado, não poupa críticas aos treinadores que têm "destruído" esses mesmos talentos com um futebol cada vez mais físico e defensivo - com as exceções de Renato Gaúcho, Fernando Diniz e Tiago Nunes.

Os atacantes costumam saber na ponta da língua quantos gols já marcaram na carreira. Você, como scout, sabe quantos jogadores indicados foram contratados?
Não tenho a mínima ideia [risos]. Foram oito agora no Shakhtar e talvez 25 ou 30 no Benfica. Digo isso por alto mesmo, porque nunca fiz essa conta.

O balanço é mais positivo ou negativo?
Olha, acho que é mais positivo.

O Shakhtar Donetsk há anos é conhecido por contratar muitos brasileiros. De uns meses para cá isso cresceu de forma ainda mais significativa, sendo que muitos dos reforços são jovens com menos de 20 anos. Por quê?
O Shakhtar, de fato, sempre teve a tradição de trabalhar forte no Brasil, temos uma ligação que já é histórica. Muitos brasileiros tiveram sucesso no clube, então a aposta no mercado brasileiro continua alta. O fato de agora termos contratado muitos jovens, sobretudo depois que cheguei, tem a ver com a necessidade que o clube sentiu de renovar um pouco a equipe. Não estamos pensando nessa temporada ou na próxima. Estamos pensando no futuro, projetando de dois a três anos. Temos contratado "segundos jogadores" para que em breve fiquem prontos para substituírem aqueles que têm hoje jogado com mais frequência.

Vocês já demonstraram que têm condições financeiras para contratar as principais promessas do Brasil. Mas por que esses jogadores ainda preferem os clubes mais tradicionais? Vinicius Junior, Rodrygo, Lucas Paquetá...
A nossa aposta tem sido em "segundos jogadores", jogadores mais jovens, todos com capacidade de crescer e evoluir. Apostamos neles. O problema é que os jogadores que estão mais feitos, como o Lucas Paquetá, Rodrygo... quando digo feitos, quero dizer que atuaram no time principal com regularidade. Esses, no caso, rapidamente atingem valores enormes de forma muito rápida, valores que nós não queremos pagar no momento.

Mas vocês têm o dinheiro para isso, certo?
Sim, temos. Mas essa não é a aposta do Shakhtar. Não vejo o nosso clube pagando 30 ou 40 milhões de euros por um jogador. Além disso, os jogadores que atingem esse patamar já têm clubes de campeonatos mais atrativos de olho, clubes que pagam o mesmo que nós. Um jogador como o Paquetá, por exemplo, se tiver que escolher entre a liga italiana e a liga ucraniana, vai preferir a liga italiana. É normal. Nós temos percebido cada vez mais isso, por isso estamos trabalhando na antecipação. Queremos contratá-los antes que alcancem esse patamar.

O que é um grande risco...
Sem dúvida. É sempre um risco, visto que estamos trabalhando com potencial, e não com um jogador que já deu provas no time principal de que pode ter um rendimento de alto nível.

O fato de o Shakhtar Donetsk investir tanto em jovens brasileiros se adequa ao seu perfil de trabalho?
O Brasil é o país que mais talento produz na atualidade e, se bobear, desde sempre. É um país que tem talentos em quase todas as posições. Se fizermos agora aqui um rápido exercício, seguramente vamos encontrar jogadores de todas as posições nos principais clubes da Europa. O país continua produzindo esse talento, e espero que nunca pare. O brasileiro é um jogador que, pelo perfil técnico, se encaixa muito naquilo que é o estilo de jogo do Shakhtar, que é um jogo muito ofensivo, de um time que joga com espaços reduzidos. O mercado brasileiro é uma prioridade para nós. Conheço muito bem as seleções de base do Brasil, da sub-16 à sub-20. Existem muitos jogadores ali que nos agradam, mas prefiro não revelar os nomes [risos].

Por que vocês apostam pouco ou quase nada em jogadores brasileiros que atuam na defesa? O clube, por exemplo, nunce teve um goleiro ou um zagueiro brasileiro...
Somos obrigados por regra a jogar com quatro ucranianos no time titular, e dentro do clube há anos também está instituído que esses quatro precisam ser preferencialmente jogadores de defesa. A criatividade e a ofensividade nós buscamos no estrangeiro. Mas isso também não quer dizer que no futuro o clube não possa contratar um goleiro ou zagueiro brasileiro, vai depender muito das nossas necessidades.

Hoje o treinador do Shakhtar é português [Paulo Fonseca], o que seguramente é uma grande vantagem para os jogadores brasileiros. Mas por que o clube ainda não teve um treinador brasileiro? Nunca pensaram nisso?
O Shakhtar, vale lembrar, teve um treinador que ficou no cargo durante muito tempo [de 2003 a 2015], o Mircea Lucescu, que teve muito sucesso. O Lucescu saiu e logo entrou o Paulo, que já está conosco há três temporadas e tem obtido sucesso também. O fato de não pensarmos num treinador brasileiro, e digo isso sem qualquer tipo de análise mais detalhada, até porque nunca conversamos sobre isso internamente, acho que tem muita a ver com a imagem ruim que o treinador brasileiro tem na Europa. Não há brasileiros na Europa hoje. Existe, sim, uma má imagem.

Acredita que a má imagem do treinador brasileiro na Europa é exagerada ou de fato é merecida?
Tenho uma opinião muito particular em relação a isso. Penso que há aqui várias nuances. A primeira delas é que nos últimos anos o treinador brasileiro desviou um pouco daquilo que é a identidade do futebol brasileiro. A visão do europeu é que no Brasil as equipes são ofensivas, que jogam bom futebol, que jogam para ganhar. Nos últimos anos, no entanto, tivemos um grande número de treinadores que passou a renegar a essência do futebol brasileiro. Treinadores muito defensivos, que pensam muito na organização defensiva e que acabam por deixar alguns talentos de lado. Hoje, no Brasil, tirando o Renato Gaúcho, o Fernando Diniz e o Tiago Nunes, não vemos treinadores que trabalham um futebol vistoso, um futebol moderno, que pressiona e quer ter a bola. Sabemos muito bem que tudo isso é o DNA do futebol brasileiro.

É quase como se o treinador brasileiro não merecesse o jogador brasileiro então...
É quase, é quase... Um pouco isso, sim.

Não faz muito tempo que o Shakhtar foi manchete negativa por causa do "grupinho mimado" que foi criado por alguns jogadores brasileiros, entre eles Fernando, Douglas Costa, Luiz Adriano e Taison. Houve muita crítica, até mesmo dos adversários. Os brasileiros que hoje integram o grupo têm o mesmo perfil ou são diferentes?
Sempre tive como ideia aquilo que foi uma frase criada pelo José Maria Pedroto [antigo treinador português]: "O brasileiro é bom, mas mais do que três juntos acaba virando uma escola de samba". Hoje, no Shakhtar, temos 12 jogadores brasileiros [Ismaily, Maycon, Alan Patrick, Dentinho, Marcos Antônio Bahia, Wellington Nem, Taison, Fernando, Mateus Tetê e Marquinhos Cipriano, além dos naturalizados ucranianos Marlos e Júnior Moraes]. Curiosamente ou não, não nos dão qualquer tipo de problema. São excelentes profissionais. Apesar de serem 12, não há um grupinho fechado. Todos os nossos jogadores estão bem integrados, sejam ucranianos ou estrangeiros. O nosso treinador felizmente sabe integrar toda a gente, o tratamento é igual para todos. A nossa grande preocupação é integrar o mais rápido possível o jogador que vem de fora. Temos um gabinete de apoio ao jogador com pessoas que falam português, por exemplo.

Dos brasileiros que hoje integram o grupo do Shakhtar, qual você vê com maior probabilidade de ser a próxima grande venda?
Todos os jovens brasileiros que temos, em termos de potencial, podem atingir o topo europeu. Mas é preciso ter paciência e tempo. Não quero individualizar, mas penso que temos dois ou três que vão chegar lá mais cedo. Pela forma que jogam, pela mentalidade... Repito: todos têm potencial. Lembro ainda que muitos deles ainda são juniores, como é o caso do Marcos Antônio, o Bahia, de 18 anos, e do Mateus Tetê, de 19. Ambos têm um potencial incrível, então estou confiante que eles vão mostrar isso nos próximos anos.

Chegou a ter alguma decepcção com algum jogador brasileiro? Algum jogador que observou, gostou, possivelmente indicou, mas que no fim nunca atingiu tamanha expectativa?
Também não quero individualizar, mas no Brasil há alguns casos. Vemos surgir com frequência jogadores muito bons tecnicamente, com talento brutal, mas que não se adaptam à realidade do futebol europeu. Vamos falar então de jogadores que são tops e que eu esperava que estivessem hoje num nível superior: Neymar e Philippe Coutinho. São jogadores tops, que têm condições de atingir um nível ainda maior, ou que já deveriam ter atingido esse nível.

Falta técnica ou mentalidade?
Não consigo explicar, até porque não trabalhei com eles. São dois jogadores que, do ponto de vista técnico e tático, têm tudo, tudo para estarem num nível de Messi, de Cristiano Ronaldo, ou talvez até num nível maior. Mas, infelizmente, não conseguiram atingir esse patamar.

Tem o desejo de trabalhar um dia no Brasil?
Foi algo que nunca havia antes pensado até ter voltado agora [começo do ano] para o Brasil. Se há uma coisa que me encanta muito no futebol é o talento, e acho que muitas vezes estão destruindo esse talento ao tornar o jogo mais físico, mais defensivo. Aquilo que vejo no Brasil, nas categorias de base, são tantos talentos, tantos... Gostaria muito de trabalhar ali, para aproveitar e valorizar esse talento. Gostaria também de ajudar a vender o talento brasileiro por valores mais altos.

O que você acha que poderia agregar ao futebol brasileiro?
Tem muito a ver com aproveitar melhor as características do jogador brasileiro, respeitar aquilo que é a identidade do futebol brasileiro, que sempre foi um futebol ofensivo e de muito talento. Não é difícil fazer isso. Tendo isso, pensando de forma mais ofensiva, o futebol brasileiro tem tudo para ser muito melhor. O que me dói é ver... Olha, vou dar um exemplo que me chocou muito: ver a seleção sub-16 do Brasil jogando um futebol que realmente não tem nada a ver com o Brasil. Conseguiu colocar a torcida estrangeira que normalmente está a favor do Brasil para torcer contra, tudo isso por causa da forma como estava jogando contra a Espanha. Se um ET chegasse na Terra para ver aquele jogo, um jogo que foi horrível por parte do Brasil, ele diria que a Espanha era o Brasil, enquanto o Brasil era uma equipe da quarta divisão que só dá pancada. A grande questão é: o que tem sido pedido para esses jogadores?

Dos clubes que conhece no Brasil, qual é o que mais se aproxima da sua forma de pensar e trabalhar?
Não tenho um conhecimento tão grande da realidade dos clubes brasileiros. Conheço alguns, tive a oportunidade de visitar alguns CTs. Mas existe sim um clube em especial, pela forma de jogar, pelas ideias das pessoas, que está num caminho muito bom, o Athletico Paranaense. O que o futebol brasileiro pode fazer de melhor é aquilo que o Athletico tem feito. Tem muitos bons jogadores e o time principal joga de uma forma que tem muito a ver com o que é o Brasil. Fiquei espantado também com as condições de trabalho, com o CT que é mesmo muito bom. Acho que, se todos os clubes brasileiros tivessem essa mentalidade, o futebol brasileiro ganharia muito.

