Artigo Diário do Minho: Se fossem só os árbitros...

[cardoso]

Qualquer pessoa pode errar; mas ninguém que não seja tolo persiste no erro – Cícero

Começam a contar-se pelos dedos de meia mão as arbitragens normais (já não digo boas) em cada jornada da Liga. Não vou aqui entrar em polémicas sobre a forma de resolver este imbróglio. Já muito se disse, já muito se escreveu e nem por isso as coisas mudam. Isto já não vai lá com crónicas, nem com opiniões, nem com palavras de qualquer espécie. Como é que isto "vai lá"? Nem vou escrever a minha opinião para que não me aborreçam com epítetos menos abonatórios.
Portanto, em vez de enunciar soluções prefiro reflectir um pouco nas causas. Porque erram os árbitros?
Diz-se que errar é humano mas as arbitragens vergonhosas que temos visto nos últimos tempos ultrapassam a humanidade do erro. Sim, porque se errar é humano, os árbitros abusam bastante dessa humanidade... Há coisas mais profundas que facilitam o fenómeno. Uma delas, talvez a mais importante, é uma espécie de instituição nacional, algo de tão português como o fado ou a saudade: a impunidade. Quando li o interessante livrinho de José Gil, Portugal Hoje, fiquei um pouco contrafeito perante a importância que ele dá ao trauma do fascismo. Mas, reflectindo sobre o assunto, parece-me que não andará muito longe da verdade. Os quarenta e oito anos de ditadura habituaram os portugueses ao medo. Depois, o 25 de Abril trouxe a liberdade e a democracia tão ansiadas mas trouxe também os efeitos secundários (tão sobre-valorizados por alguns saudosistas). Um desses efeitos foi o sentimento de impunidade que se instalou. E hoje, 32 anos depois, talvez ainda não tenhamos conseguido encontrar o ponto de equilíbrio. Na verdade, é compreensível que um povo que passou 48 anos amordaçado, tenha tendência para cair em extremos opostos. Mas 32 anos não seriam suficientes para encontrar o fiel da balança? Hoje em dia, todo o crime tem atenuantes, tudo se desculpa ou se ignora. Muitas vezes o poder fecha os olhos porque quem não vê não é obrigado a agir. Alguns desculpam-se com a "boa fé" para não acusar ninguém. Porque para a maioria das pessoas é muito importante estar bem com todos. Sim, porque "nunca se sabe quando vamos precisar deles". Esta expressão, esta frase tantas vezes ouvida é absolutamente cobarde e abominável. Ela exprime a predisposição das pessoas para a corrupção, os "arranjinhos" e o tráfico de influências com que tantas vezes deparamos. Mais uma vez o futebol é o espelho da vida. Os nossos líderes tudo fazem para que os pequenos venham de chapéu na mão implorar os favores do "Senhor Ingenheiro" e para estabelecer uma relação com os seus pares que facilite o bem de todos, a santa paz do "deixa andar". Hoje ganhas tu, amanhã ganho eu e no fim ganhamos ambos.
Vamos mais uma vez cair no velho chavão de que a causa disto tudo está na mentalidade? Talvez. Mas a História ensina-nos que as mentalidades também mudam. Porque os podres do futebol têm origem no lado negro da alma humana. Disso não tenho dúvidas. Muita coisa neste mundo anda mal e está cada vez pior. Porquê? Porque, tal como no futebol mas não só, há um culto global do egoísmo, da competição desenfreada e um culto do poder que os senhores do mundo se encarregam de demonstrar mesmo que para isso tenham que morrer uns milhões de pessoas. Muitos até se escondem por trás de moralismos bem calculados, para defender e impor aos outros as suas verdades absolutas.
Tal como no cesto das cerejas, também no futebol e na vida tudo está ligado: não há corrupção sem luta pelo poder; não há injustiças sem egoísmo. É por isso que, enquanto o futebol estiver entregue aos interesses económicos e ao poder, isto não "vai lá". Nem o futebol nem o mundo...
Entretanto, o que fazer? Talvez assobiar. Ou, talvez, esperar por aquele dia em que os homens, em geral, descubram que a vida não é um jogo em que os outros se dividem em dois grupos apenas: os inimigos e os aliados de interesse.

[Afonso Matos]

Fonix, Cardoso...

