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Artigo DM: Joguem à Bola

Started by cardoso, 17 de February de 2007, 20:19

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cardoso


O jovem Nani, neo-vedeta do Sporting, declarou-se muito satisfeito por jogar na selecção porque nesses jogos o público apoia-o, criticando assim de forma mais ou menos encoberta os adeptos do seu clube, o Sporting. Parece que nos últimos tempos tornou-se moda criticar os adeptos, como se estes desgraçados (que somos nós) fossem os culpados pela pouca-vergonha em que está atolado o futebol tuga. Parece que a função dos jogadores é algo de tão sagrado e tão sensível que o seu desempenho depende das críticas ou aplausos dos adeptos. Isto causa-me alguma confusão porque não consigo imaginar o Pavaroti a cantar mal se os seus espectadores não aplaudirem durante o espectáculo. Assim como não imagino uma companhia de teatro a representar melhor ou pior conforme o apoio do público. Afinal de contas quem são os artistas? Quem é pago para dar espectáculo? Qualquer um de nós, na nossa profissão, se fizer asneira paga por isso. Porque é que o jogador, se não faz o que deve tem de ser mimado e apaparicado?

É claro que quando a equipa é apoiada, cria-se um ambiente psicológico favorável que contribui para a melhor qualidade do espectáculo. Mas esse factor só pode existir se o público se sentir agradado por aquilo que está a ver. Que motivação posso ter eu para aplaudir os jogadores se estes se limitam a passear as sapatilhas pelo relvado, como se este fosse o passeio da fama de Hollywood?

Há dias o Sporting disputava um jogo com o Nacional e até aos 75 minutos o resultado manteve-se favorável aos da ilha do Alberto João. O jogo estava mais chato que um discurso do Sócrates e a equipa da casa parecia a banda do Zé Cabra. Os adeptos leoninos, naturalmente iam perdendo o ânimo, mantendo-se mudos e macambúzios enquanto os jogadores do seu clube faziam à bola o que a Ministra da Educação faz aos professores: bordoada e seja o que Deus quizer. De repente o Sporting marca e volta a marcar, ouvindo-se finalmente o público a festejar e aplaudir como se fosse noite de S. João. O Carlos Bueno, que os sportinguistas já confundiam com o arrumador de carros de Alvalade, de repente, faz de conta que é craque e desata a marcar golos como se não houvesse amanhã. O comentador televisivo aproveitou imediatamente para criticar o público por não ter batido palminhas antes, quando o Sporting estava a perder! Haja paciência para aturar isto! Então os pobres sportinguistas, envergonhados com o triste espectáculo que os seus lagartinhos os torturam durante 74 minutos ainda tinham de os ovacionar?

Tornou-se lugar comum dizer que têm de ser os jogadores a "puxar pelo público". Mas eu, no meu modesto pensar, pergunto: não é assim que tem de ser? O público paga; os jogadores são pagos! E são pagos (principescamente) para jogar bom futebol, enquanto os adeptos pagam para ver as vedetas aos pontapés à bola. Pedir-lhes que aplaudam efusivamente enquanto os jogadores fazem cócegas à relva é tão disparatado como pedir a um político para falar verdade.

Hoje em dia há uma certa confusão de papéis no mundo da bola: treinadores a fazer de comentadores de televisão, jogadores vedetas sociais ou então a dar entrevistas cheias de pontapés na gramática, árbitros a decidir resultados, empresários a deliberar quem joga e onde joga, políticos a fazer análises desportivas, etc. etc. Penso eu que tudo seria muito mais simples se os jogadores se limitassem a jogar à bola, os jornalistas a transmitir notícias, empresários a apoiar e defender os seus representados sem se imiscuírem nos clubes e dirigentes que se limitassem a gerir o seu clube sem se atascarem em jogos de influência e compadrios. Mas não! Anda tudo trocado e é por isso que o nosso futebol está a tornar-se uma verdadeira selva em que os macacos chafurdam no rio enquanto os hipopótamos trepam às árvores.


antimouros

Gosto bastante das tuas crónicas cardoso, escreves muito bem, fazes me lembrar o miguel sousa tavares, continua com o bom trabalho, força BRAGA.

