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UEFA implementa fair-play financeiro a partir de 2013-2014

Started by Olho Vivo, 18 de October de 2010, 12:58

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Olho Vivo

Conheça as regras da UEFA para o «fair play» financeiro

Por Rogério Azevedo

Em 2013/14, qualquer clube profissional da Europa que tenha gasto mais do que recebeu na época desportiva anterior ficará fora das provas europeias ou, se não se tiver classificado para a Liga dos Campeões ou para a Liga Europa, sofrerá multas pesadas da UEFA.

Dentro de três anos, precisamente na tal temporada de 2013/14, entrará em vigor o chamado fair play financeiro, conjunto de regras cuja meta é garantir a saúde financeira dos clubes europeus e tornar o futebol viável a longo prazo.

O controlo das contas será feito através de uma auditoria e o não cumprimento dessas regras fará com que os clubes em falta sofram punições severas.

Para a fiscalização e monitorização destas medidas, avaliando a documentação submetida pelo órgão licenciador e, se necessário, requisitando informação adicional, a UEFA contará com um órgão independente, presidido pelo antigo primeiro-ministro da Bélgica (entre 1992 e 1999) e actual deputado europeu, Jean-Luc Dehaene: o Painel de Controlo Financeiro de Clubes.

As principais regras
E quais são, em síntese, as principais regras que este órgão terá de fiscalizar para implementar o tal fair play financeiro?
1 - Impedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas, através de fiscalização e aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida;

2 - Controlar os valores pagos a jogadores em salários e transferências, através de fiscalização e aconselhamento;

3-Controlar os níveis de endividamento dos clubes através de indicações e aconselhamento, para que possam apresentar um desenvolvimento financeiro sustentável;

4 - Limitar o número de jogadores em cada plantel, contribuindo dessa forma para reduzir custos, nomeadamente em salários e transferências.

A implementação deste conjunto de regras será faseada durante três anos: 2010, 2011 e 2012.

[Portugal:Três grandes falhariam dez apuramentos]


in A BOLA


Este (potencial?) novo cenário pode ser revolucionário para o futebol português, em geral, e também para o Braga como clube (SAD) que sistematicamente é deficitário em termos operacionais, apesar de pontualmente se permitir retirar resultados positivos da sua actividade global, via transferências. Na prática, é esse o modelo de praticamente todos os clubes portugueses.

Se este equilíbrio financeiro excluir as verbas resultantes das transferências, estou certo de que o futebol português regredirá imenso - pelo menos no curto prazo. Parece-me uma decisão errada da UEFA. Se a ideia é impedir que surjam "cometas" como o Chelsea e o Manchester City, clubes que se permitem acumular perdas sobre perdas monstruosas porque dispõem de "sacos de dinheiro sem fundo", é estúpido dificultar ainda mais a vida aqueles que formam (ou descobrem) novos atletas e graças a isso podem estar mais perto dos maiores clubes. Há que destrinçar as situações, sob pena de termos um futebol onde os grandes clubes (i.e., os que mais facturam na sua actividade corrente) passarem a dominar a bel-prazer o futebol internacional, sem que haja um mecanismo que permita a aproximação daqueles que geram menos recursos. Se as regras de equilíbrio financeiro excluírem as verbas de transferências o futebol português (e nós, por arrastamento) sofrerá um golpe mortal.

1

Pedro que te leva a dizer que não inclui o pagamento das transferências? Não me parece isso de todo, aliás não vejo lógica nenhuma nisso, num clube isso são despesas correntes não extraordinárias a meu ver, fazem parte do normal funcionamento dos clubes.

Esta medida só ia ajudar clubes como o Braga que tem desde que o Salvador lá está só deu, salvo erro, 2 vezes prejuízo.

Os "3 grandes" dão quase sempre prejuízo assim como a maior parte dos pequenos, mas esta medida ia permitir que se ajustasse o futebol para os valores que deve ter, não as fortunas de hoje que não fazem sentido.

Kriticus

Quote from: 1 on 18 de October de 2010, 14:46
Pedro que te leva a dizer que não inclui o pagamento das transferências? Não me parece isso de todo, aliás não vejo lógica nenhuma nisso, num clube isso são despesas correntes não extraordinárias a meu ver, fazem parte do normal funcionamento dos clubes.

