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Pronúncia do Norte (artigo em blog)

Started by Ricardo, 07 de May de 2011, 13:29

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Ricardo

Um artigo no blog (em jogo, blog do sapo). Imparcial e com muito do que nós falamos por aqui, em relação ao Braga, ao seu crescimento e às diferenças com outros clubes "aventureiros". Nâo sei s isto foi publicado noutro tópico (procurei mas não encontrei). Estejam à vontade para mover.



Por Miguel Lourenço Pereira

46 quilómetros. Um diâmetro espacial que é menor do que une muitas das grandes cidades do Mundo. O espaço que separa o estádio do Dragão do estádio Axa. O Porto de Braga. Os dois finalistas da Europe League 2011. Um feito histórico para o futebol português. Um feito histórico para uma região que tem sentido, como nenhuma outra, o desmoronar da economia comunitária. Nesses 46 quilómetros vivem os projectos, as ilusões e as esperanças. Passe o que passar eles chegaram lá. A Dublin. Cidade com pronúncia do norte...

Um salto na história. Um salto desafiante. Um salto preciso.
O golo de Custódio gelou um país habituado à ladainha dos "seis milhões", um país que não entende de diferenças de credo. Um país que, ainda hoje, se esquece que há vida para lá da capital, que há vida para lá do império imaginário. O salto de Custódio, um puto de Guimarães que se fez herói em Braga. Coisas da vida! O salto de um jogador dispensado por um grande da capital e que deixou de ser uma promessa para passar a ser mais um zé-ninguém. Assim funcionam as coisas em Portugal. Palavras que Miguel Garcia e Hugo Viana poderiam fazer suas. Os três estavam lá e testemunharam aquele salto imenso que transformou um clube regional numa potência europeia. O Sporting Clube de Braga, esse clube que parecia uma moda passageira, é o 100º finalista de uma prova da UEFA. A quarta equipa portuguesa em lograr esse feito histórico. A primeira a deixar outra equipa nacional pelo caminho. Sem contestação.
Um projecto pequeno que a imprensa lusa sempre tentou empequenecer sem entender que os partidismos nacionais na Europa perdem todo o sentido. Este Braga, uma equipa com as contas em dia, uma equipa sem dividas e fundos a que recorrer quando as coisas apertam, é um caso sério. Desde a chegada de António Salvador transformou-se num autêntico grande, feito que só o Boavista pode reclamar fora do circulo dos três clubes que têm asfixiado o futebol português. Com a desaparição momentânea dos axadrezados destas contas e o progressivo empequenecimento do Sporting, o Braga tinha a oportunidade de dar um murro na mesa. Em 2010 o titulo perdeu-se por muito pouco, em 2011 Dublin conseguiu-se por pequenos detalhes. Estavam Vandinho e Mossoró desta vez. Estavam aqueles que aprenderam a lição de como se joga este tipo de duelos. E estava, sobretudo, uma equipa com fome de desforra. Ás vezes é o que basta. Isso e um salto imparável para furar os livros de história.
Os 46 kilómetros que separam Braga da cidade do Porto são quase a mesma distância da mais longa avenida do mundo. É muito para um país pequeno e muito pouco para um Mundo tão grande. As provas da UEFA já acolheram finais entre clubes do mesmo país mas nunca com uma proximidade geográfica tão gritante. Bracarenses e portuenses são quase vizinhos e em Dublin a festa terá uma forte pronuncia nortenha. Com sotaque do Porto.
Domingos Paciência era aquele miudo de Leça que mal tinha para comer e que muitas vezes lançava na casa dos amigos porque estes sabiam que em sua casa só lhe esperava uma sopa. Esse herói das Antas tornou-se no messias da pedreira de Braga. Quando em 1994 o inglês Bobby Robson parecia ter perdido a confiança no esguio dianteiro um miúdo de 13 anos aproximou-se dele perto de sua casa e explicou-lhe como tinha de aproveitar as capacidades do internacional português. Esse miúdo, portuense de gema, que nunca passou fome nem lhe faltou nada, transformou-se no homem dos recordes e aos 33 anos no mais jovem técnico a chegar a uma final europeia. André Villas-Boas e Domingos Paciência representam dois lados bem diferentes da Invicta, da vida que pautou o norte de Portugal desde sempre. E o futebol uniu-os de tal forma que até na glória mútua acabam por ter de se reencontrar. Da mesma forma que o FC Porto se tornou um clube internacional depois do desprezo da capital que queria reduzir os azuis e brancos a "andrades" de província com uma final europeia (então perdida para a toda poderosa Juventus em 1984), também o Braga conseguiu soltar-se desses preconceitos sociais para fazer história. Celtic, Sevilla, Liverpool, Dynamo de Kiev e Benfica, todas elas equipas com títulos europeus no seu brilhante curriculum que não souberam aguentar o vendaval bracarense. Um vendaval em quem ninguém acreditou, eliminatória após eliminatória. Se ao FC Porto era reconhecido o seu favoritismo, que se foi cimentando a cada jogo e acabou numa eliminatória histórica face ao Villareal, ao Braga estava destinado o papel de patinho feio. Talvez por isso a equipa de Domingos seguiu sempre em frente, porque não teve de se preocupar em olhar para o espelho.
O Benfica, o terceiro português em discórdia, era o favorito. Antes de arrancar a Liga, antes de arrancar a Champions League e antes de arrancar a Europe League na sua fase a eliminar. Mas perdeu demasiado tempo a olhar-se reflectido num espelho enganador. Sem pernas, sem atitude, sem destreza mental, os encarnados actuaram numa semifinal europeia convencidos que estavam num duelo nacional sem grande importância. A arrogância, sempre patente no discurso do seu técnico, desencontrou-se com a realidade. Talvez se a eliminatória tivesse sido trocada e o duelo fosse com os espanhóis a equipa tivesse reagido de outra forma. Pagou o preço do pecado mortal que no futebol não perdoa, o orgulho. E assinou por baixo uma época a todos os títulos decepcionante. Não soube estar à altura da sua história, dos seus pergaminhos e do seu próprio futebol. O espelho mentiu, mas só a eles, porque havia muitos que conseguiam ver para lá da ilusão.