Se enxerga trabalhando no Brasil mesmo diante de tantas falhas e diferenças?
Sim, sim... Gosto do país. Enquanto muitos querem sair, eu gostaria de entrar [risos]. Como disse antes, gosto de estar rodeado de talentos. Sou apaixonado por futebol, já fui treinador, então gosto mesmo de ter talentos por perto, o que no Brasil é muito fácil.

Existe muita briga de ego e inveja entre os scouts?
Não. Costumo dizer que, de todas as profissões dentro do futebol, a nossa é a mais unida. Viajamos sempre juntos, trocamos sempre ideias...

Eu, sinceramente, não tinha essa ideia...
Os treinadores, por exemplo, estão sempre espetando a faca uns nos outros, então a relação não é boa. Já a relação dos scouts não é assim. Tenho grandes amigos dentro da profissão, amigos que visitam frequentemente a minha casa. Passamos mesmo muito tempo juntos, acabamos por criar uma segunda família.

Geralmente quem trabalha muito com opinião acaba por passar a impressão de arrogante. Sente que são arrogantes?
Não. Mas é preciso ter presunção e convicção. Isso para alguns pode soar arrogância, é verdade, mas acho que o scout, na sua essência, não é arrogante. Pelo contrário. São pessoas bastante acessíveis, afáveis e, ao contrário do que muitos acham, escutam muito as opiniões dos outros. O nosso trabalho é opinar sobre potenciais jogadores e, consequentemente, lidar com milhões de euros. No fundo, somos os responsáveis pelos clubes gastarem milhões e milhões em contratações.

Foi passado para trás por algum scout que julgava ser amigo?
Não, nunca. Sei que isso é uma coisa normal no futebol, já vi acontecer em outras áreas, mas nunca aconteceu comigo no papel de scout. Não vejo ninguém como adversário, vejo todos como colegas de profissão. Felizmente, ninguém me desiludiu.

Fazem muitas apostas - de prever se um jogador vai dar certo ou errado?
Fazemos sempre apostas nos casos em que temos opiniões diferentes. Fazemos apostas, e cobramos. Cobramos mesmo [risos].

Mais ganhou ou perdeu até agora?
Já ganhei algumas vezes, mas também perdi outras [risos]. Tenho um caso, aliás, que envolve um brasileiro: o Dante. Nunca acreditei que o Dante, que na época jogava no Standard Liege, da Bélgica, fosse sair dali, muito menos chegar à seleção brasileira. Chegou à seleção, jogou um Mundial e defendeu o poderoso Bayern de Munique. Na altura, fiz uma aposta com um colega que achava que o Dante fosse chegar mais longe. Olha, veja que isso também não quer dizer que ele era um excelente zagueiro [risos]. Mas, de qualquer forma, perdi a aposta. Vi o Eden Hazard com 16 anos, e logo tive a certeza que seria top dos tops, enquanto alguns amigos tinham uma pequena desconfiança.

Muitos scouts colocam você como um dos melhores scouts do mundo. Concorda?
Sinceramente, não. Sem falsa modéstia, nunca me enxerguei assim. Mas se considerarmos que temos scouts tops, posso dizer que estou entre eles, porque tive a sorte de trabalhar em grandes clubes, principalmente clubes que apostam muito na área de scouting. É natural que o profissional ligado a um clube que aposta muito no scouting apareça mais no mercado e na mídia. O Benfica, por exemplo, sempre apostou muito em jogadores desconhecidos e que de repente viraram estrelas. Um dos meus melhores amigos na área é o Ben Manga, do Eintracht Frankfurt. Talvez o que seja pedido para ele, jogadores de um outro perfil, não seja pedido para mim. Ainda assim, reconheço nele tanta ou mais capacidade.

Já se irritou muito com uma opinião ou indicação que não foi aceita?
Não, não... As pessoas podem ter a ideia de que isso acontece, porque o nosso trabalho é opinar, dizer que determinado jogador é bom ou ruim, mas as pessoas que tomam as decisões e são responsáveis pelo dinheiro têm direito de opinar e podem não acreditar muito na nossa opinião. Nós temos que saber conviver com isso. Isso, sinceramente, não mexe comigo.

É difícil ouvir "não"?
Como tenho convicção daquilo que digo e vejo, quem sai a perder é... Bom, eu faço a minha parte.


@ https://www.goal.com/br/not%C3%ADcias/diretor-de-scouting-do-shakhtar-lamenta-realidade-do-brasil/1ovdjkun09bx21jf02l3ose0yy
[url="https://fb.watch/l3N5OntDOI/"]https://fb.watch/l3N5OntDOI/[/url]

(S)oon(C)hampion(B)raga


Por que o futebol português é inundado com especulações envolvendo o mercado da bola?
Nós, em Portugal, vivemos um pouco uma fase em que as pessoas mais do que gostarem do futebol, gostam de tudo aquilo que gira no entorno do futebol. Os programas esportivos em Portugal falam apenas de arbitragem ou de mercado. Do jogo? Muito pouco. Sinto que os portugueses deixaram de gostar do jogo em si. Se olharmos as redes sociais, somos o país que tem mais de 9 milhões de árbitros e mais de 10 milhões de scouts e gestores de futebol. Todos têm opinião de tudo. A imprensa naturalmente vai atrás disso, vai atrás do que vende. Fizemos uma vez no Benfica uma contagem dos jogadores que a imprensa durante aquele ano colocou como potenciais reforços. Contamos cerca de mil nomes. Mil nomes dentro de uma única temporada. Desses mil, havia uma porcentagem muito pequena de jogadores que de fato nós tínhamos interesse. Contratados, então, muito menos.

Mas a culpa necessariamente não é apenas da imprensa. Os empresários e os dirigentes também têm parcela nisso...
Sim, também tem isso. Mas Portugal é um país interessante na colocação de jogadores, porque todos sabem que os clubes portugueses valorizam e vendem bem. O fato de um jogador ter o nome ligado ao Benfica, por exemplo, faz crescer muito a sua valorização. Porto e Benfica costumam ter muito sucesso na venda de jogadores, então isso é atrativo. O Sporting também.

Os clubes portugueses são os únicos, pelo menos que eu tenha conhecimento, que divulgam a lista de scouts e olheiros que estão no estádio. Podemos acreditar nessas listas? Eles estão mesmo ali?
Os scouts e olheiros, de fato, estão lá. As listas são verdadeiras. Já vi muito scout perguntar: "Por que os portugueses divulgam isso? Nunca vi isso em outro lugar". São os próprios clubes que fazem isso, mas desconheço os motivos. É interessante para os clubes que isso seja público, é óbvio. Mas há situações que são curiosas, e rimos disso com frequência. Às vezes temos a seguinte manchete: "O Manchester United está na Luz a observar o jogador X". O Manchester United, na verdade, tem três scouts em Portugal. Três. Um deles está presente em todos os jogos na Luz [risos]. Ele está ali porque é o trabalho dele, não quer dizer que está observando determinado jogador.

Qual foi o seu grande acerto como scout?
Acho que em termos de credibilidade dentro do clube [Benfica] foi o Witsel [hoje no Borussia Dortmund]. Dentro de apenas um ano teve uma valorização enorme de não sei quantos porcentos [foi vendido para o Zenit por 40 milhões de euros]. Isso traz credibilidade.

E o grande erro?
Já admiti isso várias vezes, e até hoje é difícil de aceitar. O meu grande erro foi o Djuricic [hoje no Sassuolo].

Por que ele não atingiu as expectativas?
Talvez questões mentais, o contexto... Às vezes jogadores que não dão certo em Portugal dão certo em outro clube. Há sempre uma espécie de consolo quando um jogador indicado por nós acaba por dar certo em outro lugar, pensamos logo que não nos enganamos. O Luka Jovic, que está muito bem agora no Eintracht Frankfurt, é um exemplo disso. É um consolo para mim saber que o jogador que não deu certo no Benfica acabou por dar certo na Alemanha. O Djuricic, no entanto, não deu certo aqui e em lugar algum. Tem um talento enorme, uma capacidade técnica acima da média, conhecimento grande de jogo... mas não deu.

Existe algum caso em que você precisou insistir para convencer o clube, no caso o Benfica, a contratar um jogador indicado? Um jogador, claro, que veio a dar certo depois...
O próprio Witsel foi um deles. Houve alguma resistência por parte de quem tinha de colocar o dinheiro, porque não conhecia o jogador, porque era bastante caro [foi comprado do Standard Liege por cerca de 8 milhões de euros]. Houve naquele momento alguma batalha para conseguir trazê-lo, mas nada também de outro mundo.

João Félix, a sensação do futebol português no momento, é mesmo acima da média?
João Félix é um dos maiores talentos do futebol português, e acho que muito dificilmente vai ficar em Portugal [no Benfica] por muito tempo. Existe no país, aliás, um efeito bola de neve quando se trata de um jovem talento que interessa a grandes clubes de fora. Ninguém quer perder o jogador, então a disputa acaba por ser muito grande. Às vezes um clube compra determinando jogador sem ter a necessidade absoluta de comprá-lo. Muitas vezes é uma questão de ego. Dito isso, o João Félix é sim um jogador acima da média. Mas também é preciso ter calma, porque é muito novo [19 anos] e precisa de sequência.

@ https://www.goal.com/br/not%C3%ADcias/diretor-de-scouting-do-shakhtar-lamenta-realidade-do-brasil/1ovdjkun09bx21jf02l3ose0yy
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Somos Braga!

Entrevista interessante, mas, já tem 3 ou 4 anos!!

Enviado de meu POT-LX1 usando o Tapatalk

O verdadeiro adepto vê-se nas derrotas!

(S)oon(C)hampion(B)raga



só no nosso SCBraga é que não se sabe nada do que os nossos olheiros/scouts fazem... se é que fazem... se é sequer que existem...  ::) ::) ::) ::)
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(S)oon(C)hampion(B)raga

Sporting: Flávio Costa reforça departamento de «scouting»

Deixa o Famalicão e assina pelo Sporting, embora tenha recebido também abordagens de Sp. Braga e Benfica

O Sporting vai reforçar o departamento de «scouting» com Flávio Costa (ao centro na imagem de capa do artigo).

O olheiro de 35 anos deixou recentemente o Famalicão, clube no qual liderava o departamento de prospeção, e vai agora mudar-se para o emblema leonino, iniciando funções já na próxima semana.


De acordo com informações recolhidas pelo Maisfutebol, Flávio Costa recebeu também abordagens de Sporting de Braga e Benfica, mas foi convencido pelo projeto leonino, apresentado pelo diretor desportivo, Hugo Viana, e pelo próprio treinador, Rúben Amorim, com os quais trabalhará diretamente.

O Famalicão volta assim a ver sair um elemento da prospeção do clube, depois de Vicente Portal ter assinado pelo Southampton, de Inglaterra.

@ https://maisfutebol.iol.pt/famalicao/10-04-2021/sporting-flavio-costa-reforca-departamento-de-scouting
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(S)oon(C)hampion(B)raga

#73
Sérgio Cecílio é diretor de scouting na Dinamarca: "O português faz treinos relaxados. Aqui, um amigável parece a final da Champions"
Foi há pouco mais de um ano para o HB Køge, clube da segunda divisão da Dinamarca, onde lidera o departamento de scouting e partilha casa com alguns jogadores. Mas, na verdade, é muito mais do que isso, porque é head scout do projeto da Capelli Sports, uma marca americana que decidiu investir no futebol, já tem vários clubes, quer formar futebolistas para alimentar o clube-mãe dinamarquês e "ser conhecido como formador de jogadores"


Como é que é um português acaba a ser diretor de scouting de um clube dinamarquês?
Bom, comecei a visitar o HB Køge em 2016 e fiquei amigo. O presidente foi-me apresentado pelo [Sebastian] Svärd, que jogou no Vitória de Guimarães, e ficámos amigos. A partir daí, comecei a ir lá, eles começaram a vir cá e surgiu o convite em janeiro do ano passado para começar logo em fevereiro.