Machado_87

Quote from: cardoso on 17 de February de 2007, 20:19

O jovem Nani, neo-vedeta do Sporting, declarou-se muito satisfeito por jogar na selecção porque nesses jogos o público apoia-o, criticando assim de forma mais ou menos encoberta os adeptos do seu clube, o Sporting. Parece que nos últimos tempos tornou-se moda criticar os adeptos, como se estes desgraçados (que somos nós) fossem os culpados pela pouca-vergonha em que está atolado o futebol tuga. Parece que a função dos jogadores é algo de tão sagrado e tão sensível que o seu desempenho depende das críticas ou aplausos dos adeptos. Isto causa-me alguma confusão porque não consigo imaginar o Pavaroti a cantar mal se os seus espectadores não aplaudirem durante o espectáculo. Assim como não imagino uma companhia de teatro a representar melhor ou pior conforme o apoio do público. Afinal de contas quem são os artistas? Quem é pago para dar espectáculo? Qualquer um de nós, na nossa profissão, se fizer asneira paga por isso. Porque é que o jogador, se não faz o que deve tem de ser mimado e apaparicado?

É claro que quando a equipa é apoiada, cria-se um ambiente psicológico favorável que contribui para a melhor qualidade do espectáculo. Mas esse factor só pode existir se o público se sentir agradado por aquilo que está a ver. Que motivação posso ter eu para aplaudir os jogadores se estes se limitam a passear as sapatilhas pelo relvado, como se este fosse o passeio da fama de Hollywood?

Há dias o Sporting disputava um jogo com o Nacional e até aos 75 minutos o resultado manteve-se favorável aos da ilha do Alberto João. O jogo estava mais chato que um discurso do Sócrates e a equipa da casa parecia a banda do Zé Cabra. Os adeptos leoninos, naturalmente iam perdendo o ânimo, mantendo-se mudos e macambúzios enquanto os jogadores do seu clube faziam à bola o que a Ministra da Educação faz aos professores: bordoada e seja o que Deus quizer. De repente o Sporting marca e volta a marcar, ouvindo-se finalmente o público a festejar e aplaudir como se fosse noite de S. João. O Carlos Bueno, que os sportinguistas já confundiam com o arrumador de carros de Alvalade, de repente, faz de conta que é craque e desata a marcar golos como se não houvesse amanhã. O comentador televisivo aproveitou imediatamente para criticar o público por não ter batido palminhas antes, quando o Sporting estava a perder! Haja paciência para aturar isto! Então os pobres sportinguistas, envergonhados com o triste espectáculo que os seus lagartinhos os torturam durante 74 minutos ainda tinham de os ovacionar?

Tornou-se lugar comum dizer que têm de ser os jogadores a “puxar pelo público”. Mas eu, no meu modesto pensar, pergunto: não é assim que tem de ser? O público paga; os jogadores são pagos! E são pagos (principescamente) para jogar bom futebol, enquanto os adeptos pagam para ver as vedetas aos pontapés à bola. Pedir-lhes que aplaudam efusivamente enquanto os jogadores fazem cócegas à relva é tão disparatado como pedir a um político para falar verdade.

Hoje em dia há uma certa confusão de papéis no mundo da bola: treinadores a fazer de comentadores de televisão, jogadores vedetas sociais ou então a dar entrevistas cheias de pontapés na gramática, árbitros a decidir resultados, empresários a deliberar quem joga e onde joga, políticos a fazer análises desportivas, etc. etc. Penso eu que tudo seria muito mais simples se os jogadores se limitassem a jogar à bola, os jornalistas a transmitir notícias, empresários a apoiar e defender os seus representados sem se imiscuírem nos clubes e dirigentes que se limitassem a gerir o seu clube sem se atascarem em jogos de influência e compadrios. Mas não! Anda tudo trocado e é por isso que o nosso futebol está a tornar-se uma verdadeira selva em que os macacos chafurdam no rio enquanto os hipopótamos trepam às árvores.



So posso concordar com tudo o que é dito...
Nao tenho mais nada a acrescentar

Por muito que custe é a triste realidade do futebol português  :( :-\ :o :o :-\ :(

Força Mágico Braga!!!
Uma equipa, uma fé, um orgulho
SPORTING DE BRAGA sempre

El Che

Cardoso gosto bastante das tuas crónicas.

