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Art. DM - Viva o 'tudo ao molho e fé em Deus'

Started by cardoso, 17 de October de 2007, 20:36

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cardoso

Nesta era em que pontificam técnicos de formação académica como Mourinho, cai-se com frequência no exagero de colocar a organização táctica como o factor mais importante para a vitória num jogo de futebol. No entanto, para o adepto comum, um 4x3x3 dá 36, e nisso é melhor que o 4x4x2 que só perfaz 32. Para os comentadores oficiais do reino, estes sistemas são depois desdobrados noutros, de ainda mais douta aparência, como o 4x2x3x1 ou o 4x3x2x1. Para o comentador de tasca ou de café, que somos nós, a maioria (logo, quem tem razão) isto é tudo uma grande treta que não serve para nada. A gente, quando vai ver um jogo de futebol só vê 22 jogadores num campo de relva, a correr atrás da bola e a única coisa que interessa é que a redondinha entre na baliza do adversário. O resto é treta! Nós queremos é ganhar, festejar, cumprimentar o árbitro e passar duas horinhas de folguedo. Mais nada!
No entanto, os doutorados da bola, parece que não vêem a mesma coisa que nós. Conseguem, por artes mágicas, vislumbrar na erva vários desenhos geométricos com losangos desenhados no meio campo (eu nunca vi, mas há quem garanta que Mourinho, por exemplo, desenhava mesmo um losango, com vértices e tudo!). Outros falam de linhas e afirmam a pés juntos que para ter sucesso é preciso jogar entre as linhas do adversário. Não faço ideia de que riscos ou traços falam eles mas isto é capaz de ter a sua lógica, até porque quando eu era miúdo havia uns cadernos de duas linhas para escrever mais direitinho e, na verdade, aquilo resultava. Ora, se se escreve melhor entre linhas, admito que também assim se possa jogar melhor futebol.
Depois há uma estranha polémica que eu gostava muito que me explicassem: essa misteriosa história do triângulo do meio campo. Presumo eu que esse tal triângulo deve ser metade do losango de que se falava acima. Quer dizer, quem não consegue desenhar um losango (por não ter tinta, ou por não saber, ou por outro motivo qualquer), tem que se contentar com um triângulo. E depois ainda há aquela teoria do triângulo invertido, ou seja, de pernas para o ar! No meio desta ciência toda, eu pergunto: como diz o outro, isto é tudo muito lindo, mas interessa para quê? Bem, eu sei que para ser bom treinador ou bom comentarista, tem de se dar um ar de doutor: usar a gravatinha, falar de geometria e de filosofia de jogo, talvez usar sempre uma garrafinha de água na mão, etc., etc. Mas eu, cá por mim, quero lá saber disso! Eu quero é ver a rede a balançar, as bandeiras a esvoaçar e o povo a festejar. Como dizia o saudoso Jorge Perestrelo, (um dos poucos que percebeu a verdadeira essência do jogo da bola) "é disto que o meu povo gosta!" Além disso, a velha táctica do "tudo ao molho e fé em Deus" também resolve e às vezes a organização só complica. Prova disso foi o jogo que a selecção fez na passada quarta-feira: só resolvemos aquilo quando o Murtosa perdeu as estribeiras e colocou a jogar cinco avançados. Certinhos e direitinhos no tal 4x3x3 andamos a penar 80 minutos num enervante 0-0. Mas resolvemos o jogo com as corridas malucas do Makukula e do Nani, os improvisos do Quaresma e fintas indisciplinadas do C. Ronaldo. Tudo ao molho é que é, meus amigos! Vão por mim! Bem, não se entenda com isto que devemos desprezar as teorias do Luís de Freitas Lobo, talvez o homem que em Portugal mais percebe de futebol (mais que o Gabriel Alves e o Paulo Bento; talvez até mais que o Jorge Gabriel). Mas aquilo é areia de mais para a minha camioneta. É demasiada sabedoria! Eu prefiro futebol mesmo!

Pedro_RBA

Somos 2... Exatamente como eu!  ;D

Saudaçãoes Ultras

braga2007

Mais um excelente artigo do Cardoso...tem razão, hoje em dia o futebol mais parece geometria do que um simples jogo  ;D

Xispes

O que me parece, é que actualmente não se pode dissociar a vertente táctica do futebol.
É evidente que para o adepto entusiasta e ferveroso o que realmente importa é ver a bola no fundo das redes, mas actualmente o futebol não é só paixão, isto claro, sem menosprezar o texto do Cardoso e os que nele se revêm.