Porque foste lá da primeira vez?
Convidaram-me, pronto, para estabelecer um contacto, uma relação, começarmos a ficar amigos, e porque lhes tinha recomendado um jogador que passou pelas academias onde trabalhava cá. Gostaram e acharam que poderia ser uma ajuda para eles. Depois, houve aquela química e empatia e, pronto, ficámos amigos. Aceitei logo mal houve convite. Disseram-me que estavam só a preparar as coisas para me poderem receber e cumpriram. Passado um mês e tal chamaram-me para ir e eu, bora, vamos.

Nunca tinhas tido um cargo parecido num clube. Não foi um bocado arriscado?
Foi arriscar bastante, mas mais da parte deles do que da minha [ri-se].

O que sabias do HB Køge?
Antes de ir, pela primeira vez, pesquisei. Depois, quando lá fui, deram-me a conhecer a história do clube e achei que a nível de rumo e de estratégia era muito parecido com aquilo de que gosto e idealizo num clube - a questão de apostar nos jogadores jovens para os vender. É um clube vendedor, vindo da fusão entre dois clubes. Em 10 anos, já venderam muitos, essencialmente para Inglaterra. Gosto dessa estratégia e continuamos a segui-la.

Porque o clube tem uma empresa por trás, que é dona de vários clubes.
É a Capelli, que, há ano e meio, quase dois, comprou 20% do clube. Entretanto, com esses 20%, começaram a trabalhar mais proximamente com o HB Køge, viram que valia a pena, que o clube era bem gerido, gostaram das pessoas e decidiram avançar para mais 51%. Portanto, agora têm 76%.

A ideia é terem um projeto como o da Red Bull no futebol?
Não tanto. Querem ficar conhecidos como formadores de jogadores. Têm várias academias nos EUA com o nome da Cedar Stars Academy, têm uma percentagem grande na Rush Soccer Academies, que tem mais de 80 locais no mundo. Depois, detêm percentagens de alguns clubes, como o Duisburg, na Alemanha [terceira divisão], e têm acordos com várias equipas, inclusivamente o Estoril, em Portugal, o AEK de Atenas, clubes na Polónia e outros na Alemanha, mais em escalões inferiores. Nos EUA, então, nem se fala. Em 2019, já conseguiram ganhar 14% de mercado à Adidas. Está a crescer e eles querem crescer em todos os aspetos, para ficarem conhecidos como formadores de jogadores. O que passa por criar qualquer coisa em Portugal, porque gostam muito do futebol português.

Estão a pensar em investir cá?
Já está certo que vamos investir, sim. Muito brevemente, já a começar na próxima época.

Qual será o nível?
A ideia é começar tudo de raiz, portanto, será sempre a arrancar na distrital, talvez com um orçamento mais baixo. Mais, depois, o nível a atingir é pelo menos o Campeonato de Portugal, de certeza. Se ficarmos por aí não tem grande problema, desde que consigamos cumprir os objetivos de formação de jogadores e transferências entre o grupo, basicamente.

A prioridade será alimentar a equipa base no HB Køge?
Exatamente. A equipa principal será sempre na Dinamarca, onde estamos a crescer com um estádio novo, um aumento da estrutura, cada vez mais staff e mais qualificado, até na parte administrativa. Para dar um exemplo, quando entrei havia cinco funcionários administrativos e agora temos 19. O clube está a crescer em todos os aspetos e o objetivo é chegar à Superliga dinamarquesa em dois anos, quando tivermos o estádio novo pronto. Já está em fase adiantada, mas só daqui a um ano e meio estará completo. Esse objetivo passa pelo futebol masculino e, também, o feminino, pelo qual também estou responsável e em que estamos a lutar para subir à primeira divisão - e o principal objetivo é, daqui a cinco anos, estarmos a jogar na Liga dos Campeões. Na equipa masculina, é chegar à Superliga e, depois, logo se vê. Estas apostas - que não sei se serão compras de clubes, investimentos ou clubes criados de raiz -, a juntar ao que já temos, serão para alimentar a equipa principal da Dinamarca e a formação de jogadores.

Têm um prazo para isto tudo acontecer?
10/15 anos. Sabemos que, na formação, tens sempre de fazer projetos a, pelo menos, 10 anos. Não podes contar só com aqueles que já lá tens agora e projetar para cinco anos, o que pode acontecer, claro, mas tens de contar sempre com 10 anos, que é o processo todo de formação.

Como é um dia normal de trabalho na Dinamarca?
Começa muito cedo, às 7h. Faço de tudo um pouco, apesar de, no contrato, ser o head scout. Vejo muitos jogos, óbvio, não só ao vivo como por vídeo. Sou eu que falo com os agentes e ligo com eles, portanto, logo aí já não é o trabalho de head scout. Mesmo quando falam primeiro com o presidente, ele encaminha-os para mim. Assisto aos nossos treinos, porque acredito que, para fazer um bom scouting, tens de conhecer bem o que tens, como está aquilo que tens e como estão os jogadores a evoluir. Faço de tudo um pouco, não tenho um padrão para dizer que chego ao trabalho e há isto, isto e isto para fazer. Não há dias iguais. E, depois, com o novo projeto da Capelli Sports, também tenho viajado bastante. Vamos aos clubes parceiros, ou aos que nos pedem, para vermos no que podemos ajudar. Sou responsável pelo scouting nesses clubes e temos mais duas pessoas: uma da parte do marketing e vendas, outra para a parte técnica e de metodologia de treino. Vemos o que se pode fazer com, e sem dinheiro, e fazemos o nosso relatório final.

E se num desses clubes houver um jogador interessante, o que acontece?
Por exemplo, temos um scout nos EUA e se ele me disser que um certo jogador é bom e tem potencial, faz um relatório. Vejo por vídeo, vou lá vê-lo e sou eu quem tem a responsabilidade de decidir onde é melhor esse jogador estar.

Sendo scout, como vês se um jogador tem capacidade e potencial suficientes para estar na segunda divisão da Dinamarca?
Tenho que dizer que a segunda divisão dinamarquesa tem mais qualidade do que se pensa. É muito física? É, mas foi uma surpresa. Depois, depende de vários fatores: tenho de ver o jogador ao vivo, peço informações, vejo os antecedentes médicos. A parte das informações é muito importante, tens que ter pessoas em quem confies, até as redes sociais vejo para tentar aprender um bocadinho sobre o jogador. E a parte final é pensar como seria a adaptação ao estilo de vida na Dinamarca e ao estilo de treino. Mesmo sendo português e gostando muito do jogador português, não vejo muitos a jogarem na Dinamarca.

Porquê?
Os treinos são muito exigentes e os portugueses estão habituados a treinos mais relaxados. Para os dinamarqueses, o treino é como se fosse um jogo. Por exemplo, o nosso campeonato para três meses, não há jogos, e cada vez que fazemos um amigável parece a final da Liga dos Campeões. Os jogadores portugueses não lidam tão bem com isso, um amigável é um amigável. Tenho lá o Pedro Silva [guarda-redes, ex-Tondela], que ainda está em fase de adaptação e achou uma grande diferença. Tenho o Marian Huja, que jogou três anos no Watford e já estava habituado à exigência. Mas não estou a ver um jogador português com mentalidade para vir para aqui. Claro que há, mas tem que se procurar bem.

Nem na primeira liga?
Atenção, mesmo jogando na segunda liga ou no Campeonato de Portugal, não quer dizer que não tenham qualidade. Tem a ver com a mentalidade. Por exemplo, treinar com zero graus e sempre a 100%, porque os dinamarqueses são muito exigentes nisso. Se não treinares a 100%, nunca vais jogar. É óbvio que os jogadores portugueses têm mais do que qualidade para jogarem na Dinamarca, o problema é tudo o resto. E quem diz portugueses diz brasileiros, ou mesmo espanhóis, não vês muitos na segunda liga, nem mesmo na primeira.

Têm um perfil identificado de jogador?
Temos, por posição até. É um perfil identificado pelo clube e o treinador que vem tem que se adaptar a isso. A estratégia é do clube e o treinador tem que estar identificado com essa estratégia.

Qual é o perfil de lateral que o clube prefere, por exemplo?
Normalmente, gostamos de laterais ofensivos, inteligentes, com muita atitude, porque, lá está, é muito considerada na Dinamarca, e que seja mais alto do que o normal. Por acaso, agora até temos um lateral direito baixo [ri-se], mas que já jogou na Liga dos Campeões, tem qualidade. Conta muito a atitude e a inteligência.

Mas valorizam mais um lateral que faça overlaps e vá à linha, ou um mais associativo e com jogo interior?
Um que defenda com mais segurança. O que posso dizer em relação ao nosso lateral direito é que tem mais jogo exterior. O esquerdo já não é tanto assim. A identificação das características que queremos nos jogadores só foi feita o ano passado, portanto, ainda não temos todos enquadrados com isso. Na formação já temos alguns.

E o treinador atual aceitou bem isso?
Ele é lituano e foi jogador do clube durante muitos anos, subiu o clube duas vezes à Superliga e está perfeitamente enquadrado. Gosta do clube e do país, também jogou e treinou no Brondby. Tem palavra a dizer nas contratações e, felizmente, tem bastante confiança no nosso trabalho. Basicamente, só tem de confirmar. Claro que tem sempre a última palavra. Faço um relatório, ele vê e pronto. Até agora, temos uma relação de confiança e ele nem precisa assim tanto de ver.

Em média, quanto tempo demoras a identificar um jogador, observá-lo, fazer um relatório e recomendar a contratação?
Não há um tempo padrão. Vejo vários jogos dele, prefiro sempre ao vivo, porque na televisão ou no vídeo quase só acompanhas onde está a bola. Depois de ver os comportamentos ao vivo posso, aí sim, com a ajuda do vídeo, ver outras coisas. Normalmente, e sei que é um bocado relativo, começo pelos dados estatísticos. Ligo muito à estatística e toda a gente no clube gosta, também. É importante que, nos últimos três anos, o jogador tenha jogado regularmente. E volto a dizer, é importante mas não é condição. O Pedro Silva está agora connosco e não jogou no último ano e meio. Indica que não teve grandes lesões. Isto fazendo um scouting normal, em que não haja recomendações. Vejo os dados estatísticos, depois vejo ao vivo e depois em vídeo. Se, nestes três parâmetros, estiver sempre bem, é para avançar.

Já foste ver um jogador e, depois de veres o aquecimento, decidiste esquecer?
Sim, já, e era português [ri-se]. Não vou dizer quem. Acho que nem chegou a saber, nem tinha que saber, porque se só se motivasse sabendo que estava a ser observado, também não valia a pena.

Disseste há pouco que vives na mesma casa com os jogadores.
Não é muito normal, não, mas cada um tem o seu espaço. Mas isso não influencia decisões, pode é influenciar comportamentos da parte dos jogadores. Foi uma decisão do clube, também porque, como viajo bastante, nem sempre estou lá. Portanto, não lidamos uns com os outros todos os dias, a toda a hora. E os jogadores são muito privados, fecham-se muito nos quartos, que é algo que me mete um pouco de confusão, mas isso é uma questão pessoal. Prefiro agarrar na bicicleta e ir dar uma volta, eles preferem estar sossegados no quarto.