[Pé Ligeiro]

Cardoso,
Este teu artigo é muito abrangente e vai muito além do futebol. Há relações ou associações que fazes neste artigo que não sei se de facto serão ou não relacionáveis . O título do artigo é sobre o erro dos árbitros, que convenhamos, têm ultrapassado ao longo dos anos os valores aceitáveis de tolerância ao erro.
A certa altura deixas-te comover pelos encantos da nossa democracia por contra-ponto com o regime anterior, que felizmente não vivemos (em consciência), e parece que ficas admirado por terem passado 32 anos da revolução que derrubou esse regime e ainda padecermos( o país) de grandes males que parecem quase incuráveis. Pois, são os espinhos da democracia que temos que suportar, mas temos também obrigação de ir mais além e tudo fazer para irradicá-los. De facto, até hoje ainda não foi encontrada uma forma séria eficaz e duradoura de enfrentar determinados poderes obscuros que contaminam a sociedade em que vivemos. O facto de vivermos numa democracia jovem, dá azo a que alguns, bem posicionados na nossa sociedade, facilmente se façam valer do seu lugar ou função para obter benefícios ou benesses a que não teriam direito por mérito próprio.
Já os Romanos diziam que nós somos um povo "que não se governa, nem se deixa governar", portanto, o mal já vem de longe...
Vamos pensar positivo e ter esperança que o futuro trará inevitavelmente aperfeiçoamentos ou correcções ao sistema actual. Penso que uma das grandes correcções necessárias é na justiça. É preciso credibilizá-la. É preciso que o prevaricador pague pelos seus actos, independentemente de ser ou não pessoa influente ou com muito dinheiro. Lembro-me a este propósito do novo Procurador-Geral da República que irá tomar posse em 9 de Outubro. Será para mim, o primeiro elemento de esperança nesta área, a quem desejo que tenha o maior sucesso e que consiga fazer emergir a  nossa justiça do lodaçal em que se encontra.
Seremos mais felizes quando pudermos pronunciar alegremente e sem dúvidas as palvras: Liberdade, Justiça, Solidariedade, Fraternidade...
Há aqui muito pano para mangas, mas por agora fico por aqui.

[Zé]

"Entretanto, o que fazer? Talvez assobiar. Ou, talvez, esperar por aquele dia em que os homens, em geral, descubram que a vida não é um jogo em que os outros se dividem em dois grupos apenas: os inimigos e os aliados de interesse."

Espera sentado Cardoso. espera sentado...

Em relação aos diversos temas que te levam a insurgir acho que tens razão... o egoísmo, a competição desenfreada e o culto do poder. Permite acrescentar o culto da imagem/ do vencedor.
Resumindo tudo numa palavra: DINHEIRO! A questão está sempre no dinheiro. tudo se faz por dinheiro mesmo no futebol. porque estar na Superliga representa muito dinheiro; ser árbitro de 1ª categoria significa 2000/3000 euros no final do mês; vender e comprar jogadores implica muitas comissões, etc, etc...
Meus amigos, os BMW, resorts de luxo, fatos armani, mansões com piscina interior, etc... custam muito dinheiro...

[Vlad]

Não devia ler os textos do cardoso antes de ir para a cama... um gajo fica a pensar e depois custa adormecer! Mas provavelmente é isso mesmo que o Cardoso quer! Pôr o leitor, no mínimo, a pensar! ( e não as insónias )

[ZGANDULO]

Fonix, Cardoso...

NÃO É O FÓNIX!!!- FOI O CARDOSO!!!

PARABÉNS CARDOSO, MAIS UM ENORME TEXTO SOBRE A TRISTE REALIDADE!!!

[Manuel Pereira]

Mais uma vez ajoelho a ler o excelente artigo do maior cronista braguista.
Parabéns Cardoso!

Saudações braguistas.

[Mau Maria]

Bom dia Cardoso e outros que tais.

De facto, e sem querer falar de soluções, foste pelo caminho das causas... os egoísmos, os clubismos, os "padrismos" (de padrinhos), etc, etc.... No fundo o que tu abordas é fundamentalmente a questão cultural e a educação nossa sociedade actual.

A democracia tem uma característica fundamental que é a necessidade de existir uma população minimamente formada, detentora de uma opinião livre e sábia. E 32 anos depois, a conclusão é que estamos ainda muito longe daquilo que é uma população minimamente formada, tanto a nível cultural, educacional e social. É este facto que leva os tais "Senhores Engenheiros" ou "Doutores" a usarem a abusarem da nossa mediocridade mental.