Olho Vivo

Percebo a ideia do Cardoso, o futebol faz sentido vivendo-o com paixão e, para quem o vive dessa forma, custa perceber os comentários de quem os emite de uma forma (em princípio!) desapaixonada.

Eu, de qualquer forma, mesmo vivendo o jogo como um comum adepto, com emoção e com os nervos à flor da pele, gosto de (nos intervalos!)  ;D perceber as "nuances" tácticas do jogo. Um dos encantos que o futebol para mim tem é a sua dimensão colectva - implica um esforço concertado de onze jogadores, exige coordenação, uma espécie de inteligência colectiva de forma a que as qualidades individuais de cada atleta possam ser potenciadas em favor do colectivo. A riqueza do futebol é esta: a organização, a inteligência ao serviço do colectivo permite (muito frequentemente) que um conjunto de jogadores de menor qualidade do ponto de vista individual se sobreponha a um conjunto de futebolistas de superior qualidade. E isso é tão mais verdade quanto hoje as diferenças ao nível físico e (em certa medida) do ponto de vista técnico são esbatidas pelo treino (coisa que não sucedia há umas décadas). A incerteza nos resultados é muito maior hoje e isso, do meu ponto de vista, é um activo. Alguém tem saudades dos tempos em que no nosso campeonato os três metralhas despachavam quem lhes aparecia pela frente com goleadas (sintomaticamente apelidadas) à moda antiga? Presumo que não. Quem tem saudades do futebol de antigamente são aqueles que de facto hoje vêem (bastantes) menos golos na baliza do adversário - e como são a maioria, a ideia generalizada é esta. As equipas de hoje estão melhor preparadas fisicamente e são colectivamente mais inteligentes! E jogam-se muito neste "tabuleiro" (na organização) os resultados das partidas. Por isso, não admira a atenção que hoje é dada a estes aspectos. Eles são, em face do equilíbrio registado noutras áreas, factores decisivos. A um jogador hoje exige-se mais que nunca que seja inteligente: que saiba dosear o esforço, que saiba ler o seu papel na manobra colectiva, compensando os colegas, ocupando espaços em função dos movimentos da equipa e do adversário, arriscando  o desarme com alguma dose de certeza do corte ou quando em posição que permita a dobra por um colega; avançando no terreno tendo a noção de que equipa pode acomodar esse adiantamento sem correr excessivos riscos, etc. Quem diz que o futebol se resume a onze brutos a correr atrás de uma bola vê pouco (ou nenhum) futebol: cada vez mais, jogar futebol é para pessoas inteligentes!

Mas onde fica a qualidade individual dos jogadores, se muito se joga no plano da organização colectiva? Não sobra nada? Sobra muito: uma equipa organizada e equilibrada permite potenciar as qualidades individuais dos seus melhores jogadores e por em relevo o virtuosismo dos melhores. MAS A EQUIPA DEVE MANTER SEMPRE O SEU EQUILÍBRIO. Uma equipa só de virtuosos será sempre derrotada por uma equipa de jogadores mais modestos mas organizada. Por isso, creio que hoje, o nível geral dos jogadores é melhor do que há uns anos. É-lhes exigido muito mais, são-lhes colocadas dificuldades acrescidas pelas equipas adversárias (pelo seu melhor preparo físico e pela sua organização colectiva) que há umas décadas não eram vulgares.

Da parte dos comentadores, é mesmo essa leitura táctica que me interessa ouvir (e a necessária informação sobre os intervenientes do jogo). Devo dizer que dos comentadores que por aí andam, gosto muito de ouvir o Luís Freitas Lobo. É dos poucos com quem se aprende alguma coisa ao ouvi-lo. E não me parece que o seu conhecimento venha de qualquer formação académica (creio que até tem estudos superiores salvo erro em Direito mas formação académica no âmbito do desporto creio que não tem). São sim muitos jogos acumulados no currículo! E paixão pelo futebol e não (apenas) pelo clube!

cardoso

Como te percebo, Pedro!
O futebol pode ser visto de vários ângulos: como manifestação de habilidades e capacidades individuais, como forma de expressão de um colectivo (forma de interacção do grupo), como materialização de pressupostos teoricos (tácticas), ou, simplesmente, como uma festa popular onde 22 se divertem de uma forma e milhares de outros se divertem de outra. Todas estas facetas são válidas e todas elas complementares. Isto dava um tratado (podemos pensar nisso ;D ). Assim, o facto de eu ter desenvolvido uma dessas facetas não invalida as outras. E até te digo mais: esse plano táctico é assunto sobre o qual aprendi muito com os dois "Freitas Lobos" cá do fórum: tu e o Zé.
É claro que, como em tudo na vida, temos de vislumbrar sempre os vários angulos das coisas. Mas, pessoalmente, atrai-me muito mais o futebol como festa. Acredito que as coisas que nos fazem felizes são aquelas que nos fazem rir. No entanto também existe o prazer de pensar. Digamos que há momentos e há lugar para tudo...