Achas que te encaram como um polícia?
Não me parece, mas já sabem que, se pisarem o risco... [ri-se]

Gostarias de evoluir para outras funções ou gostas mesmo de scouting?
Gosto bastante, além de que, neste projeto, não sou head scout apenas de um clube normal. Isto é ser diretor de scouting num projeto com vários clubes, várias realidades e com várias culturas futebolísticas diferentes. Agrada-me muito mais do que ter estas funções apenas num clube.

Este projeto da Capelli Sports foi bem recebido na Dinamarca?
Sim, muito bem, porque o nosso presidente [Per Rud] é uma pessoa muito respeitada, que trabalha na Liga e está nos sítios do poder de decisão, apesar do clube ser da segunda divisão. No geral, toda a gente sabe que, onde ele se mete, é uma coisa séria e honesta. Não vamos andar a fazer tráfico de jogadores, vamos criar estruturas fortes em vários países para, depois, alimentar o clube na Dinamarca. Portanto, até é uma coisa boa. Ninguém está a dizer que vamos ter um plantel só com estrangeiros, não, os jogadores dinamarqueses continuam a ser a prioridade. Como te disse, apostamos muito na formação. Ainda agora tivemos um jogo treino e temos miúdos de 17 anos no plantel. Isto não tem nada a ver com chegar ali e pôr a equipa toda a com estrangeiros. Agora, se pudermos arranjar o melhor jogador da nossa equipa no Gana, o melhor do clube de Portugal, para podermos ter ambos lá, melhor ainda.

Mas de onde veio este interesse da empresa pelo futebol?
O dono da Capelli tem uma paixão pelo futebol. Já tinha a marca de roupa, criou a marca desportiva, criou uma academia para os filhos deles jogadores - não vou dizer que são jogadores top, mas, por acaso, jogam bem - e, ao início, o objetivo até era vender roupa. Mas, com a paixão que tem pelo futebol, o grande objetivo passou a ser formar jogadores. É uma coisa que o cativa e em que está a investir bastante.

O que fazias antes disto? Qual é o teu passado no futebol?
Não é grande coisa [ri-se]. Trabalhava nas academias do Sporting, basicamente fazia scouting para algumas agências de representação de jogadores e ajudava alguns clubes, mas nunca foi nada profissional, era mais um part-time. Um hobbie, por assim dizer. Fui ganhando experiência, aprendi bastante, lido com muitas pessoas que sabem bem mais do que eu e que me ajudam, e tenho andado a fazer tudo para me valorizar como scout. Mas, no futebol, não tenho grande passado. Ainda tentei ser jogador, era um sonho, mas não havia qualidade para isso. Havia qualidade para ir jogando, não para ser jogador de futebol [ri-se de novo].

O que é preciso para alguém ser scout? É preciso estudar?
Não é bem estudar, é mais ter conhecimento, não só dos comportamentos em jogo, mas também acredito que tem de perceber a condição humana. Podes ter um futebolista a fazer um jogo miserável, mas, pela atitude dentro e fora de campo, saber que tem ali qualquer coisa. Não é só olhar e ver se este gajo é bom ou mau. Não, tens de ir a fundo, sempre, em todas as vertentes. É muito importante saber como é um jogador fora do jogo. Temos muito bom ambiente na Dinamarca e não podemos ter uma maçã podre, como dizia um ex-presidente do Sporting. Acredito que a parte humana é muito importante.

Mas não é imprevisível saber como irá um jogador reagir, por exemplo, se estiver um mês e meio sem jogar porque há alguém melhor na sua posição?
Há jogadores que "morrem" completamente. Aí, os treinadores podem dar uma ajuda, mas é sempre complicado, porque tens um jogador que não joga, depois não dá o máximo nos treinos porque sabe que não está a jogar, depois, como não dá o máximo, também não vai jogar. Dá para ver, em jogadores muito bons, que simplesmente não se adaptaram à realidade, daí o meu receio com alguns jogadores portugueses. Óbvio que ninguém me cobra isso, mas, imagina que começo a levar portugueses para o clube e nenhum rende? Tem de ser bem escolhido. O Marian tem corrido bem, este ano não jogou tanto, foi mais o ano passado, mas tem 20 anos e está com quase 50 jogos na segunda liga. As pessoas estão contentes. O Liam Jordan [sul-africano, ex-Sporting B] é dos melhores jogadores do plantel. Se for assim, nunca vão dizer nada. Mais vale arriscar só com muita certeza.

Já aconteceu o contrário?
Tivemos um jogador muito interessante [Pablo Arboine], que agora está na seleção da Costa Rica, que esteve dois meses no clube e praticamente não jogou. Não se adaptou à língua. Veio da Noruega, emprestado pelo Sarpsborg, o que ainda é mais estranho. Só falava espanhol, eu era uma ajuda, o treinador adjunto que tínhamos na altura, o Daniel [Gonçalves], era outra ajuda, mas, pronto, o treinador também não apostou nele. O jogador saiu, voltou a jogar e regressou à seleção. Como veio da Noruega, não me passou pela cabeça que não se adaptasse. Ele tem qualidade, pura e simplesmente não se adaptou. Também não tinha jogado muito na Noruega, mas estava num clube com orçamento brutal para jogar a fase de grupos da Liga Europa. Já lá estava há cerca de oito meses, pensei que já estava minimamente adaptado, pelos vistos não, mas não quer dizer que não tenha qualidade. Tanto tem que está na seleção outra vez.

Mas as pessoas com que falaste sobre ele não te avisaram?
Recomendaram-me a contratação. Era precisamente o que precisávamos na altura, um central rápido e agressivo, às vezes um pouco agressivo em demasia nos treinos [ri-se]. A pessoa que me deu a recomendação não mentiu, ele, de facto, era rápido, era agressivo e era aquilo de que necessitávamos. Não tenho nada a dizer sobre a pessoa, era bom miúdo e humilde, ainda hoje falo com ele. Foi mesmo uma questão de adaptação e de falta de aposta do treinador, também temos que ser honestos. Não sabemos, caso tivesse jogado, se se teria adaptado mais depressa. Não estou a querer culpar o treinador, estou a dizer que é uma das vertentes para analisar este falhanço.

Na Dinamarca há mais paciência e dão mais tempo a quem chega de fora?
Sim, muito mais. Eles costumam dizer que, no sul da Europa, basta duas derrotas e mudam tudo. E é verdade, não tão ao extremo, mas é verdade. Na Dinamarca há muito mais paciência. São pessoas organizadas, fazem projetos para tudo e seguem isso à risca. Trocámos de treinador a meio da época, o que não é uma coisa muito normal para o nosso clube - foi apenas a segunda vez em 17 anos, com este presidente. Mas foi uma coisa ponderada e o próprio treinador reconheceu que não conseguia. Teve tempo, a época passada já não tinha corrido bem e continuou a ser o nosso treinador. Há muita paciência.

@ https://tribunaexpresso.pt/entrevistas-tribuna/2020-02-07-Sergio-Cecilio-e-diretor-de-scouting-na-Dinamarca-O-portugues-faz-treinos-relaxados.-Aqui-um-amigavel-parece-a-final-da-Champions
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Já tinham um perfil definido quando foram buscar este treinador?
Sim, temos sempre, mas, neste caso, foi diferente. Achávamos que precisávamos de uma liderança forte, de uma pessoa identificada com este campeonato, alguém que conhecesse a realidade da Dinamarca, que falasse dinamarquês - apesar de fazer tudo em inglês, porque temos jogadores estrangeiros - e ele tem isso tudo. É lituano [Auri Skarbalius], mas jogou muitos anos na Dinamarca. Para aquilo que precisávamos no momento, enquadra-se perfeitamente.

Mas, então, quais foram os pontos do perfil padrão que não tiveram em conta?
A única questão é a idade, porque normalmente optamos por treinadores jovens e este é um bocado mais velho [46 anos]. Mas acabou por ser quase tudo dentro dos parâmetros.

E qual é a forma de jogar que querem para o clube?
Normalmente, mais em posse, mais sul da Europa. Mas, neste momento, vamos optar por pressão mais alta, com a equipa subida, porque, dentro de campo, a equipa não estava muito coesa e estamos a precisar de fazer golos. É óbvio que poderemos sofrer mais, mas, se marcarmos mais do que eles, não haverá problema. Vamos ter um futebol mais atacante do que é normal. Com o treinador anterior tínhamos muita posse, muitos passes durante o jogo e poucos remates. Mas o estilo de jogo do clube é mais técnico, com muita posse de bola, mas com mais remates do que os que estávamos a ter. Na Dinamarca, os jogadores são mais tecnicistas do que se pensa, não se vê tanto porque eles só saem do país para sítios onde ganhem mais dinheiro. Não vês um dinamarquês a vir para um clube da primeira liga portuguesa para se arriscar a não receber. Já tem uma boa vida na Dinamarca e pode lá ficar sossegado. Prefere ir para a Alemanha ou para Inglaterra.

Perguntei-te pela forma de jogar porque, em Portugal, ainda vemos muitos clubes a trocarem de treinador a meio da época, com um estilo de jogo que não tem nada a ver com o anterior.
Este, como disse, já estava identificado com o clube e já subiu por duas vezes à Superliga a jogar como vamos jogar agora - mas, quando lá chegou, continuou a jogar assim e desceu [ri-se]. Mas, pronto, pode ser a solução para agora. É o que vai tentar fazer.

O que acontece quando vais observar jogadores a um dos clubes do projeto?
Agora vêm três jogadores do nosso clube no Gana. Fui lá com um ex-treinador do clube, que agora está nesse clube, o Interallies, que pertence à Capelli, e escolhemos os três melhores. Não os conhecia, fui lá, estive três semanas no Gana, vi treinos, jogos, estive com eles e fiz todo o processo de scouting.

Como és recebido pelos jogadores nessas alturas?
Eles gostam e vêm isto como uma maneira de saírem para a Europa. O treinador que lá está, Henrik Lehm, tem um grande passado, é instrutor do nível UEFA Pro, na Dinamarca, e tem muita experiência. Tem muitos anos de futebol, aprendo muito com ele e chegámos à conclusão de que eles eram os três melhores jogadores. A adaptação será muito difícil, vão diretamente do Gana para a Dinamarca, se fosse para Portugal ou Espanha talvez fosse mais rápida. Os jogadores já estão inscritos, vão para a equipa principal, dois têm 20 anos e um tem 18, mas não estamos a contar com eles. Podemos ter uma boa surpresa, mas vamos dar-lhes tempo para se adaptarem bem.

Num caso destes, o clube fará alguma coisa diferente para recebê-los? Arranjar uma casa só para eles?
Não, até porque isso ia isolá-los, convém ficarem com os outros. A minha principal preocupação não é com aquilo que farão em campo, mas as pequenas questões, como ter alguém a cozinhar para eles. O que me preocupa é que as coisas fora de campo estejam bem para que, depois, dentro de campo, as coisas possam resultar. Porque qualidade eles têm, bastante.

Não pensaram em arranjar uma espécie de ama-seca para os ajudar?
Ama-seca sou eu e os outros jogadores [ri-se]. Temos que ser, todos têm um papel a desempenhar e daí ter dito que o ambiente é muito importante. Toda a gente ajuda no clube e as pessoas estão envolvidas em todas as áreas. Além dos 90 voluntários que temos a fazer de tudo um pouco, como ir buscar jogadores ao aeroporto, e até a mim, temos uma comunidade muito forte. Em dias de jogo temos cerca de 70 voluntários a ajudar, a quem damos a refeições e muitas vezes organizamos festas. Não é muito normal em Portugal.