Esta medida só ia ajudar clubes como o Braga que tem desde que o Salvador lá está só deu, salvo erro, 2 vezes prejuízo.

Os "3 grandes" dão quase sempre prejuízo assim como a maior parte dos pequenos, mas esta medida ia permitir que se ajustasse o futebol para os valores que deve ter, não as fortunas de hoje que não fazem sentido.

Sim, eu quando li a notícia também fiquei com a ideia que esta medida iria ser boa para nós! Irá prejudicar, isso sim, os clubes que fazem investimentos megalómanos ano após ano, e em Portugal temos assistido a isso nos últimos defesos... em tempo de crise!

Olho Vivo

Quote from: 1 on 18 de October de 2010, 14:46
Pedro que te leva a dizer que não inclui o pagamento das transferências? Não me parece isso de todo, aliás não vejo lógica nenhuma nisso, num clube isso são despesas correntes não extraordinárias a meu ver, fazem parte do normal funcionamento dos clubes.

Não sei se é assim. Depende do critério que for estabelecido pela FIFA.

No nosso relatório e contas 2009/2010, as mais-valias de transferências são integradas nos resultados extraordinários e não nos resultados operacionais.

De qualquer forma, mesmo que as verbas de transferências sejam incluídas nos critérios da FIFA, não acho correcto estabelecer a obrigatoriedade de um clube/SAD apresentar resultados positivos ano após ano. Penso que faria mais sentido, estabelecer um critério que exigisse que considerando um período de 2-3-4 épocas os resultados combinados de todas as épocas resultassem num saldo positivo. Isso permitiria, por exemplo, que um clube pudesse gerir um ciclo de forma mais tranquila, sem ter de vender sob pressão e ao desbarato os seus melhores atletas todas as temporadas. Mesmo assim, isso obrigaria a mais disciplina. Por exemplo, supondo que a FIFA pudesse estabelecer que no conjunto de três temporadas cada clube/SAD devesse apresentar um resultado combinado positivo, à nossa SAD não seria permitido fazer o que fez nas últimas três épocas: o saldo positivo da última não é suficiente para compensar as perdas registadas nas duas anteriores (embora por uma margem relativamente pequena, um pouco menos de 1,5 milhões de euros). Pior ainda se houver a obrigatoriedade de gerar saldos positivos ano a ano...

Veremos como as coisas se concretizam...

1

Quote from: Pedro Ribeiro on 18 de October de 2010, 15:22
Quote from: 1 on 18 de October de 2010, 14:46
Pedro que te leva a dizer que não inclui o pagamento das transferências? Não me parece isso de todo, aliás não vejo lógica nenhuma nisso, num clube isso são despesas correntes não extraordinárias a meu ver, fazem parte do normal funcionamento dos clubes.

Não sei se é assim. Depende do critério que for estabelecido pela FIFA.

No nosso relatório e contas 2009/2010, as mais-valias de transferências são integradas nos resultados extraordinários e não nos resultados operacionais.

De qualquer forma, mesmo que as verbas de transferências sejam incluídas nos critérios da FIFA, não acho correcto estabelecer a obrigatoriedade de um clube/SAD apresentar resultados positivos ano após ano. Penso que faria mais sentido, estabelecer um critério que exigisse que considerando um período de 2-3-4 épocas os resultados combinados de todas as épocas resultassem num saldo positivo. Isso permitiria, por exemplo, que um clube pudesse gerir um ciclo de forma mais tranquila, sem ter de vender sob pressão e ao desbarato os seus melhores atletas todas as temporadas. Mesmo assim, isso obrigaria a mais disciplina. Por exemplo, supondo que a FIFA pudesse estabelecer que no conjunto de três temporadas cada clube/SAD devesse apresentar um resultado combinado positivo, à nossa SAD não seria permitido fazer o que fez nas últimas três épocas: o saldo positivo da última não é suficiente para compensar as perdas registadas nas duas anteriores (embora por uma margem relativamente pequena, um pouco menos de 1,5 milhões de euros). Pior ainda se houver a obrigatoriedade de gerar saldos positivos ano a ano...

Veremos como as coisas se concretizam...

Realmente não vale a pena especular.. vamos ver se isto vai para a frente. Normalmente os grandes interesses económicos e dos grandes clubes prevalecem.