PAF

A prova que a tática muitas vezes não conta para nada são os muitos golos que se marcam em desespero nos últimos minutos de jogo, onde é mesmo tudo ao molho e fé em Deus! Ou será o todos ao molho também uma tática?
Mourinho, poucas vezes me lembro de as equipas dele sofrerem golos nos últimos minutos, ou seja até para defender todos ao molho deve haver uma tática!

Olho Vivo

Não é assunto que venha exactamente no seguimento das palavras do Cardoso mas é pelo menos conexo. Que critérios devem presidir à constituição de um plantel? Aqui fica a visão de Paulo Sousa:

(...) Esta situação [Tiago sem jogar na Juventus] espelha bem o como as contratações numa equipa devem ser bem ponderadas a priori, fundamentadas por uma lógica adjacente. Os treinadores e a administração de um clube não podem cair no erro de contratar por moda, por nome, por preço ou por fama, nem mesmo pela qualidade do jogador. Parece uma heresia mas é verdade. Ou alguém tem dúvidas que Tiago tem enorme qualidade?

Contudo, a qualidade de um jogador não serve de muito se as ideias de jogo do treinador chocam com as suas características dominantes. (...)

in A Bola


Tomando como bom ponto de vista, seria interessante fazer este exercício para o nosso plantel. Contratamos em função da qualidade ou em função de um modelo e um sistema de jogo?


P.S.: foi impressão minha ou li no Diário do Minho da semana passada um artigo do Cardoso que não vi por aqui?

disco infiltrator

Quote from: Pedro Ribeiro on 29 de October de 2007, 13:13
Não é assunto que venha exactamente no seguimento das palavras do Cardoso mas é pelo menos conexo. Que critérios devem presidir à constituição de um plantel? Aqui fica a visão de Paulo Sousa:

(...) Esta situação [Tiago sem jogar na Juventus] espelha bem o como as contratações numa equipa devem ser bem ponderadas a priori, fundamentadas por uma lógica adjacente. Os treinadores e a administração de um clube não podem cair no erro de contratar por moda, por nome, por preço ou por fama, nem mesmo pela qualidade do jogador. Parece uma heresia mas é verdade. Ou alguém tem dúvidas que Tiago tem enorme qualidade?

Contudo, a qualidade de um jogador não serve de muito se as ideias de jogo do treinador chocam com as suas características dominantes. (...)

in A Bola


Tomando como bom ponto de vista, seria interessante fazer este exercício para o nosso plantel. Contratamos em função da qualidade ou em função de um modelo e um sistema de jogo?


P.S.: foi impressão minha ou li no Diário do Minho da semana passada um artigo do Cardoso que não vi por aqui?


Pois é Pedro...mas o problema do SCB nem é esse.Esta questão  poder-se-à colocar mas posteriormente. Primeiro é preciso o SCB ter um modelo ou sistema de jogo. Coisa que claramente não tem.

Olho Vivo

Quote from: disco infiltrator on 29 de October de 2007, 18:39
Pois é Pedro...mas o problema do SCB nem é esse.Esta questão  poder-se-à colocar mas posteriormente. Primeiro é preciso o SCB ter um modelo ou sistema de jogo. Coisa que claramente não tem.

Pois eu acho que aí é que tu te enganas. Muitos dos problemas que hoje a nossa equipa revela relevam do facto de o plantel ter sido escolhido sem ter por referência um modelo e um sistema de jogo. Ou se o foi, não parece! Contrataram-se jogadores de qualidade técnica sem dúvida mas quando se trata de construir uma equipa com base naquilo que aparentemente Jorge Costa pretende há peças que não encaixam bem ou peças que faltam; há défice de frescura física; há défice de motivação (*)...

(*) Como é evidente, nem tudo é imputável ao técnico. Este não tem culpa que, por exemplo, a SAD acorde um contrato por quatro temporadas com um jogador de 30 anos, sem quaisquer outros horizontes de carreira...