Há pouco tempo perderam o Daniel Gonçalves, que era treinador adjunto, para o Santos, do Jesualdo Ferreira.
Foi muito mau para o que queríamos para o clube e para o projeto, mas temos que compreender. Foi aprender com o Jesualdo, foi para um clube muito grande, mas fica-nos sempre um bocadinho atravessado na garganta, como sei, porque conheço bem o Daniel, também lhe custou. Esteve três meses connosco. Saiu de uma maneira correta e terá sempre a porta aberta. Era adjunto, responsável pela preparação física e analista. Mas era sempre mais do que isso, como toda a gente no clube, integrava-se perfeitamente nos valores do clube, daí haver muita preocupação com o scouting fora de campo. Para este projeto, também vou recomendar pessoas que conheço e em quem confio, tal como os dinamarqueses o fazem. Tem que ser alguém que conheça os valores do clube e que queira crescer com o clube e o resto do projeto.

Imaginas-te a ficar muito tempo no HB Køge?
Sim, neste projeto imagino-me muito tempo. Não sei se será sempre neste clube, se noutro lado, mas vejo-me nisto por bastante tempo, desde que eles queiram [ri-se].

Do que conheces, há diferenças entre ser diretor de scouting num clube dinamarquês e num português?
Não penso que haja, há é mais envolvência no trabalho do dia-a-dia do clube. Porque, se calhar, um diretor em Portugal está mais na área dele. Eu faço de tudo um pouco e não me estou a lamentar, gosto disso. Assisto a todos os treinos da equipa principal, às vezes aos treinos da formação, posso dar-me ao luxo de fazer isso porque estou lá sozinho. Até já assisti aos jogos da equipa feminina e só agora vou começar a trabalhar também nessa área. Até aí vamos olhar para Portugal. Portanto, envolvo-me muito mais. Não o digo como lamento, sim com algum orgulho, mas ajudei a construir as bancadas que temos de substituição no campo, enquanto o estádio novo não é acabado. Não tenho qualquer tipo de problema com isso, até me sinto bastante valorizado pelas pessoas por ter ajudado em várias áreas. Desde que seja para o bem do clube, faz-se tudo.

E tempo livre?
Vejo futebol [ri-se]. Tento ver a liga portuguesa e, quando posso, ando muito de bicicleta. Digo-lhes muitas vezes que queria vê-los a andar de bicicleta em Lisboa, com todas as colinas. Mas, sim, tenho-me dedicado a isto a 100%.

@ https://tribunaexpresso.pt/entrevistas-tribuna/2020-02-07-Sergio-Cecilio-e-diretor-de-scouting-na-Dinamarca-O-portugues-faz-treinos-relaxados.-Aqui-um-amigavel-parece-a-final-da-Champions
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enquanto isto a administração da SAD, equipa técnica e os olheiros/scouts do SCBraga andam a fazer o quê?  ::) ::) ::) ::)
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José Boto, o scout dos craques da Luz: "Todos os domingos, eu e o Rui Costa festejávamos as derrotas do Saragoça, para irmos buscar o Aimar"
José Boto não é um nome que, por si só, diga muito aos adeptos. Mas o caso muda de figura quando se associa este scout de 52 anos a outros nomes: Witsel, Markovic, Fejsa, Grimaldo, Zivkovic... Depois de 11 anos na Luz, o ex-diretor do departamento de scouting do Benfica, reconhecido mundialmente como um dos melhores no sector, mudou-se para o Shakhtar Donetsk, na Ucrânia, onde vai trabalhar com outro português, o treinador Paulo Fonseca, de quem diz ser admirador. E o mercado de verão está aí à porta


Quero ser scout. O que faço?
[risos] Eh pá, essa é a pergunta que mais me fazem. Todos os dias recebo mensagens com isso e é muito difícil responder. Se alguém quer ser treinador, pronto, vai tirar o curso. Se quer scout, já é mais complicado, embora já haja aí alguns cursos, mas que não são garante de nada, nem te dão qualquer habilitação específica para seres scout. Há um deles que pelo menos dá uns estágios, que é normalmente aquilo que aconselho às pessoas, porque assim pelo menos já entram no meio. Claro que isso não é garantia de nada, até porque é um meio onde os clubes procuram gente com experiência e com muito networking, que é algo fundamental nisto. Não é um mundo fácil onde entrar.

É preciso experiência prática, mas é difícil tê-la.
Sim, não dá para tê-la sem trabalhares nisto. Como é óbvio, há sempre que começar por algum lado. Normalmente se os clubes tiverem de escolher entre uma pessoa nova, que nunca fez isto na vida, por mais boas ideias que tenha, e entre uma pessoa que tenha experiência prática, normalmente preferem a pessoa com experiência prática, porque o scouting tem muito a ver com a experiência que vais adquirindo ao longo do tempo e com o networking, que te permite chegar mais rápido e de forma mais fácil às coisas. Embora em Portugal também não haja muitas pessoas com experiência - se calhar até é dos países onde é mais fácil para pessoas que não têm experiência na área entrarem num clube.

E antes disso também é preciso ter um bom entendimento do jogo?
Convém ter [risos]. Embora a observação de jogadores seja um pouco diferente da observação normal de um treinador ou de um observador, que quer ver os comportamentos da equipa. Aqui tens de partir um bocadinho o jogo, tentar tirar o jogador daquilo que é o contexto tático da equipa, para tentares perceber o que o jogador vale e o que podes transferir para a tua equipa, para aquilo que tu procuras. Portanto, não podes olhar tanto para os comportamentos táticos do jogador, porque esses são muitas vezes condicionados por aquilo que o treinador lhe pede. Tens de tentar perceber o jogador naquilo que é seu, embora isto não seja uma coisa linear, como é óbvio. Os jogadores também são muito daquilo que os treinadores lhes vão dando, não é?

Quando vais ver um jogador ao estádio, qual é a primeira coisa que tentas ver?
Normalmente aquela malta mais antiga - e eu também já sou um bocado dessa malta [risos] - costuma dizer que se vê logo qualquer coisa no pisar do jogador, na forma como se movimenta. Muitas vezes isso tem importância, porque hoje em dia olhas para muitos jogadores que parecem robôs, não só a andar, mas na coordenação motora que têm. Se reparares, aqueles jogadores que têm mais talento têm até uma forma de andar diferente. Mas é óbvio que não é por aí que olhamos [risos]. O que me chama mais a atenção num jogador é a relação que tem com a bola e depois o entendimento do jogo, se é inteligente, se entende a movimentação dos adversários, dos colegas... Isso é que são as coisas que me saltam mais à vista. Acredito que haja pessoas que olham para outro tipo de características para as quais não olho e não dou importância, mas para mim estas duas são as mais importantes.

Quando estás a ver um jogo com outros dez scouts, veem coisas diferentes no mesmo jogador?
Sim, completamente. Nós chegamos a estar rodeados por 70 ou 80 scouts nos torneios, como no Europeu sub-19 que esteve a decorrer agora, por exemplo. Se fores lá ver, metade da bancada estava cheia de scouts. É óbvio que as pessoas olham para o jogo e para o jogador de formas completamente diferentes. Aquilo que te parece bem a ti, a outro já não parece tão bem. Depois também depende muitos dos campeonatos. Se falares com um scout francês ou inglês, olham para um determinado tipo de coisas...

O poderio físico?
Exatamente. Nós às vezes até costumamos brincar com os scouts ingleses, o jogo ainda nem começou e nós já começamos a dizer quais é que eles vão achar que são os melhores jogadores - os mais altos e os mais fortes. Fazemos isto na brincadeira, claro, e eles aceitam perfeitamente, porque realmente dão muita importância a esse tipo de coisas. Agora já mudou um bocadinho, até porque o [Manchester] City já quebrou alguns tabus que havia, mas, se falares com um scout inglês, normalmente a parte física conta muito.

Ingleses e franceses são assim - e depois como divides o resto da Europa?
Sim, os franceses também olham muito para isso, mas depois também depende um bocadinho do clube, porque há clubes que são diferentes, mesmo dentro de campeonatos que têm determinadas tendências. Por exemplo, em Espanha preferem jogadores inteligentes, tecnicamente evoluídos, que se associem bem uns com os outros, mas dentro do campeonato espanhol também há um ou dois clubes que não pensam isso, pensam de forma diferente. Agora, no geral, os ingleses e franceses são os que olham mais para as questões físicas, para o tamanho, para a agressividade...

Portugueses e espanhóis olham mais para a técnica?
Os espanhóis. Os portugueses já não digo tanto. Depende muito do clube e das pessoas. Acho que não nos podemos comparar aos espanhóis nisso.

Utilizando este Europeu sub-19 como exemplo, normalmente estarias lá como scout do Benfica. Quem seriam os outros clubes portugueses representados?
Normalmente éramos poucos. Era o Benfica, o FC Porto, o Sporting e o Braga. Ponto. Nos últimos anos, o Benfica marcou em presença em tudo o que era competição internacional "grande", ou seja, desde os Europeus de sub-17 até aos Mundiais de sub-20. O FC Porto também esteve sempre presente. O Sporting tem alturas em que esteve presente e outras em que desapareceu um bocado. O Braga nos últimos anos também tem trabalhado bem nesta área e é natural vermos scouts do Braga nas grandes competições.

Faltam scouts nos outros clubes portugueses porque ainda não perceberam a importância do cargo ou porque não querem gastar dinheiro?
Se calhar se lhes perguntares ainda vão dizer que não têm dinheiro, mas penso que é um erro pensarem assim, porque um departamento de scouting ajuda o clube a poupar dinheiro. Ajuda-te a não comprares mal, a comprares segundo aquilo que o treinador quer... E os gastos também não são assim tão grandes como as pessoas possam pensar. Aliás, Portugal é talvez o único país da Europa que tem alguma importância no futebol e em que há equipas que estão na 1ª divisão e não têm gabinetes de scouting. Acredito que até possam ter alguém que veja isso por vídeo, mas não têm scouts presentes nos estádios regularmente. Se fores a Espanha, tanto os clubes da 1ª divisão como da 2ª divisão têm scouts nos estádios, na Alemanha também, Itália, França, a própria Holanda... Todos os clubes têm gabinetes de scouting. Em Portugal, tirando estes quatro clubes, não se vê ninguém. Nos estádios não estão.

Qual é a diferença de recursos entre o Benfica e os clubes europeus?
Nestes onze anos que passei no Benfica tive a sorte de contactar com muita gente e conhecer os gabinetes de scouting de praticamente todos os clubes. É óbvio que os clubes em Portugal, não só o Benfica, em termos de recursos, se compararmos com os ingleses... Eh pá, se te disser que o Manchester tem 40 e tal scouts e o Benfica tem quatro ou cinco, acho que dá para perceber que há uma diferença muito grande. Mas, se organizares bem um departamento de scouting, não precisas de ter muita gente, nem sequer precisas de ter gastos astronómicos, como se calhar as pessoas pensam que tem. Não me parece realmente que os gastos sejam uma desculpa para não ter um gabinete de scouting, porque isso vai ajudar-te a poupar. A diferença entre acertares e errares num jogador é essa. Ou teres um conhecimento mais profundo sobre o jogador. Claro que tenho ideia como se faz scouting em alguns clubes: é um empresário que fala de um jogador, dá-se uma vistas de olhos e pronto. Não é a melhor forma de se conhecer um jogador.

Quando chegaste ao Benfica, em 2007, já havia departamento de scouting?
Não. Quando entrei foi precisamente para começarmos a criar o departamento. Nessa altura o scouting era basicamente feito pelo treinador e nos moldes em que te estava a dizer, com os agentes a entregarem vídeos dos jogadores..