Parabens.

Já agora a que dia sai o jornal com a tua cronica?

Ricard8

Quote from: antimouros on 17 de February de 2007, 20:35
Gosto bastante das tuas crónicas cardoso, escreves muito bem, fazes me lembrar o miguel sousa tavares, continua com o bom trabalho, força BRAGA.

Porque é que insultas as pessoas?? O MST não chega aos calcanhares do Cardoso...

Parabens Cardoso pelas tuas cronicas!!

Augusto Gomes

Está certo, embora eu ache que em Braga quando a equipa não puxa pelos adeptos devem ser estes a puxar pela equipa...

Nos outros campos que não seja assim...

Embora isso nem sempre seja o que acontece...

Mas não é verdade que a psicologia tem muita força?
FORÇA BRAGA, RUMO À LIGA DOS CAMPEÕES!!!

Pé Ligeiro

Quote from: cardoso on 17 de February de 2007, 20:19

O jovem Nani, neo-vedeta do Sporting, declarou-se muito satisfeito por jogar na selecção porque nesses jogos o público apoia-o, criticando assim de forma mais ou menos encoberta os adeptos do seu clube, o Sporting. Parece que nos últimos tempos tornou-se moda criticar os adeptos, como se estes desgraçados (que somos nós) fossem os culpados pela pouca-vergonha em que está atolado o futebol tuga. Parece que a função dos jogadores é algo de tão sagrado e tão sensível que o seu desempenho depende das críticas ou aplausos dos adeptos. Isto causa-me alguma confusão porque não consigo imaginar o Pavaroti a cantar mal se os seus espectadores não aplaudirem durante o espectáculo. Assim como não imagino uma companhia de teatro a representar melhor ou pior conforme o apoio do público. Afinal de contas quem são os artistas? Quem é pago para dar espectáculo? Qualquer um de nós, na nossa profissão, se fizer asneira paga por isso. Porque é que o jogador, se não faz o que deve tem de ser mimado e apaparicado?

É claro que quando a equipa é apoiada, cria-se um ambiente psicológico favorável que contribui para a melhor qualidade do espectáculo. Mas esse factor só pode existir se o público se sentir agradado por aquilo que está a ver. Que motivação posso ter eu para aplaudir os jogadores se estes se limitam a passear as sapatilhas pelo relvado, como se este fosse o passeio da fama de Hollywood?

Há dias o Sporting disputava um jogo com o Nacional e até aos 75 minutos o resultado manteve-se favorável aos da ilha do Alberto João. O jogo estava mais chato que um discurso do Sócrates e a equipa da casa parecia a banda do Zé Cabra. Os adeptos leoninos, naturalmente iam perdendo o ânimo, mantendo-se mudos e macambúzios enquanto os jogadores do seu clube faziam à bola o que a Ministra da Educação faz aos professores: bordoada e seja o que Deus quizer. De repente o Sporting marca e volta a marcar, ouvindo-se finalmente o público a festejar e aplaudir como se fosse noite de S. João. O Carlos Bueno, que os sportinguistas já confundiam com o arrumador de carros de Alvalade, de repente, faz de conta que é craque e desata a marcar golos como se não houvesse amanhã. O comentador televisivo aproveitou imediatamente para criticar o público por não ter batido palminhas antes, quando o Sporting estava a perder! Haja paciência para aturar isto! Então os pobres sportinguistas, envergonhados com o triste espectáculo que os seus lagartinhos os torturam durante 74 minutos ainda tinham de os ovacionar?

Tornou-se lugar comum dizer que têm de ser os jogadores a "puxar pelo público". Mas eu, no meu modesto pensar, pergunto: não é assim que tem de ser? O público paga; os jogadores são pagos! E são pagos (principescamente) para jogar bom futebol, enquanto os adeptos pagam para ver as vedetas aos pontapés à bola. Pedir-lhes que aplaudam efusivamente enquanto os jogadores fazem cócegas à relva é tão disparatado como pedir a um político para falar verdade.