E isto comprova-se, e focalizando no caso do futebol, isto comprova-se com a atitude dos adeptos perante as indignidades dos árbitros. Os erros cometidos só o são quando envolvem directamente o nosso clube. Quando se passa com o vizinho o que soa no ar, são alguns "risinhos" abafados, são as expressões "eles merecem", são ideias tipo queremos é ganhar nem que seja com meio golo (isso na legalidade, na honestidade não existe, mas se acontecesse e desse a vitória à nossa equipa a gente aceitava e ficava em festa, e pior de tudo é aquela ideia de que "eles foram prejudicados hoje mas ontem foram beneficiados". Esta ultima ideia é do pior que se pode pensar em democracia, é dar olhos à justiça... MAS ESSA TEM É QUE SER CEGA E PRONTO...caso contrário é a justiça das bananas.

Pois é, para não me alongar mais, eu penso que as causas estão identificadas, as máfias também, a justiça é a das bananas, mas o que aqui quero realçar é a posição daqueles que consomem futebol, os tais que afinal de contas dão cobertura a tudo isto pelo seu silêncio quando o mal é dos outros, pela falta de solidariedade para com quem tem razão (veja-se o caso do Gil Vicente... remetido à sua insignificância pelas várias entidades responsáveis, e os povo do futebol aceita e cala, nem uma faixa nos estádios a demonstrar solidariedade e a pedir justiça, dê por onde der – mesmo o nosso clube saindo das competições europeias, mesmo a selecção deixar de jogar... a justiça é o mais importante).

E depois anda-se por aqui a gastar a palavras a discutir a falta de adeptos nos estádios... pois eu digo que hoje em dia a maioria daqueles que frequentam os estádios têm a moral do "regime"... E são esses "moralistas" que afastam aqueles que na realidade conseguem de alguma forma atingir os tais mínimos culturais e educacionais... esses sim poderiam ser factor de mudança.

Abraço.

[Zé]

Permitem-me lançar umas achas para a fogueira.
Não tenho dados concretos mas parece-me que apesar de tantos casos  de corrupção e injustiças, não há, nos últimos tempos, uma diminuição acentuada dos espectadores nos estádios da Superliga. Acho inclusive que há cada vez mais pessoas que começam a interessar-se pelo futebol, nomeadamente no sexo feminino.
A ser verdade...
Será que as pessoas conseguem  ligar e desligar de uma situação conforme os desejos?
Será que as pessoas ficam indiferentes a fenómenos que possam viciar uma competição? O que interessa é o seu clube ganhar?

[BRAGA FOREVER]

Permitem-me lançar umas achas para a fogueira.
Não tenho dados concretos mas parece-me que apesar de tantos casos  de corrupção e injustiças, não há, nos últimos tempos, uma diminuição acentuada dos espectadores nos estádios da Superliga. Acho inclusive que há cada vez mais pessoas que começam a interessar-se pelo futebol, nomeadamente no sexo feminino.
A ser verdade...
Será que as pessoas conseguem  ligar e desligar de uma situação conforme os desejos?
Será que as pessoas ficam indiferentes a fenómenos que possam viciar uma competição? O que interessa é o seu clube ganhar?

É importante não esquecer que a média de espectadores aumentou devido ás condições oferecidas pelos novos estádios.

[braguista365]

Grande texto!
Grande no sentido didatico e de reflexao,claro!Parabens por mais um!

[Zé]

Permitem-me lançar umas achas para a fogueira.
Não tenho dados concretos mas parece-me que apesar de tantos casos  de corrupção e injustiças, não há, nos últimos tempos, uma diminuição acentuada dos espectadores nos estádios da Superliga. Acho inclusive que há cada vez mais pessoas que começam a interessar-se pelo futebol, nomeadamente no sexo feminino.
A ser verdade...
Será que as pessoas conseguem  ligar e desligar de uma situação conforme os desejos?
Será que as pessoas ficam indiferentes a fenómenos que possam viciar uma competição? O que interessa é o seu clube ganhar?

É importante não esquecer que a média de espectadores aumentou devido ás condições oferecidas pelos novos estádios.

Concordo BF... mas o ambiente de suspeição em torno do futebol hoje é avassalador e as pessoas continuam a ir.