@ https://tribunaexpresso.pt/no-banco-com-os-misters/2018-08-04-Jose-Boto-o-scout-dos-craques-da-Luz-Todos-os-domingos-eu-e-o-Rui-Costa-festejavamos-as-derrotas-do-Saragoca-para-irmos-buscar-o-Aimar
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(S)oon(C)hampion(B)raga

O best of de...
[risos] Exatamente, aqueles highlights em que os gajos marcavam o mesmo golo cinco vezes. Era um bocado assim. Na altura em que entrei, nós criámos o departamento e começámos a fazer muita observação in loco, porque também não havia as tecnologias que existe hoje.

Quantas pessoas estavam no departamento?
Era eu, era o Rui Águas, era o Pietra, era o Jorge Gomes, que ainda continua, e o Chico [Francisco Oliveira], no Brasil. Essa estrutura foi ficando a mesma, depois o Rui e o Pietra saíram e entraram o Abel [Silva] e o Mauro [Mouralinho]. É uma estrutura pequena mas funcional.

Antes de entrares lá, que experiência tinhas em scouting?
Fui treinador e enquanto treinava já fazia algumas colaborações com o Sporting, com o Aurélio Pereira. A minha experiência era essa, no futebol juvenil. Enquanto treinador ia vendo alguns jogadores e ia indicando ao Sporting. Depois, quando fui para o Alverca, já fazia um scouting mais sério, para a equipa profissional, indo ver jogadores ao vivo ou vendo DVDs que nos enviavam.

Há uma grande diferença entre ver um jogador ao vivo e ver num DVD?
Faz alguma diferença. Quando queres observar um jogador, principalmente no que diz respeito aos comportamentos sem bola, num jogo televisionado, seja num DVD ou através dos vários softwares que há hoje em dia, Wyscout ou InStat, não consegues ver esse tipo de coisas, porque normalmente a câmara acompanha o centro do jogo. Ao vivo consegues perceber tudo.

A transição de treinador para scout foi fácil?
Não foi muito fácil. Não só pela mudança na forma como tinha de começar a olhar o jogo, mas também na falta do contacto diário com o treino - tudo isso custou um bocado. Mas passado um ano ou dois já me tinha esquecido [risos].

Na época em que entras no Benfica, o treinador era o Fernando Santos...
[interrompe] Até te digo mais: o treinador era o Fernando Santos, eu vou ao Brasil ver uns jogadores e quando volto a Portugal já era o Camacho [risos].

Que tipo de relação tem um departamento de scouting com o treinador?
Isso depende muito da estrutura do clube. Há clubes onde a proximidade é grande. Por exemplo, agora no Shakhtar, a proximidade entre o treinador e o diretor de scouting é grande. Mas há outros clubes onde há uma distância maior, porque existe um perfil de jogador que não é do treinador, é do clube, e nós reportamos mais à SAD do clube do que ao treinador. É óbvio que há sempre relação entre o treinador e o scouting, mas o nível de proximidade depende muito do clube.

No Benfica não havia tanta proximidade com o treinador?
Não era uma relação tão próxima. Havendo reuniões com o treinador, não era um contacto diário. Tínhamos um perfil de jogador bem definido pela administração da SAD e era o que buscávamos, independentemente do treinador. Depois, claro que tentávamos adaptar algumas coisas àquilo que eram as ideias do treinador.

Nestes 11 anos que passaste no Benfica, como é que o departamento evoluiu?
Tal como o scouting a nível mundial, também o departamento do Benfica evoluiu muito, principalmente no que diz respeito à utilização de novas tecnologias, como o Wyscout e o InStat, plataformas que te permitem ver qualquer jogo, seja aqui seja no Bangladesh. Essas plataformas permitiram ter os jogos completos passadas 24 horas após a realização dos mesmos e depois isso ainda evoluiu mais, porque hoje tu consegues, se quiseres, ver apenas os eventos em que um jogador intervém num jogo. Por exemplo, queres contratar um lateral e já o viste várias vezes, mas ainda tens alguma dúvida em relação à qualidade dos cruzamentos dele. Nessas plataformas, carregas num botão e consegues logo ver todos os cruzamentos que ele fez durante uma época. Ou seja, consegues ver e dividir todas as ações do jogador, num jogo ou numa época. Tudo aquilo que podes imaginar que o jogador pode fazer com bola, podes ver. Carregas lá nuns botões e vês tudo o que queres.

Antigamente tinhas um papel e uma caneta...
Íamos aos estádios com um papel e uma caneta na mão ou então esperavas por um DVD dos agentes, mas esses só tinham coisas boas dentro, não é? Para teres uma ideia clara do jogador, sem te sentires enganado, porque nos DVDs só vinham os melhores jogos dos gajos, tinhas obrigatoriamente de ir aos estádios. Atenção, acho que hoje também se deve obrigatoriamente ir aos estádios, só que estas tecnologias já te permitem tomar decisões de forma mais rápida.

Normalmente vês quantos jogos de um jogador antes de contratá-lo?
Depende muito.

Há um mínimo indispensável?
Não. Quando eles são muito bons não precisas de ver muito e quando eles são muito maus também não. Olhas para eles e vês logo [risos].

Há algum que tenhas visto e pensado logo à primeira "temos de ter este"?
Sim, posso dar-te um exemplo de um jogador que depois até nem singrou muito, mas que aqui teve uma época excelente. Não foi preciso ver muito, vi só um jogo dele ao vivo e fiquei logo encantado com o que vi. Depois ainda vi mais uma ou duas vezes, até porque na altura já tínhamos o Wyscout, mas foi mesmo só por descargo de consciência, porque sabia que aquilo que tinha visto já me chegava perfeitamente. Era o [Lazar] Markovic.

É engraçado, porque ele chega, faz uma grande época...
[interrompe] É vendido e sai.

E depois volta a Portugal, para o Sporting, e passa algo despercebido.
Isso é complicado, mas é um tema interessante. Em Portugal... quer dizer, não é só em Portugal, é em toda a Europa, temos a mania de dizer logo "aquele jogador foi um flop". Mas isso muitas vezes não tem a ver com a qualidade do jogador, tem a ver com os contextos em que os jogadores são inseridos e principalmente com uma coisa que para mim é fundamental, que é a confiança do jogador. É o treinador que tem de lhe dar essa confiança, porque ele do clube já tem a confiança, porque foi contratado. Mas depois é o treinador que o mete a jogar ou não. E normalmente quando os jogadores sentem essa confiança por parte do treinador têm um rendimento sempre superior a outro que não sente essa confiança, porque se um jogador sente que o treinador não confia muito nele, cada vez que vai jogar, vai jogar sobre brasas, porque quer mostrar que tem valor. Temos casos como o Markovic, que chega aqui e tem um rendimento excelente e depois a partir daí a carreira dele foi a pique. Para mim, não é por falta de qualidade, são contextos. Se calhar os contextos para onde ele foi não foram os melhores para ele. Mas também acontece o contrário: há jogadores que chegam aqui e não têm a confiança dos treinadores mas depois saem daqui e conseguem. Estou a lembrar-me, por exemplo, do Cristante e Jovic, jogadores que chegaram aqui muito jovens e que as pessoas rotularam logo de flops, porque não começaram logo a jogar. Depois eles vão perdendo confiança e a partir daí é muito difícil terem um rendimento bom e mostrarem aquilo que as pessoas viram neles.

Esses dois casos que mencionaste foram as tuas maiores desilusões?
Não digo que sejam desilusões, porque eles acabam por dar, não é? Tanto o Cristante como o Jovic. Em termos daquilo que observei, não considero que sejam uma desilusão, porque estão a dar agora. Mas há um jogador que para mim foi uma desilusão: o [Filip] Djuricic. Foi um jogador em que eu, pronto, não só eu, mas nós todos apostávamos muito, depois de tudo o que tínhamos visto nele. Tínhamos a ideia de que ia ser um craque e depois não foi. Nem neste contexto nem em mais nenhum. E quando assim é também serve de reflexão.

Mas não dá para perceber ou dá?
Não é fácil, sinceramente. Tentamos perceber, mas é difícil. Agora, quando os jogadores não dão aqui e não dão noutro sítio, aí sim é preocupante.

Quer dizer, na tua perspetiva não é preocupante, porque então a culpa é dele.
Sim, mas se calhar nós devíamos ter percebido isso antes.

Quando vais ver um jogador, só podes saber como ele é até determinado ponto ou também tentas saber coisas sobre a vida pessoal, por exemplo?
Essa é outra questão importante. As pessoas acham isso, mas não percebem bem como se trabalha hoje em dia e o que é o negócio do futebol moderno. Se calhar acham que devíamos ter um conhecimento profundo daquilo que é a vida pessoal e a parte psicológica dos jogadores, mas isso é completamente impossível nos dias de hoje. Tu para perceberes isso tens de te aproximar do jogador e se fizeres isso estás a dar indícios de que estás interessado e isso às vezes é a diferença entre pagares €1 milhão ou €5 milhões. Há pessoas que às vezes me dizem: "Mas não eram bom fazerem uma entrevista ao jogador, para perceberem a parte psicológica?" Era, mas isso é impossível. É como vê-lo treinar. Hoje é inconcebível tu conseguires ver um treino de uma equipa, porque os treinos são todos fechados. O que consegues - e agora voltamos ao início, porque é por isso que muitas vezes os clubes preferem ter pessoas com boas redes de contactos - é perguntar a alguém da equipa técnica ou a alguém próximo como é que ele é no treino, como é a vida pessoal... Mas é sempre informação obtida através de terceiros, não és tu que estás ali a ver em primeira mão, porque isso é impossível.

Depois de veres um jogador que achavas que era indicado para a equipa, era fácil convencer o presidente do Benfica ou era preciso escrever muitos relatórios antes?
Isso depende, depende do jogador, depende do clube. Quando falas com um presidente o discurso tem de ser diferente daquele que tens com um treinador e é óbvio que há sempre relatórios. No caso do Benfica, havia uma relação de proximidade muito grande com o presidente, o que é, para mim, um dos fatores de sucesso do Benfica nesta área. Nunca aconteceu enviar um relatório e só dez dias depois é que liam o relatório, por exemplo. Não, o relatório era enviado e lido no próprio dia, havia um telefonema para conversar, havia uma relação muito próxima que permitia alguma rapidez no avançar para uma contratação.

Mas no início, quando ainda não tinham sido feitos muitos negócios de sucesso, como é que explicavas a alguém que ele tinha mesmo de contratar aquele jogador?
Isso é sempre uma questão de confiança, que se põe a toda a gente que trabalha nesta área, até ao Monchi [risos]. Quando mudas de um contexto onde estás inserido, onde as pessoas já têm confiança em ti, para outro diferente, é natural que tenhas de mostrar serviço e normalmente até teres uma prova de sucesso há sempre alguma desconfiança. No Benfica, como é óbvio, ao princípio havia alguma desconfiança, mas a partir do momento em que houve algumas situações que resultaram bem, não só desportivamente mas financeiramente, a confiança obviamente cresceu e depois já não era preciso explicar tanto por que razão é que aquele jogador era bom ou não. Tudo isso depende também muito da visão do clube, se quer jogadores só para o rendimento desportivo ou se também quer valorizá-los mais tarde.