Hoje em dia há uma certa confusão de papéis no mundo da bola: treinadores a fazer de comentadores de televisão, jogadores vedetas sociais ou então a dar entrevistas cheias de pontapés na gramática, árbitros a decidir resultados, empresários a deliberar quem joga e onde joga, políticos a fazer análises desportivas, etc. etc. Penso eu que tudo seria muito mais simples se os jogadores se limitassem a jogar à bola, os jornalistas a transmitir notícias, empresários a apoiar e defender os seus representados sem se imiscuírem nos clubes e dirigentes que se limitassem a gerir o seu clube sem se atascarem em jogos de influência e compadrios. Mas não! Anda tudo trocado e é por isso que o nosso futebol está a tornar-se uma verdadeira selva em que os macacos chafurdam no rio enquanto os hipopótamos trepam às árvores.






ASSINO POR BAIXO!


BRAGA SEMPRE MAIS!

ZGANDULO

Olha a bola Manel, olha a bola Manel... :D

Um abraço Cardoso!!!

Na próxima tens de escrever sobre os lenços dos namorados da nossa terra que por acaso estão nos trabalhos dos melhores estilistas portugueses... ;) - Isto porque na terra dos benfas,leones e dragouns também existem muitos Braguistas a começar pelo presidente da cámara...

[url="http://pwp.netcabo.pt/peixotom/emoticons/forca_braga2.gif"]http://pwp.netcabo.pt/peixotom/emoticons/forca_braga2.gif[/url]

braguista365

Quote from: antimouros on 17 de February de 2007, 20:35
Gosto bastante das tuas crónicas cardoso, escreves muito bem, fazes me lembrar o miguel sousa tavares, continua com o bom trabalho, força BRAGA.
Deves ter algum desvio de personalidade,o MST é um grande escritor,disso nao ha duvidas,mas duvida que ja tenhas lido algum livro dele,alem de um desvio de personalidade deves ser daltonico,este sitio é vermelho e branco nao azul,que é o que o MST é,ninguem é perfeito!E tu ja estas a mais!

Cardoso mais uma vez Enorme!

Ana Cunha

O público incentiva os jogadores e os jogadores incentivam o público. Tem de ser assim! Não podem esperar que o público aplauda uma equipa que está a jogar mal. A relação adeptos/jogadores tem de consistir numa troca recíproca em que um puxa pelo outro. Belo texto, Cardoso!

Bracarus

só para puxar posts, que de facto são importantes, bem escritos e que tem intervenções e intervenientes de maior nível

BRAGA FOREVER

Mais uma grande crónica que vem de encontro aquilo que temos falado nos últimos tempos.

Estava eu  a ler com muita calma o texto e nunca imaginei que terminasse com "chave de ouro":

Quote from: cardoso on 17 de February de 2007, 20:19

Anda tudo trocado e é por isso que o nosso futebol está a tornar-se uma verdadeira selva em que os macacos chafurdam no rio enquanto os hipopótamos trepam às árvores.



                                 
                                  ;D ;D ;D

S.C.BRAGA NÃO O MAIOR, MAS O MELHOR CLUBE DO MUNDO!

Olho Vivo

Num período tão conturbado no nosso clube, quer em termos da gestão desportiva do seu futebol quer em termos da sua relação com os seus adeptos (reais e potenciais), apetece-me esquecer um pouco esses problemas, deixar assentar a poeira e falar um pouco de futebol para discordar, pelo menos em parte, do que dizes, caro Cardoso.

Subscrevo contudo a ideia de que os agentes desportivos (dirigentes, técnicos, árbitros e jogadores) têm o dever de perceber que a razão de ser do futebol e, portanto, do seu lugar no desporto está na paixão que arrasta multidões. Sem adeptos, o futebol não faz sentido, muito menos como actividade económica que hoje efectivamente é. E assim sendo, devem ser suficientemente inteligentes para saber seduzir adeptos, conquistados e por conquistar. Algumas palavras destes agentes, ainda que possam ter alguma razão de ser, pecam pela forma, hostilizando os adeptos que supostamente deveriam seduzir. Não precisamos de ir muito longe para perceber o alcance destas minhas palavras.

Coisa diferente é dizer que são as equipas que devem "puxar" pelos adeptos e não estes pelas equipas. Em Portugal, em termos gerais, são de facto as equipas que "puxam" pelos adeptos. Há questões idiossincráticas que nos definem como povo que o determinam, mas para mim este é apenas um sintoma da falta de cultura futebolística reinante. Em Portugal, não se gosta de futebol. Gosta-se de ver a equipa a ganhar. Não se percebe que há onze jogadores de cada lado e que só se joga o que o adversário permite...