18 de Maio tornar-se-á num dia histórico para Portugal. Mas talvez a ausência dos representantes do centralismo asfixiante transforme uma festa europeia numa reunião de vizinhos. O impacto mediático dado, em Portugal pelo menos, será bem diferente se os rostos fossem outros. É de esperar, afinal não seria a primeira vez. Mas a Europa estará forçosamente atenta e tentará descobrir o que está no meio destes 46 quilómetros que unem mais do que separam. Do Bom Jesus de Braga vê-se o Douro? Talvez não, mas o eco da pronuncia do norte já se ouve lá longe nas areias dançantes de Dublin...

http://emjogo.blogs.sapo.pt/204413.html
Em Braga, Com o Braga, Pelo Braga
www.mesadaciencia.blogspot.com

bruno scb

Sou do Braga até morrer

andre_carneiro

Muito bom texto!

Realmente acho que transcreve os nossos pensamentos e os comentários que aqui postamos...

Que Dublin seja o palco de uma grande festa do norte!
[url="http://forum.bracarae-avgvste.com/index.php"]http://forum.bracarae-avgvste.com/index.php[/url]

comandantX

Quote from: Ricardo on 07 de May de 2011, 13:29
Um artigo no blog (em jogo, blog do sapo). Imparcial e com muito do que nós falamos por aqui, em relação ao Braga, ao seu crescimento e às diferenças com outros clubes "aventureiros". Nâo sei s isto foi publicado noutro tópico (procurei mas não encontrei). Estejam à vontade para mover.



Por Miguel Lourenço Pereira

46 quilómetros.

Bracarenses e portuenses são quase vizinhos e em Dublin a festa terá uma forte pronuncia nortenha. Com sotaque do Porto.

Talvez não, mas o eco da pronuncia do norte já se ouve lá longe nas areias dançantes de Dublin...

http://emjogo.blogs.sapo.pt/204413.html

1º São 55km

2º Com sotaque do Porto??? Foi do Minho que nasceu Portugal e o seu idioma...e já Braga havia sido capital de vários Reinos...enquanto o Porto, ou melhor Gaia, era um local de embarque marítimo (de passagem). Chama begueiro ao jornalista e vê lá se algum habitante do Porto pesca essa...como muitas outras. E não tenho dúvidas que de muito calão eles se apropriaram com a ida de muitos migrantes oriundos do Minho para aquelas bandas.
Braga - Capital Histórica do Noroeste Peninsular

Ricardo

comandante, creio que se estava a referir ao facto de os dois treinadores serem do Porto. Alias, essa foi a parte do texto que menos gostei

abraco

PS - sao 55km por estrada. 46 em linha recta.
Em Braga, Com o Braga, Pelo Braga
www.mesadaciencia.blogspot.com

disco infiltrator

Excelente artigo!

Temos que valorizar o Norte de Portugal. O Norte que não é só o Porto, como muitos portistas e portuenses muitas vezes querem dar a entender. O Norte é muito mais que isso. É o motor, ou era, de Portugal. E, quer se queira quer não, as gentes do Norte são diferentes. Encontro muitos portugueses pelo mundo mas quando encontro um do Norte é tudo muito mais natural e espontâneo.

Tenho muitos amigos de Lisboa e do Sul, alguns até são dos meus melhores amigos. Contudo, como muitos deles admitem, as gentes do Norte são outra coisa...

E isto não é para distinguir os clubes de futebol do Norte dos outros. Tirem os adeptos nortenhos ao benfica e verão que a tal "catedral" perde metade da assistência. Sem as gentes do Norte esse clube fecha de vez.

Fico preocupado quando vejo o centralismo a aumentar em Portugal, quando vejo o estado das indústrias do Norte, quando vejo tanto desemprego. E continuo a ver uma cidade, que é a capital do país, que vive de serviços e que usufrui de muitos mais recursos que o resto de Portugal.

Algo está errado e está a piorar mais ainda....

FIDELIS

excelente texto


e excelente reflexão do Disco

Fidelis Bracara
Braga e Basta

jaimec

Boa leitura, bem escrito. Interessante a curiosidade sobre os treinadores. Nota-se o carácter humilde do nosso grande treinador na nossa equipa .

Nuno À-Braga

Não sou nortenho: sou MINHOTO!

Mas o texto é muito interessante, pecando por ser, manifestamente, escrito por um portista.

DiogoEA

Quote from: Nuno À-Braga on 09 de May de 2011, 09:57
Não sou nortenho: sou MINHOTO!

Mas o texto é muito interessante, pecando por ser, manifestamente, escrito por um portista.

Obrigado!
Poupaste-me ao que ia dizer.