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Numa conferência em que te ouvi a relatar algumas experiências, disseste que tinhas visto o Eden Hazard com 16 anos. É difícil contratar um rapaz de 16 anos?
Isso aí é que é mais difícil. Porque vês que há um jogador que tem um talento enorme, mas também sei que é difícil convencer um presidente a pagar um balúrdio por um miúdo de 16 anos que, por um lado, não está pronto para jogar na equipa principal, mas por outro lado sabes que se não o fores buscar naquela altura nunca mais o vais conseguir ir buscar. E esse é hoje o grande desafio dos clubes - não daqueles clubes que podem pagar €60 milhões pelo Vinicius ou pelo Rodrygo, brasileiros com 17 anos, como fez o Real Madrid agora. Nós sabemos que há jogadores que só dá para ir buscar naquele momento, só que naquele momento eles ainda não estão prontos para jogar na equipa principal e não estando prontos para jogar na equipa principal corres sempre o risco da imprensa e do público achar que são flops: "Então para que é que pagaste €10 milhões por um miúdo de 16 anos que não joga na equipa principal?" Mas se não pagares naquela altura, passa um ano e já não consegues ir buscá-lo. Dou-te o exemplo do Rodrygo, o miúdo do Santos que o Real Madrid comprou por €60 milhões. Um miúdo que nasceu em 2001, atenção. 2001. Esse miúdo, para teres uma ideia, em novembro do ano passado custava €15 milhões. O que, para um miúdo de 2001, já é muito dinheiro, não é? E tu convenceres alguém que tem de pagar €15 milhões por um miúdo de 2001 é complicado. E quando convences, passado um mês ou dois, se calhar esse jogador já custa €60 milhões.

Iam buscar o Rodrygo?
[risos] Falou-se disso. Mas percebo que pagar €15 milhões por um miúdo que na altura até tinha 16 anos... Tu dizes assim: este miúdo chega aqui e joga na equipa do Benfica? Ou do Sporting ou do FC Porto, tanto faz. Com 16 anos, não sei. Pode dar ou não dar, o treinador pode ter medo de pô-lo a jogar e depois pagas €15 milhões por um jogador que passado uns meses toda a gente começa a dizer que foi um flop porque não joga.

E a partir do momento em que entra um clube como o Real Madrid na corrida, já não há hipótese?
Não. Ou os clubes ingleses, por exemplo. Por isso é que no scouting em Portugal tens de ser muito rápido e tens de correr riscos. Porque se queres ter a certeza... O caso do Rodrygo é um bom exemplo. Ele era um miúdo que jogava na equipa sub-20 do Santos e ali já vias que ele tinha muita qualidade. Mas quando é que tens a certeza que aquele miúdo realmente pode jogar a um nível mais elevado? Quando ele começa a jogar na equipa principal do Santos. A jogar e a fazer a diferença. Tu aí percebes claramente, mas aí percebes tu e já perceberam todos os clubes do mundo [risos]. Aqui a questão que se coloca é tu correres o risco na altura exata, pelos valores que são. O caso, por exemplo, do Jovic ou do Zivkovic, para falar de jogadores que vieram para o Benfica, são assim: ou ias buscar naquela altura ou então se deixasses passar mais algum tempo o valor deles ia aumentar. Depois o que é que acontece: chegam aqui e são muito novos e às vezes a adaptação não corre como se esperava. Se calhar não estão prontos ainda para jogar a um nível principal e depois lá está: "Eh pá, este é um flop". Tenho muitas dúvidas de que o Jovic não venha a ser um dos melhores pontas de lança do mundo.

Tem muito a ver com essa pressão de se catalogar logo de flop?
Um bocado. Acho que às vezes a gestão que é feita dos jogadores - e aí não sei se a culpa é dos clubes, se é do entorno do jogador ou da própria comunicação social - não é boa, porque se eleva as expetativas para patamares demasiado altos e isso faz com que os adeptos fiquem à espera que um jogador de 18 anos chegue aqui e seja o melhor marcador da Liga portuguesa. Depois não é e é logo um flop. Por outro lado, também tens outra coisa em que os clubes portugueses têm uma desvantagem muito grande em relação aos outros clubes: o projeto que podes apresentar a um jogador destes. Ou seja, normalmente quando estamos a falar deste tipo de jogadores, que são jogadores internacionais, que os clubes já os viram nos Europeus ou Mundiais, quando vais falar com um jogador desses, normalmente ele já tem proposta de algum clube inglês ou alemão, por isso o projeto que tu lhes apresentas não pode ser... Deixa-me dar um exemplo que é mais fácil para as pessoas perceberem: o Jovic quando chegou ao Benfica era júnior. Já jogava na equipa sénior do Estrela Vermelha e já havia vários clubes alemães interessados nele, que lhe davam um projeto de equipa B, com alguma projeção para a equipa A, com salários muitos mais elevados do que aqueles que nós podíamos pagar. Então, como é que tu consegues convencer um jogador destes? Dando-lhe um projeto de equipa A. Só que muitas vezes eles não estão preparados para isso e quando chegam à equipa A... E depois quando os baixas para uma equipa B a motivação deles também vai abaixo, porque não era isso que eles esperavam. "Se fosse para ir para a equipa B tinha ido para o Dortmund", por exemplo. Isso depois afeta muito o rendimento deles em campo.

É muito solitário ser scout?
Sim. É solitário porque passas muito tempo longe da família e dos amigos.

Não há dias nem horários?
Não. Vives em hotéis e em aeroportos, a maior parte das vezes sozinho. Por outro lado, é provavelmente a profissão no futebol na qual as pessoas mais se ajudam. Não há rivalidades entre scouts de vários clubes. Damo-nos bem e quando estamos em sítios juntos acabamos por ser a companhia uns dos outros. Mas não deixa de ser uma profissão solitária, porque nunca tens aquele dia normal em que sabes que às sete da tarde sais e vais ter com a tua família. Passas muito tempo longe e vais quase sempre sozinho, viajas sozinho, almoças e jantas sozinho...

E nem sempre corre bem.
Ah, isso então 'n' vezes. Estás sempre fora do teu meio, da tua zona de conforto, com carros alugados, em sítios para onde nunca foste na vida, então isso normalmente proporciona-te sempre aventuras engraçadas. Por exemplo, uma vez voei para Paris e depois fiz 300 km propositadamente para ir ver um jogador a Nantes. Cheguei lá e ele estava a aquecer. Fui beber um café e quando voltei o jogador já não estava lá. E eu penso: "Onde é que está o único jogador que vinha ver?" Lesionou-se no aquecimento [risos]. E depois voltas a fazer 300km para Paris para no outro dia apanhares o avião e foi uma viagem perdida, basicamente. Há colegas meus a quem isso aconteceu na Argentina, o que é bem pior [risos]. São coisas que nós não controlamos, obviamente. Outra coisa que me costuma acontecer, por dormir tantas noites em hotéis diferentes, é, às tantas, já não me lembrar do número do meu quarto. Já me aconteceu ir pôr a chave num número de um quarto que era o do hotel anterior e aparecer-me uma pessoa a abrir a porta para saber o que se passa [risos].

Esse tipo de questões são incontroláveis, mas se formos pensar bem nisto, um scout não consegue controlar praticamente nada. Mesmo que acredites que um jogador é muito bom, não és tu que decides se ele é contratado, e mesmo que seja contratado, não controlas a adaptação dele e não controlas se será utilizado ou não.
Sim, sim, é uma incógnita muito grande, porque a maior parte dos fatores não depende de ti, são fatores externos que não controlas. A contratação depende sempre de alguém que está acima de ti, mesmo que a palavra final seja tua em termos desportivos, mas depois há sempre a parte financeira. Depois, mesmo que seja contratado, não és tu que o vais pôr a jogar, é o treinador. E depois ainda há a questão da adaptação a um país diferente. É verdade que é uma profissão em que controlas muito pouco, a não ser a ideia que tens sobre a qualidade - ou não - do jogador.

Os jogadores sobre os quais davas aval de contratação - Witsel, Zivkovic, Markovic, etc - conheciam-te? Sabiam quem és?
[risos] A maior parte das vezes não sabem. São capazes de passar por nós no corredor e não saber. Mas também não é muito importante que o saibam.

Nestes últimos anos, começou a falar-se mais do scouting do Benfica, por ter acertado uma série de negócios.
[risos] Começou-se a falar muito, principalmente a nível internacional, principalmente pela forma agressiva como estávamos no mercado, porque chegávamos mais rápido do que os outros - ainda os outros estavam a ver e já nós os tínhamos contratado. E depois é claro que teve muito a ver com os preços pelos quais vendíamos os jogadores. Houve realmente uma altura em que tinha colegas scouts que me diziam assim: "Eh pá, nós fomos todos chamados pelo chefe a perguntar porque é que não vimos este jogador que o Benfica viu e agora vamos ter de pagar três ou quatro vezes mais por ele". [risos] Isso tem a ver com a agressividade com que os clubes portugueses - e aí não é só o Benfica, porque houve uma altura em que o FC Porto também trabalhava muito bem - se movimentam no mercado. Também porque se não for assim, de forma agressiva, depois não têm hipótese nenhuma. Sendo Portugal um país que até nem tem muita tradição no scouting, porque como já te disse há quatro clubes com scouting, a verdade é que os clubes que o tinham, neste caso mais o Benfica e o FC Porto, acabaram por ter uma visibilidade internacional muito grande, o que permite que os scouts portugueses sejam requisitados e saiam para clubes estrangeiros, como é o meu caso agora. Se falares e andares no meio, vais perceber que um scout inglês, por exemplo, demora muito tempo a tomar uma decisão e os portugueses são muito mais rápidos, com os riscos que isso acarreta, claro, para o bem e para o mal. Não precisamos de ver tantas vezes e não temos tantas dúvidas sobre o valor dos jogadores.

Achas que isso acontece porquê?
Acho que também tem a ver com questões culturais, porque nós somos mais desenrascados e achamos sempre que sabemos as coisas primeiro do que os outros.

Se calhar os ingleses também se focam mais em questões de análise quantitativa do que qualitativa?
Sim, eles também trabalham muito com isso. Mas pronto, sempre foram assim, são muito indecisos. Os jogadores têm sempre todos defeitos. Costumo dizer que quanto mais vês um jogador, mais defeitos ele tem. Porque é natural. Tu olhas para o Messi e consegues arranjar-lhe defeitos - e é o melhor jogador do mundo - e o mesmo para o Ronaldo. E eles são muito assim: olham, olham, olham, tudo ao pormenor, depois muita gente a ver, depois opiniões diversas e depois não avançam para a contratação. E depois o que é que acaba por acontecer? Chegam os últimos dias do mercado e os ingleses compram qualquer coisa [risos].

Como podem pagar...
Sim, também tem muito a ver com isso. Têm um poder económico completamente diferente. O Fulham recentemente pagou €20 milhões por um jogador e o Fulham acabou de subir à Premier League. Eles têm essa facilidade, o que lhes permite também demorarem mais tempo e comprarem mais tarde. Mas o que me faz confusão neles é que ponderam muito e depois acabam por comprar pior.

Com a tua saída, o departamento de scouting do Benfica fica bem entregue?
Sim, completamente. A estrutura mantém-se praticamente igual, entra o Pedro [Ferreira], que estava na formação e que fez um excelente trabalho, basta ver aquilo que tem sido a quantidade de jogadores que o Benfica tem lançado, não só na primeira equipa como também nessas equipas pela Europa fora. Tudo aquilo que é hoje a formação do Benfica é uma referência na Europa e isso tem muito a ver com a qualidade dos jogadores, ou seja, não há boa formação se não escolheres bem os teus jogadores. Podes ir buscar os melhores treinadores do mundo, mas se lhes meteres paralelepípedos para treinar eles não conseguem fazer dali nada. Esqueçam lá isso. Portanto, o departamento fica muito bem entregue, porque o Pedro tem uma ideia muito boa do jogo e das características que devem prevalecer naquilo que é um bom jogador.