SimpLe-Kid

#5
Quote from: Pedro Ribeiro on 18 de October de 2010, 12:58
Conheça as regras da UEFA para o «fair play» financeiro
1 - Impedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas, através de fiscalização e aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida;

in A BOLA


Há aqui um erro interpretação. A regra diz "Impedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas", ou seja, não interessa de onde vêm as receitas, desde que sejam receitas geradas pelo clube e não dinheiro injectado como se vê nos gigantes europeus, depois diz "aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida", ou seja, vai ser preciso apresentar ano após ano resultados negativos.

Por exemplo, a época passada apresentamos um resultado positivo de 3 milhões de euros, para este ano o resultado é positivo em pelo menos 2.6 milhões de euros. Como se podem lembrar nós que temos apresentado resultados positivos exceptuando uma ou outra época não iremos ter problemas.

Espero que isto vá para a frente pois clubes como o Man City, Chelsea, Real, Barça, Shaktar, etc, apresentam todos os anos resultados negativos na ordem da dezenas de milhões. Mas sinceramente também dúvido que vá em frente esta regra pois o poderio desses clubes é muito grande.
[url="http://img253.imageshack.us/img253/7656/fotofundo2sw1.jpg"]http://img253.imageshack.us/img253/7656/fotofundo2sw1.jpg[/url]

Kramer

Se não estou em erro, no campeonato alemão existem umas regras muito parecidas a estas. Poucos são os clubes do campeonato alemão que têm dividas, caso as tenham sofrem fortes sanções.
Eu concordo com este tipo de gestão, para não haver clubes como o Man. City, chelsea, etc, mas também para não aparecerem casos como o do Leeds, Boavista e pouco faltou para acontecer o mesmo ao Liverpool.

Não sei até que ponto isto vai avançar, mexe com o topo dos clubes europeus e com muitos interesses, empresários, grupos de investimento.
\\\\"Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos

Ramiro Lopes

Eu concordo com o conceito e com a generalidade das medidas. Não posso andar a proclamar aos 7 ventos que o clube anda a gastar em demasia e depois vendo medidas de austeridade sacudir agua do capote...
Futebol em 3D? É no EMB

Olho Vivo

Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 08:25
Eu concordo com o conceito e com a generalidade das medidas. Não posso andar a proclamar aos 7 ventos que o clube anda a gastar em demasia e depois vendo medidas de austeridade sacudir agua do capote...

Eu concordo com estas regras se o critério de análise incluir as receitas de transferências. Se não incluir (como a notícia d'A BOLA parece indiciar), é a sentença de morte para os países exportadores de talento (como o nosso). Por exemplo, a nós, obrigar-nos-ia a reduzir custos de cerca de 18 milhões para valores talvez à volta de 7-8 milhões (e com tendência a haver deterioração).* E, cada um ao seu nível, o mesmo se passaria com a generalidade dos clube portugueses, obrigados a cortes brutais nos seus custos.

Esta medida beneficiaria os grandes clubes tradicionais, dos países do primeiro plano do futebol europeu, sobretudo ingleses. A pretexto de evitar os cometas Chelsea, Manchester City, Shakhtar e quejandos, arrumar-se-ia com o futebol de países exportadores, como o nosso. Porque, que ninguém duvide, obrigado a viver sem transferências, o nosso futebol regrediria décadas: perderia nível e mesmo internamente os desequilíbrios agudizar-se-iam...

* Uma coisa é achar que um prejuízo operacional sistemático de 8 milhões de euros, para a nossa realidade, é exagerado - porque acarreta alguns riscos; outra diferente é achar que as contas devem estar sempre equilibradas em termos operacionais. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Acumular um prejuízo operacional de à volta de 3-4 milhões, nas actuais circunstâncias, é aceitável porque parece-me possível cobri-lo com recurso ao mercado de transferências, sem riscos exagerados.

Ramiro Lopes

Não vejo onde na noticia seja dito que nao é possivel usar as receitas de tranferencias para obter resultados operacionais positivos.
Futebol em 3D? É no EMB

Olho Vivo

#10
Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 10:48
Não vejo onde na noticia seja dito que nao é possivel usar as receitas de tranferencias para obter resultados operacionais positivos.


QuoteImpedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas, através de fiscalização e aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida


Resta saber se estes critérios estão já perfeitamente definidos porque terá de haver uma qualquer  harmonização, já que diferentes países trabalharão com diferentes critérios contabilísticos...