Vou ilustrar isto com um exemplo. Há umas semanas atrás, vi na televisão um dos jogos mais fantásticos de que me recordo assistir. Foi o Liverpool-Arsenal, a contar para a Taça da Inglaterra. Os londrinos haviam batido no fim-de-semana anterior o mesmo adversário em Anfield Road por 3-1. Nesta partida, tanto Rafa Benitez como Arsène Wenger optaram por apresentar onzes com várias segundas figuras - ainda assim jogadores de grande nível. O jogo decorreu em ritmo frenético, mais ou menos equilibrado até perto do final da primeira metade, antes de o Arsenal marcar dois golos de rajada e estabelecer o placar em 1-4 ao intervalo. No regresso para a segunda parte, o Arsenal beneficia de uma grande-penalidade que o brasileiro Júlio Baptista (que varia a marcar 4 golos na partida) se encarregaria de falhar. Logo a seguir contudo, o mesmo Baptista faria o 1-5. A magia aconteceu a seguir. Com a sua equipa destroçada, copiosamente derrotada em casa frente a um clube rival, todo o Anfield Road se levantou e a uma só voz cantou a plenos pulmões o mítico "You'll never walk alone". Fantástico!!! Arrepiante!!! Que paixão! que manifestação de respeito por esse jogo mágico que se chama futebol!
Num assomo de dignidade, o Liverpool montou o cerco ao Arsenal, conseguindo reduzir o resultado para 3-5, por entre a euforia(!?) dos seus adeptos. Os londrinos, contudo, "matariam" em definitivo o jogo com o 3-6 final, novamente da autoria da figura da partida, Júlio Baptista. Ambas as equipas foram despedidas com o aplauso de todo o estádio.

Duvido que isto (ou algo de parecido) se passasse em qualquer dos nossos estádios. É uma questão de cultura. Eu preferiria viver um "jogo inglês". Talvez um dia...

ELSA

#13
Mais um belo texto, Cardoso!

Pela minha parte destaco:

"Hoje em dia há uma certa confusão de papéis no mundo da bola: treinadores a fazer de comentadores de televisão, jogadores vedetas sociais ou então a dar entrevistas cheias de pontapés na gramática, árbitros a decidir resultados, empresários a deliberar quem joga e onde joga, políticos a fazer análises desportivas, etc. etc. Penso eu que tudo seria muito mais simples se os jogadores se limitassem a jogar à bola, os jornalistas a transmitir notícias, empresários a apoiar e defender os seus representados sem se imiscuírem nos clubes e dirigentes que se limitassem a gerir o seu clube sem se atascarem em jogos de influência e compadrios. Mas não! Anda tudo trocado e é por isso que o nosso futebol está a tornar-se uma verdadeira selva em que os macacos chafurdam no rio enquanto os hipopótamos trepam às árvores."

É mesmo isso...

E o seu conteúdo ou a sua principal mensagem não deixa de ser o pragmatismo da realidade (se é que assim se pode dizer!?!?!).

Mas claro, Pedro Ribeiro, quem de nós não gostaria de "talvez um dia" ver qualquer coisa parecida com o que se vê nos estádios ingleses...com muita pena minha/nossa, não será tão cedo!




El_Gavion

Quote from: Pedro Ribeiro on 19 de February de 2007, 16:31
Num período tão conturbado no nosso clube, quer em termos da gestão desportiva do seu futebol quer em termos da sua relação com os seus adeptos (reais e potenciais), apetece-me esquecer um pouco esses problemas, deixar assentar a poeira e falar um pouco de futebol para discordar, pelo menos em parte, do que dizes, caro Cardoso.

Subscrevo contudo a ideia de que os agentes desportivos (dirigentes, técnicos, árbitros e jogadores) têm o dever de perceber que a razão de ser do futebol e, portanto, do seu lugar no desporto está na paixão que arrasta multidões. Sem adeptos, o futebol não faz sentido, muito menos como actividade económica que hoje efectivamente é. E assim sendo, devem ser suficientemente inteligentes para saber seduzir adeptos, conquistados e por conquistar. Algumas palavras destes agentes, ainda que possam ter alguma razão de ser, pecam pela forma, hostilizando os adeptos que supostamente deveriam seduzir. Não precisamos de ir muito longe para perceber o alcance destas minhas palavras.