E quais é que são essas caraterísticas que referes? Porque há uns anos o recrutamento na formação tinha como um dos critérios a altura dos jogadores, por exemplo.
Pois. Agora isso já não era assim, com o Pedro seguramente que não. O que se vai passar a seguir não sei. Em relação ao Benfica estou mais preocupado com o que se vai passar na formação com a saída do Pedro do que com o scouting no futebol profissional, porque acho que aí não vai haver grande diferença. Com maior ou menor dificuldade, o Pedro vai perceber como tem de se movimentar no futebol profissional, porque qualidade ele tem e porque o resto das pessoas continua na estrutura. Na formação, o Pedro foi nos últimos anos o responsável por estes bons talentos que o Benfica tem tido e não por jogadores grandes e altos. Aquilo que se vai passar agora é que me preocupa mais, porque não sei como é que vai ficar entregue.

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Já começaste a trabalhar no Shakhtar Donetsk?
Sim.

Qual foi a impressão, comparando com o Benfica?
Sem querer estar aqui a entrar em grandes romantismos, o Benfica é um dos maiores clubes do mundo, em termos de adeptos e do impacto social que tem, é uma coisa impressionante. Um dia estava a chegar ao Estádio da Luz, ali numa rua inclinada que tem um semáforo, e sem querer deixei descair um pouco o carro e bati no da frente. Saí, pedi desculpa e disse ao homem para preenchermos os papéis. Ele fica a olhar para mim, até que pergunta: "O senhor é o José Boto do Benfica?" Respondi que sim. E ele diz assim: "Ó homem, então vá lá trabalhar, não se preocupe, vá embora". Meteu-se no carro e foi-se embora [risos]. Conheço bem a Europa do futebol e posso dizer que não há muitos clubes com o impacto que o Benfica tem. Nisso é óbvio que o Shakhtar não tem a mesma dimensão, até porque é um clube que era de uma zona na Ucrânia e neste momento nem sequer está lá, está desterrado da sua zona natural de adeptos e daquilo que é a sua implementação social. O clube neste momento está sediado em Kiev e logo aí é uma diferença grande, porque não está na sua zona. Agora, a nível de recursos é um clube que tem pelo menos o nível do Benfica, porque é um clube completamente moderno, que até me surpreendeu a nível de tudo o que é a estrutura, para um clube que ainda por cima está fora da sua zona. Porque o clube tinha um estádio que era um dos melhores da Europa, tinha uma academia brutal e de repente teve de abandonar isso tudo e criar novas estruturas, mas tudo o que está a criar é top. E depois é um clube que nos últimos anos tem dominado a liga ucraniana, é presença assídua na Liga dos Campeões e em 2008/09 ganhou a Liga Europa.

Em termos financeiros tem mais poder do que o Benfica?
Sim, mas também tem targets diferentes. Ainda estou um bocado a perceber o clube, porque entrei há pouco tempo...

Mas já percebeste que vais ver muito Brasileirão, porque contratam muitos brasileiros.
[risos] Sim. Mas eles contrataram-me também para terem uma abrangência maior no scouting e organizarem melhor o departamento, com base de dados, para ser um clube sempre presente em tudo o que são grandes competições, tal como o Benfica estava. É óbvio que por uma questão de tradição, por algo que tem funcionado bem, o mercado brasileiro é prioritário. Se olharmos para aquilo que era agora a seleção brasileira, tinha dois jogadores que jogavam no Shakhtar e mais três que já tinham passado antes pelo Shakhtar: o Fernandinho, o Willian e o Douglas Costa. Portanto, num universo de 23 jogadores ter cinco internacionais que passaram pelo Shakhtar é um sinal de que se tem trabalhado bem nesse mercado.

Isso acontece porque é um mercado barato e com muito talento bruto?
Não é tão barato assim, porque os jogadores talentosos agora saem por €60 milhões [risos]. Mas o Shakhtar é uma boa porta de entrada para os brasileiros, assim como foi há uns anos Portugal. O clube está na Europa, tem um bom nível, joga na Champions League e isso é apelativo para um jogador. Se calhar o Shakhtar é mais apelativo para um jogador brasileiro do que para um jogador português, por exemplo.

Gostas de ver os jogos brasileiros?
Gosto, porque é talvez dos poucos sítios onde o talento ainda se sobrepõe a tudo. Os jogos são um bocadinho anárquicos em termos táticos...

É mais fácil observar um jogador assim?
É, é, porque tu vês aquilo que o jogador vale. Como o jogo não é muito controlado pelos treinadores, felizmente, tu consegues ver o jogador naquilo que é natural dele: o entendimento que ele tem do jogo, a sua qualidade técnica, as decisões que toma, que não são padronizadas, são mais o que lhe sai da cabeça... E é por isso que são um produtor de talentos como não há mais nenhum no mundo.

Na altura em que o Jorge Jesus foi para o Sporting, falou-se que ele te tinha convidado para o acompanhares. Foi assim?
Prefiro não responder. Isso são coisas que já passaram, já estão no passado.

E agora antes de anunciares que ias para o Shakhar falou-se no interesse do Manchester United.
Não, ninguém falou comigo sobre isso. Se calhar também é importante esclarecer bem isto, porque na última assembleia geral do Benfica até confrontaram o presidente com a minha saída: a decisão de sair foi minha e foi apresentada ao presidente quando já estava tomada. E queria também dizer, para que as pessoas o saibam, que o presidente, mais do que ter sido meu presidente durante estes 11 anos, é também um amigo. Portanto, quando falei com ele e apresentei a minha decisão já não havia volta a dar, porque tinha a ver com a minha vontade de sair de Portugal e experimentar outros desafios. E também tinha a ver com a possibilidade de poder trabalhar com um treinador que, em termos daquilo que são as ideias de jogo, se aproxima mais de mim - ou melhor, eu é que me aproximo mais dele - do que com os outros treinadores com quem trabalhei até agora. E também teve a ver com o projeto do clube e com a forma como mo apresentaram, através do CEO do Shakhtar, Sergey Palkin, que é uma pessoa espetacular. Quando ele me apresentou o projeto, fiquei logo apaixonado. Portanto, quando falei com o presidente, já era uma decisão tomada, não era uma questão de dinheiro, nem nada que se pareça, porque não havia mais dinheiro que me fizesse ficar. O presidente tentou demover-me, mas depois também percebeu as minhas razões para querer mudar de ares e continuamos amigos.

Gostas das ideias do Paulo Fonseca?
Sim, em termos daquilo que é a sua ideia de jogo, ele é, para mim, dos melhores treinadores portugueses - talvez o melhor mesmo. O que é diferente de ser o melhor treinador português ou não, isso já é outra coisa. O melhor treinador é aquele que ganha. É a única forma que tens de ver isso. O gajo que ganha é melhor do que o gajo que perde, pronto. Mas depois há uma questão de gosto e daquilo em que tu acreditas, e nisso o Paulo é, para mim, o melhor treinador português, porque tem uma maneira de jogar com a qual eu me identifico.

Então não gostas muito das ideias de Rui Vitória e Jorge Jesus.
São treinadores com os seus méritos, como é óbvio, mas em termos daquilo que é a ideia de jogo, estou muito mais próximo do Paulo do que qualquer treinador que tenha passado pelo Benfica desde que lá entrei.

Estavas a dizer que o melhor treinador é sempre aquele que ganha. E o melhor scout?
É difícil dizer. Se calhar é aquele que acerta mais vezes. Mas como o acertar mais vezes não depende de ti... Imagina isto: tu aconselhaste dez jogadores a um clube médio da Europa. Nenhum desses dez jogadores deu no teu clube, mas os dez deram no City, no Liverpool, etc, depois de terem saído do teu clube. Então e agora? Como é que tu valorizas o scout? Podes sempre olhar para isto de duas formas: o scout não é bom porque não percebe o que o clube dele precisa ou então é muito bom porque foi buscar jogadores de qualidade que depois têm uma projeção muito maior.

Quando falei com o Gilles Grimandi, chief scout do Arsenal, ele disse que tu eras um dos melhores do mundo.
O Grimandi é um gajo porreiro [risos]. É uma pessoa que tem uma experiência enorme, com muitos anos de scouting, sempre como braço direito do Wenger. Se calhar o trabalho dele também era mais fácil porque conhecia perfeitamente o Wenger e sabia perfeitamente o que ele queria. Se calhar o Grimandi disse isso muito pela tal rapidez de decisão. Em 11 anos já vimos 'n' jogadores a aparecerem e acertámos em muitos. Como o Hazard, que vimos com 16 anos e achámos que ia ser top mundial - e depois se ele realmente chega lá isso também te dá um certo reconhecimento por parte dos colegas. Às vezes há casos em que há colegas têm dúvidas e eu atravessava-me logo por eles e dizia que aquele ia dar, e depois se dava...

Por exemplo?
O Courtois e o De Bruyne, por exemplo. Vi-os ainda muito novos, na altura em que saltaram dos juniores para a equipa principal do Genk e ainda não eram titulares. Alguns colegas na altura tinham dúvidas, porque o De Bruyne era muito mole, não tinha intensidade e não sei quê, mas pronto, isso é normal, às vezes achamos umas coisas e às vezes outras.

Mas dá para apontar uma lista de melhores scouts do mundo, como se faz com os treinadores?
Acho que não. Tens é pessoas que são muito experientes na área e que conseguem ter uma flexibilidade grande para perceber o que os treinadores e os clubes querem, e que também têm uma capacidade para dirigir bem os departamentos de scouting, rodeando-se das pessoas certas. Se calhar é mais fácil dizeres o que é um bom chief scout do que um bom scout. Porque um scout também depende muito... Não vou dizer o nome dele, mas tenho um amigo meu que trabalhava para um clube francês de nomeada e ele dizia-me: "Eu não sou scout, eu sou fazedor de relatórios. Eu faço relatórios e depois ninguém os lê". [risos] Assim nunca sabes se essa pessoa é boa ou não, porque ninguém a ouve. Há clubes onde realmente isso se passa, há scouts mas depois ninguém lhes liga muito.

Temos agora um mês de mercado pela frente. O que te parece que os clubes portugueses podem conseguir?
Acho que, nesta altura, com o mercado em plena ebulição, o que os clubes portugueses normalmente conseguem, como têm provado nos últimos anos, são alguns jogadores que são mais-valias para a nossa liga, já com bons CVs, com experiência, e que não estão a dar e são descartados por clubes maiores. O foco é mais esse, já ninguém vai ao mercado agora para ir buscar um jovem de futuro, porque isso já houve o ano todo para ver. É altura de os clubes ficarem atentos, porque às vezes as coisas aparecem. Por exemplo, tenho uma história gira que acho que as pessoas não sabem, sobre o Aimar. Eu e o Rui Costa adorávamos o Aimar. E houve uma altura em que lhe disse: "Ó Rui, olha que o Saragoça está para descer". E ele: "Eh pá, se calhar é uma boa altura para tentarmos o Aimar". E então todos os domingos trocávamos mensagens a festejar as derrotas do Saragoça [risos]. Coitados deles, mas nós estávamos a torcer para que perdessem e descessem de divisão, para depois irmos buscar o Aimar. Portanto, aqui nem é uma questão de scouting, é uma questão de perceber as oportunidades e isso também acaba por fazer parte de um gabinete. Se perceberes que um jogador vai deixar de ter espaço num sítio, podes atacar essa oportunidade, no momento certo.

Pois, ia dizer-te que se calhar neste mês um scout até nem tem muito para fazer, mas pelos vistos até tem, numa outra perspetiva.
Pois, isto depende sempre dos clubes. No meu caso, no Benfica e no Shakhtar, nós avaliamos aquilo que são as oportunidades que surgem no mercado. Se nos dizem que há a possibilidade de contratar determinado jogador, temos de ver se vale a pena ou não. Ou seja, não podemos tirar férias nesta altura. Um scout que tire férias nesta altura é porque não tem muita importância no clube [risos].


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