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art DM - Valha-nos Zeus

Started by cardoso, 20 de March de 2008, 15:25

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cardoso

São, infelizmente, conhecidíssimas as relações promíscuas entre o desporto de alta competição e a política. Todos conhecemos os "patos bravos" que usam o desporto e o futebol em particular para se auto-promover e tirar do futebol grandes proveitos para as suas carreiras e fortunas.
A um nível mais global, no passado, o desporto foi um meio privilegiado pelos regimes autoritários para promover as suas "causas". No tempo da guerra fria, União Soviética e Estados Unidos usaram de todos os meios para tentar provar, pelo desporto, a superioridade dos seus "sistemas". Mas esta espécie de promiscuidade parece não ter desaparecido com a queda do muro: cada vez se fala mais num possível boicote aos Jogos Olímpicos de Pequim, por causa do conflito entre o governo chinês e o povo do Tibete. Até agora, o mundo Ocidental, ou seja, nós, os "bons", andámos de olhos fechados, a assobiar para o lado e a fazer de conta que somos surdos perante a repressão do povo tibetano. Encaramos o Dalai Lama como um "tipo porreiro", uma espécie de ícone que fica bem elogiar, como se a nossa admiração por ele fizesse de nós boas pessoas. Mas quanto ao resto, quanto aos mortos, presos e perseguidos por serem apenas tibetanos e budistas, preferimos não pensar no assunto.
Agora as coisas "azedaram". A violência saiu à rua e o povo mais pacífico do mundo é vítima do egoísmo e da ambição do regime chinês. O mesmo regime que nos vende plásticos baratos, que nos consome quilolitros de refrigerante e que proporciona fortunas aos nossos empresários.
Perante isto, em ano de Jogos Olímpicos na China, há quem defenda o boicote, bem à maneira dos tempos da guerra fria, como solução para o problema: alimentámos o regime chinês durante anos mas agora tiramos-lhe o tapete com a falta de comparência às Olimpíadas. Isto teria a vantagem de pressionar as autoridades chinesas sem prescindirmos dos plásticos, das vendas de refrigerantes e dos negócios chorudos em geral.
Devo dizer que não encaro o desporto de alta competição como um fenómeno isolado do mundo, que se deva desligar dos grandes problemas da humanidade. Mas querer utilizar os Jogos Olímpicos para tentar resolver o problema do Tibete é, no mínimo, uma posição hipócrita. As mentes iluminadas do Ocidente dito "democrático" acordam agora para procurar soluções no maior acontecimento desportivo para um problema que ignoraram de forma hipócrita e cúmplice quando lhes interessava assinar acordos comerciais com a China, mesmo que à custa dos mesmos direitos humanos que agora dizem defender. Onde estavam essas mentes iluminadas, esses defensores da democracia quando o problema surgiu? A resposta parece-me bem simples: estavam preocupados com os seus interesses, que implicavam uma amena convivência (e mesmo conivência) com as autoridades chinesas.
É claro que acusar o Dalai-Lama de responsabilidades em qualquer movimento rebelde e violento é um absoluto disparate. Mas querer utilizar um boicote numa competição desportiva como forma de o defender é um perfeito disparate. Não seria mais inteligente usar os meios políticos para resolver problemas políticos? Não seria mais proveitoso acabar com a hipocrisia e assumir as culpas próprias nos disparates que o governo chinês tem feito?
E o boicote não seria uma forma de agravar as tensões?
O desporto tem de ser um instrumento de promoção de paz e concórdia entre os povos e não um meio de alimentar problemas políticos. Foi assim que Pierre de Coubertin idealizou os Jogos Olímpicos da era moderna e foi assim que os Gregos antigos encararam os Jogos: uma festa sagrada, em honra de Zeus, que servia para manter vivos os laços no mundo helénico, separado em cidades-estado independentes, rivais entre si  e por vezes inimigas. Mas os jogos eram ocasião de fazer a paz. As próprias guerras eram interrompidas na altura dos Jogos. Esse sim, seria o ideal olímpico: uma ocasião de paz e concórdia entre os povos.