Coisa diferente é dizer que são as equipas que devem "puxar" pelos adeptos e não estes pelas equipas. Em Portugal, em termos gerais, são de facto as equipas que "puxam" pelos adeptos. Há questões idiossincráticas que nos definem como povo que o determinam, mas para mim este é apenas um sintoma da falta de cultura futebolística reinante. Em Portugal, não se gosta de futebol. Gosta-se de ver a equipa a ganhar. Não se percebe que há onze jogadores de cada lado e que só se joga o que o adversário permite...

Vou ilustrar isto com um exemplo. Há umas semanas atrás, vi na televisão um dos jogos mais fantásticos de que me recordo assistir. Foi o Liverpool-Arsenal, a contar para a Taça da Inglaterra. Os londrinos haviam batido no fim-de-semana anterior o mesmo adversário em Anfield Road por 3-1. Nesta partida, tanto Rafa Benitez como Arsène Wenger optaram por apresentar onzes com várias segundas figuras - ainda assim jogadores de grande nível. O jogo decorreu em ritmo frenético, mais ou menos equilibrado até perto do final da primeira metade, antes de o Arsenal marcar dois golos de rajada e estabelecer o placar em 1-4 ao intervalo. No regresso para a segunda parte, o Arsenal beneficia de uma grande-penalidade que o brasileiro Júlio Baptista (que varia a marcar 4 golos na partida) se encarregaria de falhar. Logo a seguir contudo, o mesmo Baptista faria o 1-5. A magia aconteceu a seguir. Com a sua equipa destroçada, copiosamente derrotada em casa frente a um clube rival, todo o Anfield Road se levantou e a uma só voz cantou a plenos pulmões o mítico "You'll never walk alone". Fantástico!!! Arrepiante!!! Que paixão! que manifestação de respeito por esse jogo mágico que se chama futebol!
Num assomo de dignidade, o Liverpool montou o cerco ao Arsenal, conseguindo reduzir o resultado para 3-5, por entre a euforia(!?) dos seus adeptos. Os londrinos, contudo, "matariam" em definitivo o jogo com o 3-6 final, novamente da autoria da figura da partida, Júlio Baptista. Ambas as equipas foram despedidas com o aplauso de todo o estádio.

Duvido que isto (ou algo de parecido) se passasse em qualquer dos nossos estádios. É uma questão de cultura. Eu preferiria viver um "jogo inglês". Talvez um dia...

Foi exactamente nisto que eu pensei quando li a crónica do Cardoso!Não assisti a esse jogo,mas isso acontece constantemente em Inglaterra (sobretudo em Liverpool) e é isso que me fascina e me faz considerar o campeonato inglês o melhor do Mundo em termos globais.E é por isso que eu tenho o sonho de ir assistir a um jogo em Inglaterra (pode ser que esse sonho esteja próximo,se "paparmos" o Parma).
SC BRAGA: QUEM NÃO SENTE,NÃO ENTENDE!!

cardoso

Pedro e Gabiom
acho que me exprimi mal: não digo em lado nenhum a frase que tu, Pedro, me atribuis: "são as equipas que devem "puxar" pelos adeptos e não estes pelas equipas". O que eu digo é que estou farto de jogadores mimados que precisam de festinhas e palminhas para fazer a sua obrigação.
Dizem vocês e muito bem que em Inglaterra o povo apoia largo. Pois apoia e é bonito. Mas também te digo que lá os "manguelas" chorões como o Nani não existem. Reparem, os tipos jogam no Natal, no Ano Novo, na Páscoa... e nós passamos um mês sem bola porque suas excelências têm de descansar.
É claroq ue compreendo a vossa posição e concordo que com um apoio incondicional do público o espectáculo é outro. Mas ninguém é obrigado a aplaudir quando os artistas fazem de conta que jogam. Em Inglaterra será só o público que é diferente?