Ramiro Lopes

Quote from: Pedro Ribeiro on 19 de October de 2010, 10:51
Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 10:48
Não vejo onde na noticia seja dito que nao é possivel usar as receitas de tranferencias para obter resultados operacionais positivos.

QuoteImpedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas, através de fiscalização e aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida

Economia nao é a minha area, continuo na mesma!  ;D
Futebol em 3D? É no EMB

Olho Vivo

Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 10:56
Quote from: Pedro Ribeiro on 19 de October de 2010, 10:51
Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 10:48
Não vejo onde na noticia seja dito que nao é possivel usar as receitas de tranferencias para obter resultados operacionais positivos.

QuoteImpedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas, através de fiscalização e aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida

Economia nao é a minha area, continuo na mesma!  ;D


É uma questão que teoricamente pode ser debatida se os resultados de transferências devem ou não ser considerados como fruto da actividade operacional (se quiseres, "normal")  dos clubes/SAD ou não. Tanto quanto sei (e eu tenho alguma formação em contabilidade mas estou há muito afastado das lides), não tem sido esse o entendimento habitual - e tanto é assim que o nosso relatório e contas 2009/2010 integra as mais-valias das transferências realizadas nos resultados extraordinários.

São esses critérios que é necessário clarificar. De outra forma, não considerando as transferências nos critérios de "fair play" financeiro, repito, estas regras serão uma sentença de morte para os países exportadores de talento...

Pedro Ferreira

#13
Esta notícia vem apenas beneficiar o Braga e os mais pequenos e prejudicar e muitos os 3 grandes... Os clubes não vão deixar de comprar jogadores, vão fazê-lo! Vão é comprar tantos por menos dinheiro, assim em vez de comprarem um Di Maria ao Benfica, o Real ia ao mercado brasileiro (por exemplo) e trazia 1 jogador para a mesma posição mas que custasse apenas 5 milhões de euros...

Os clubes ingleses, italianos e espanhóis vão deixar de transaccionar entre si porque comprar lá é muito caro e vêem a Portugal contratar bem mais barato, simples... ;) O Braga deixaria de vender João Pereiras e Evaldos a Sportings mas passaria a vendê-los a Totenhams etc...

Os 3 grandes é que deixariam de vender jogadores por 20 ou 30 milhões mas o Braga iria continuar a vender jogadores por 3/4 milhões de euros ;)

Ainda assim precisamos fortalecer as nossas camadas jovens e a nossa rede de olheiros apenas por prevenção...

Ramiro Lopes

Quote from: Pedro Ribeiro on 19 de October de 2010, 11:04
Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 10:56
Quote from: Pedro Ribeiro on 19 de October de 2010, 10:51
Quote from: Ramiro Lopes on 19 de October de 2010, 10:48
Não vejo onde na noticia seja dito que nao é possivel usar as receitas de tranferencias para obter resultados operacionais positivos.

QuoteImpedir que os clubes gastem mais do que o total de receitas geradas, através de fiscalização e aconselhamento financeiro a clubes que apresentem resultados operacionais negativos de forma repetida

Economia nao é a minha area, continuo na mesma!  ;D


É uma questão que teoricamente pode ser debatida se os resultados de transferências devem ou não ser considerados como fruto da actividade operacional (se quiseres, "normal")  dos clubes/SAD ou não. Tanto quanto sei (e eu tenho alguma formação em contabilidade mas estou há muito afastado das lides), não tem sido esse o entendimento habitual - e tanto é assim que o nosso relatório e contas 2009/2010 integra as mais-valias das transferências realizadas nos resultados extraordinários.

São esses critérios que é necessário clarificar. De outra forma, não considerando as transferências nos critérios de "fair play" financeiro, repito, estas regras serão uma sentença de morte para os países exportadores de talento...

Agora sim compreendo o teu ponto de vista, mas nao acredito que UEFA esteja a pensar assim. Isso seria o fim competitivo de clubes como o Braga ou outros que suportam uma crescimento desportivo baseado na transaçao de jogadores para clubes de maior dimensao. Não acho que isto faça sentido...nem para a UEFA
Futebol em 3D? É no EMB

Duarte

Multas para os não cumpridores, OK!

E prémios para os cumpridores que nao entar em loucuras como nós não??