Mafalda

Valha-nos todos os deuses do Olimpo!
Compreendo que o desporto e os jogos olímpicos, em particular, sirvam outros fins que não a guerra política, mas também percebo a necessidade de usar os Jogos para apelar ao mundo adormecido sobre a questão dos direitos humanos no Tibete. É uma oportunidade única, uma vez que todos os holofotes vão estar virados para a China.

Talvez a ideia do boicote não sirva o interesse até dos tibetanos, mas serviu para alertar muitas consciências.
A hipocrisia política vai continuar como bem sabemos, é este o mundo que criamos, é este o mundo que os nossos filhos vão herdar, infelizmente. Tudo se move por interesses, é triste, mas é verdade.

Enquanto mãe só me resta dar o exemplo e fazer pequenas acções que por muito pequenas que sejam, acredito que possam mudar alguma coisa, senão o Mundo!
Mafalda

Migu3l Cruz

Quote from: Mafalda on 25 de March de 2008, 14:54
Valha-nos todos os deuses do Olimpo!
Compreendo que o desporto e os jogos olímpicos, em particular, sirvam outros fins que não a guerra política, mas também percebo a necessidade de usar os Jogos para apelar ao mundo adormecido sobre a questão dos direitos humanos no Tibete. É uma oportunidade única, uma vez que todos os holofotes vão estar virados para a China.

Talvez a ideia do boicote não sirva o interesse até dos tibetanos, mas serviu para alertar muitas consciências.
A hipocrisia política vai continuar como bem sabemos, é este o mundo que criamos, é este o mundo que os nossos filhos vão herdar, infelizmente. Tudo se move por interesses, é triste, mas é verdade.

Enquanto mãe só me resta dar o exemplo e fazer pequenas acções que por muito pequenas que sejam, acredito que possam mudar alguma coisa, senão o Mundo!

Concordo com o tudo que dizes, menos o que está sublinhado, eu acho que o grande problema é que o mundo está bem ciente do que se passa no tibete, o problema é que assobiam para o lado, visto a china ser uma grande potência económica e alimentar muitas bocas por esse mundo fora. Em alimentar bocas refiro-me aos empresários das multinacionais espalhadas pelo globo, em que ganham e muito com a mão de obra mais barata e material também mais barato. Só de pensar nisso dá-me nojo, ver que se sobrepõe os direitos humanos aos interesses económicos.
Braga Cidade e Clube sempre no coração

Mafalda

Tens razão, todos sabem, por isso eu uso a palavra adormecida, é um "desconhecimento consentido", se é que me faço entender.
Além disso, eu sei, tu sabes, muita gente sabe, mas também há muita boa gente que não sabia. Para muitas delas o Tibete é só a imagem de um mundo muito Zen, com habitantes de trajes engraçados e que encarna a mítica figura do Dalai Lama.

Quem foi assistir ao espectáculo dos monges budistas (exilados, claro) no Theatro Circo? O valor dos bilhetes revertia a favor da sua causa, principalmente a favor da divulgação da sua cultura.
Que me perdoem, mas aí sim a palavra adormecida caía que nem uma luva ;D
Mafalda

Jota10

Xo' vejuh Bragah a` minhah frenteh!