Che:
é às sextas.

disco infiltrator

Inglaterra é outra realidade totalmente diferente. As pessoas gostam de DESPORTO e respeitam os desportistas. Os desportistas respeitam o público que é a razão da existênia da sua profissão. É uma questão cultural e de educação.
Esta nunca será a realidade em Portugal, por varíiadíssimas razões.

Em Portugal as pessoas não gostam de desporto. Aliás, não existe cultura desportiva. Os portugueses gostam dos clubes de futebol sendo que cerca de 90% da população gosta de um dos 3 chamados grandes. As pessoas não sentem as suas raízes e é natural uma pessoa do Minho ser adepta de um clube de Lisboa. Essas mesmas pessoas insultam os jogadores do clube da sua terra no jogo com o "seu" clube de Lisboa. Algo impensável em Inglaterra e em outros países.
É tudo diferente, aqui um jogador que "saca" faltas é esperto em Inglaterra é assobiado por todos e não merece respeito. Em Inglaterra os adeptos apoiam o seu clube desde o início do jogo, em Portugal começam a apoiar quando marca um golo. Em Portugal existem 3 jornais desportivos diários em que os protagonistas quase nunca são os desportistas ou quando o são, é porque são futebolistas dos 3 grandes e muitas vezes por razões extra-desportivas. Em Inglaterra todos sabem quem deverá ter protagonismo - com certeza que não serão os dirigentes.

Acima de tudo é uma questão de cultura. Não é que em Portugal não existam clubes com adeptos apaixonados e que engrandecem o clube. Por muito que custe aos braguistas os nosso vizinhos de Guimarães são uma referência de adeptos que sentem o clube e o apoiam nos maus e bons momentos. Sendo esta fase que o clube deles atravessa a prova disso - os adeptos continuam presentes.

Tenho esperança que o meu SCB um dia também tenha uma massa adepta como o clube e a cidade de Braga merecem.

Quote from: disco infiltrator on 20 de February de 2007, 01:14

Acima de tudo é uma questão de cultura. Não é que em Portugal não existam clubes com adeptos apaixonados e que engrandecem o clube. Por muito que custe aos braguistas os nosso vizinhos de Guimarães são uma referência de adeptos que sentem o clube e o apoiam nos maus e bons momentos. Sendo esta fase que o clube deles atravessa a prova disso - os adeptos continuam presentes.

Concordo com o que dizes, com excepção deste parágrafo. Esles que continuem alguns anos na 2ª divisão e verás quantos ficam!
A questão da dimensão humana de um clube está relacionada com o historial.
Infelizmente em Portugal, e talvez noutros países(?!?), ao invés do bairrismo e apego aos símbolos da terra, existe o culto do vencedor. Já há muito tempo que pelido os adeptos dos 3"G" como adeptos das vitórias.
---------------------------------------///----------------------------------

Em relação oa texto do Cardoso, acho que ele salienta bem o facto de em Portugal se dar ênfase aos dirigentes, aos árbitros, às mesquenhices ao invés de realçar o que realmente importa.
Em relação ao texto do Cardoso, que subscrevo quase na totalidade, gostaria de acrescentar que no futebol existe competição. Estão duas equipas em confronto, muitas vezes a desigualdade de valor é tremenda e o apoio do público pode sem dúvida transfigurar uma equipa.
Força Gverreiros

Aquiles

Caro Pedro Ribeiro,

Gostei do exemplo que deu sobre o jogo em Inglaterra. Ocorre que eu me recordo de um Braga-Guimarães, com pouco publico nas bancadas e com Cajuda no Banco, em que o Enorme estava empatado e após expulsão de um espanhol o cajuda tirou um defesa e ficamos só com 3... a seguir foi expulso um outro defesa do Braga e por ultimo um dos dois restantes lesionou-se e ficamos só com 1 (!!!) defesa e no entanto a nossa equipa continuou a atacar como loucos dando um verdadeiro espectaculo de raça e querer!
São esses exemplos que fazem valer a pena ir ao futebol...

PAF

Lembro também o ultimo jogo Braga-Maritimo (1-4) em que os adeptos do braga tiveram desde que eu me lembro a atitude mais inesperada... aplaudiram a equipa, coisa muito rara em Portugal, especialmente quando se perde e neste caso uma derrota pesada.
foi dos dias em que perdemos mas saí de lá com um sorriso, vai ser um jogo que muito dificilmente esquecerei