Esses gajos so querem é dinheiro.
O FÓRUM DE BRAGA:
www.forum.bracarae.com

Olho Vivo

#16
Parece que a dúvida que existia (pelo menos para mim) quanto à consideração das receitas de transferências para efeitos do cumprimento das regras está esclarecida. E sendo estas verbas incluídas, admito que estas regras façam o seu sentido e estou de acordo com elas. No entanto, elas reflectir-se-ão a prazo numa redução dos valores de transferências, o que acabará por ter reflexos negativos nas receitas de clubes e países exportadores de talento (que é o nosso caso).


Fair play financeiro vai obrigar clubes a baixar valores de salários e transferências

Por Hugo Daniel Sousa

Novas regras entram em vigor em 2013-14 mas o exercício que começa daqui a seis meses já conta para o cálculo. Presidente da UEFA garantiu ontem que não haverá recuos.

Os clubes europeus de futebol gastam, em média, 64 por cento das suas receitas em salários. E no caso de 73 deles, a massa salarial é superior ao total das receitas. Resultado: 56 por cento apresentaram prejuízos em 2009 (ver outro texto). É por causa deste cenário que a redução dos salários dos jogadores de futebol - e a consequente baixa dos valores das transferências - é o grande objectivo da nova forma de controlo orçamental dos clubes (fair play financeiro).

As novas regras entram em vigor no início de 2013-14, mas as contas dos clubes na próxima temporada, que se inicia em Julho, já terão impacto na avaliação que será feita pela UEFA na hora de decidir quem pode participar nas suas competições.

Michel Platini, presidente da UEFA, reafirmou ontem que os incumpridores "vão ter de enfrentar as consequências". "Chegou a hora de tirar o pé do acelerador e de o colocar no travão, trazendo mais racionalidade para o futebol", acrescentou Karl-Heinz Rummenigge, presidente da Associação Europeia de Clubes.

Em termos simplistas, os clubes não poderão ter despesas superiores às receitas, embora, numa fase inicial, possam apresentar prejuízos de 45 milhões de euros na soma das duas ou três últimas temporadas.

Quais serão as consequências destas novas regras? "Sem dúvida nenhuma, os clubes vão ter de reduzir os orçamentos anuais, incluindo os salários. Em Portugal, alguns já estão a fazer isso", diz Hélder Varandas, especialista em finanças do futebol. Emanuel Medeiros, director executivo da Associação Europeia de Ligas de Futebol, acrescenta que travar a "espiral inflacionista na massa salarial e nas transferências" não só é uma consequência expectável do fair play financeiro, como é mesmo o seu grande objectivo: "Os clubes têm de viver de acordo com as suas possibilidades."

As novas regras terão certamente algum impacto na gestão dos clubes. Mas obrigará os emblemas portugueses a mudarem radicalmente? O PÚBLICO tentou ouvir os administradores financeiros de Benfica e Sporting, mas não foi possível. Já Angelino Ferreira, administrador do FC Porto, respondeu que a SAD portista tem vindo a preparar-se "há algum tempo" para o fair play financeiro, destacando que os últimos "quatro exercícios foram positivos".

Como acontece com vários clubes, o FC Porto depende bastante das vendas de jogadores, que previsivelmente vão ter, no futuro, montantes mais baixos. Sinal de alarme? Angelino Ferreira reage, afirmando que o clube tem noção de que está em marcha "uma alteração do modelo de negócio, na medida em que essa componente da receita é mais curta", pelo que está a apostar em novas estratégias que prefere não desvendar.

Hélder Varandas, por sua vez, antevê mudanças importantes na gestão dos clubes portugueses. E não só por causa do fair play financeiro: "Os bancos estão a apertar os clubes, para eles reduzirem o endividamento, e as taxas de juro estão a subir."

Emanuel Medeiros alerta, por outro lado, que o fair play financeiro não vai resolver todos os problemas do futebol, relembrando aspectos como a defesa dos direitos de propriedade dos clubes (transmissões ilegais na Internet e apostas) ou a necessidade de reforçar o investimento na formação de jovens jogadores.

Certo é que daqui a seis meses tudo o que os clubes fizerem já terá impacto na primeira avaliação (2013-14). E, como garantiu ontem Michel Platini, "não haverá recuos". Doa a quem doer.