HugoSáPinto

Como defendo a autodeterminação de todos os povos, não poderia estar em desacordo com aquilo que disseste. Para além do mais, com que direito 'tomou de assalto' a China essa território? Este caso é em todo similar ao da ocupação indonésia em Timor. Comparemos: a ocupação chinesa no Tibete deu-se, se bem me recordo, nos anos 50; a indonésia deu-se nos anos 70. Tanto numa, como noutra, os 'polícias do mundo' (leia-se Americanos) fecharam os olhos. Como muito bem referiste, os interesses económicos, num e noutro caso, sobrepuseram-se aos humanitários. Deixemo-nos de falsas hipocrisias! Basta de apelar à justiça e à fraternidade, quando é sempre o €/$ a falar mais alto.
Em paralelo, que dizer da subida desmesurada do preço do petróleo? Para quê o alarme da comunidade mundial? Não existiram já mais do que 10 protótipos de carros totalmente movidos a energias renováveis?! Alias, mesmo os híbridos que começam a despontar encontram-se, ainda, embrionariamente ligados à dependência petrolífera...Enfim, são as grandes multinacionais que comandam o globo, disso não tenhamos dúvidas.
Quanto ao boicote aos jogos olímpicos, parece-me, igualmente, despropositado, pelos motivos que referiste. Uma questão política resolve-se, logicamente, por acções políticas e não desportivas. Contudo, penso ser essa a última esperança daqueles que não crêem numa atitude política conjunta das várias nações...
Resta-nos a esperança da Coca-Cola, da Microsoft e da Mobil fecharem as suas 'torneiras' aos confúcios. Esperemos... sentados...

fjmp_scb

Quote from: Jota10 on 25 de March de 2008, 17:57
Grandeh textuh Cardoxuh!
Ó Pedro desta vez concordo contigo!  ;)
[url="http://img246.imageshack.us/img246/3130/scbucm9.png"]http://img246.imageshack.us/img246/3130/scbucm9.png[/url]

cardoso

Nos últimos tempos tenho-me dedicado um pouco ao estudo das tradições orientais. Tenho uma admiração enorme pela cultura oriental e cada vez mais me convenço que nós, ocidentais, somos uma cambada de ignorantes atafulhados de ideias políticas balofas e paradigmas religiosos, também eles politizados e mercantilizados. Perante esta triste realidade o budismo tibetano é um oásis espiritual que os chineses tentam assassinar com a complacência de toda a horda de interesseiros ocidentais, que pregam o anti-comunismo e, ao mesmo tempo, abraçam os chineses como irmãos na mesma missão: explorar os menos protegidos.
Tal como o Hugo, sou incondicionalmente a favor da autodeterminação dos povos, mesmo que por vezes o processo seja doloroso. E isto aplica-se aos tibetanos, ao Kosovo, ao País Basco e espero que um dia... à Madeira.

César Augusto

Quote from: cardoso on 27 de March de 2008, 11:52
Nos últimos tempos tenho-me dedicado um pouco ao estudo das tradições orientais. Tenho uma admiração enorme pela cultura oriental e cada vez mais me convenço que nós, ocidentais, somos uma cambada de ignorantes atafulhados de ideias políticas balofas e paradigmas religiosos, também eles politizados e mercantilizados. Perante esta triste realidade o budismo tibetano é um oásis espiritual que os chineses tentam assassinar com a complacência de toda a horda de interesseiros ocidentais, que pregam o anti-comunismo e, ao mesmo tempo, abraçam os chineses como irmãos na mesma missão: explorar os menos protegidos.
Tal como o Hugo, sou incondicionalmente a favor da autodeterminação dos povos, mesmo que por vezes o processo seja doloroso. E isto aplica-se aos tibetanos, ao Kosovo, ao País Basco e espero que um dia... à Madeira.

Essa treta é muito linda mas devemos ter cuidado. Há tradições a respeitar. A China inclui o Tibete como a Espanha inclui o País Basco.
Se não fosse assim já o Algarve era independente, ou até o Minho.

HugoSáPinto

#9
Quote from: César Augusto on 06 de April de 2008, 18:10

Essa treta é muito linda mas devemos ter cuidado. Há tradições a respeitar. A China inclui o Tibete como a Espanha inclui o País Basco.
Se não fosse assim já o Algarve era independente, ou até o Minho.


Precisamente! Há tradições a respeitar.
Logo, tal como aconteceu no caso Indonésia Vs. Timor, a China deverá desocupar o território que, tradicionalmente, lhe não pertencia!
Com isto, conseguir-se-á a paz tão almejada, tal como Constantino o fez, em detrimento de outros imperadores como, por exemplo, César Augusto...