[cardoso]

Permitem-me lançar umas achas para a fogueira.
Não tenho dados concretos mas parece-me que apesar de tantos casos  de corrupção e injustiças, não há, nos últimos tempos, uma diminuição acentuada dos espectadores nos estádios da Superliga. Acho inclusive que há cada vez mais pessoas que começam a interessar-se pelo futebol, nomeadamente no sexo feminino.
A ser verdade...
Será que as pessoas conseguem  ligar e desligar de uma situação conforme os desejos?
Será que as pessoas ficam indiferentes a fenómenos que possam viciar uma competição? O que interessa é o seu clube ganhar?

Boas achas, sem dúvida!
Na minha opinião o factor que determina essa "teimosia" é a paixão. O futebol é superior a tudo isso porque é do domínio da paixão, do dominio da emoção e não da consciência moral ou social.
Não são as vitórias (que dirão dos vimaranenses?). Não se trata de ligar e desligar conforme os desejos (um ferrenho não desliga). É a paixão, Zé, é a paixão!

[cardoso]

Ferreira, os meus textos são limitados a um máximo de 4000 caracteres, pelo que por vezes não consigo explicar tudo no mesmo texto. É o caso deste; há ligações que não expliquei bem por falta de espaço. Mas prometo que quando tiver tempo voltarei ao assunto.
A todos vocês, mais uma vez, obrigado pelo encorajamento. Mas vocês são uns exagerados;)))

[Zé]

Permitem-me lançar umas achas para a fogueira.
Não tenho dados concretos mas parece-me que apesar de tantos casos  de corrupção e injustiças, não há, nos últimos tempos, uma diminuição acentuada dos espectadores nos estádios da Superliga. Acho inclusive que há cada vez mais pessoas que começam a interessar-se pelo futebol, nomeadamente no sexo feminino.
A ser verdade...
Será que as pessoas conseguem  ligar e desligar de uma situação conforme os desejos?
Será que as pessoas ficam indiferentes a fenómenos que possam viciar uma competição? O que interessa é o seu clube ganhar?

Boas achas, sem dúvida!
Na minha opinião o factor que determina essa "teimosia" é a paixão. O futebol é superior a tudo isso porque é do domínio da paixão, do dominio da emoção e não da consciência moral ou social.
Não são as vitórias (que dirão dos vimaranenses?). Não se trata de ligar e desligar conforme os desejos (um ferrenho não desliga). É a paixão, Zé, é a paixão!

Vou por partes.
Quando digo ligar ou desligar de uma situação refiro-me à percepção que existe corrupção no futebol.
Quando dizes que o futebol é superior a tudo isso porque é do domínio da paixão, concordo, todavia isso não impede que brademos ao céu a clamar por justiça se a situação proporcionar. O que irá despoletar a consciência moral ou social apesar de estarmos no domínio da paixão será a malfadada derrota.
Será assim, Cardoso?

[cardoso]

Vou por partes.
Quando digo ligar ou desligar de uma situação refiro-me à percepção que existe corrupção no futebol.
Quando dizes que o futebol é superior a tudo isso porque é do domínio da paixão, concordo, todavia isso não impede que brademos ao céu a clamar por justiça se a situação proporcionar. O que irá despoletar a consciência moral ou social apesar de estarmos no domínio da paixão será a malfadada derrota.
Será assim, Cardoso?

Pois é caro amigo, acho que já te conheço ) Onde queres tu chegar é ao seguinte: só nos queixamos quando assaltam a nossa casa. Pois, os gajos até podiam ser os maiores ladrões e nós piavamos pianinho se não nos gamassem a nós. Mas agora que nos dói... ai ai!
É verdade, nós queremos, acima de tudo ganhar e por vezes calamo-nos quando o gamanço não nos atingiu.
Mas isso é normal e não impede que a consciência moral e social esteja activa mesmo quando ganhámos. Simplesmente, quando perdemos há mais gente a manifestar-se e há mais motivação para o fazer. É que, como se sabe, o ser humano não foi programado para agir em conformidade com o mal dos outros mas sim com o seu próprio. Infelizmente, digo eu, que sou tão humanamente egoista como qualquer outro.
Sabendo-se que o ser humano só se queixa quando lhe dói, é à justiça que cabe manifestar-se e agir. Pelo contrário, muitas vezes, a justiça só entra em acção quando alguém aponta o dedo acusador. Tá male, como diz o outro!