Relatório da UEFA

56 por cento dos clubes europeus são deficitários

Dos 733 clubes das primeiras divisões europeias, 56 por cento apresentaram prejuízos em 2009, revela um relatório apresentado ontem pela UEFA. A situação piorou em relação a 2008, ano em que 48 por cento dos clubes registaram perdas.

Apresentado numa altura em que a UEFA já aprovou as novas regras de licenciamento de clubes (fair play financeiro), o relatório demonstra ainda que os clubes da I Divisão de 53 países tiveram despesas (12,9 mil milhões de euros) superiores às receitas (11,7 mil milhões de euros), registando um défice conjunto de 1,2 mil milhões de euros.

As dívidas resultantes de transferências totalizam 2,2 mil milhões de euros, dos quais 800 milhões de euros em atraso há mais de um ano.

Se as novas regras, que serão aplicadas a partir de 2013-14, já estivessem em vigor, 11 clubes teriam sido impedidos de participar nas competições europeias desta temporada, revelou Gianni Infantino, secretário-geral da UEFA.

A UEFA adiantou que dos 30 "grandes clubes" apenas quatro estão em situação de equilíbrio financeiro, embora os nomes dos emblemas não tenham sido revelados.

No caso português, é sabido que o Benfica, por exemplo, apresentou prejuízos superiores a 53 milhões de euros nas últimas três temporadas, o que ultrapassa o limite fixado para a participação (45 milhões de prejuízo).

"O princípio do fair play financeiro não visa colocar os clubes em dificuldades, mas ajudá-los a sair desta espiral infernal", justificou Michel Platini, presidente da UEFA, que ontem voltou a defender os méritos do novo sistema de licenciamento.

Segundo a AFP, a Inglaterra é, de longe, o país com a situação mais preocupante, com oito clubes a terem despesas 20 por cento superiores às receitas. Hugo Daniel



Perguntas e respostas

O que é o fair play financeiro?

É um sistema de controlo das finanças dos clubes, para verificar se cumprem os requisitos de participação nas competições organizadas pela UEFA.

Na prática, que critérios os clubes têm de cumprir?

O conceito principal do fair play financeiro é a obrigação de os clubes não poderem ter despesas superiores às receitas no conjunto das três últimas épocas. "Pretende-se que os clubes gastem apenas o que têm ou podem vir a ter", diz Luís Paulo Relógio, presidente do Órgão de Gestão de Licenciamento da Federação Portuguesa de Futebol, que tem acompanhado a implementação deste sistema.

Que receitas e despesas contam?

O que será controlado é a conta de exploração dos clubes. As receitas relevantes para este cálculo são, entre outras, os direitos televisivos, bilheteira, publicidade, patrocínio, transferências de jogadores. Só não contam receitas de operações não relacionadas com o futebol e itens não monetários. Do lado das despesas, serão integradas nos cálculos os custos operacionais, como os de pessoal, transferências de jogadores e amortizações de passes de futebolistas. São excluídas despesas com actividades de desenvolvimento do futebol jovem e operações não relacionadas com futebol.

O fair play financeiro entra já em vigor?

Não. Só no começo da época de 2013-14 a avaliação será iniciada, Excepcionalmente, serão tidos em conta apenas dois exercícios: 2011-12 e 2012-13. O que significa que, a partir de Junho deste ano, as contas dos clubes passam a ter impacto nessa futura avaliação.

As novas regras incluem alguma forma de transição?

Sim. Na avaliação a fazer no início da época de 2013-14, os clubes (em vez do limite de cinco milhões de euros de prejuízo) não podem ter perdas superiores a 45 milhões de euros nas duas épocas anteriores. Em 2014-15, não podem ultrapassar os 45 milhões negativos na soma dos três últimos exercícios. E entre 2015-16 e 2017-18, a derrapagem não pode superar os 30 milhões, sempre tendo em conta os resultados financeiros das útimas três épocas. "Os limites de risco continuarão depois a baixar", diz Paulo Relógio.

Quem ultrapassar os limites é automaticamente excluído da competição?

Não, mas corre sérios riscos de ser penalizado. Assim que um clube apresentar prejuízos superiores a cinco milhões de euros, passa a estar sob avaliação do Painel de Controlo das Finanças dos Clubes da UEFA (presidido pelo antigo primeiro-ministro da Bélgica Jean-Luc Dehaene), tendo de apresentar relatórios trimestrais e planos para solucionar o problema. Quando ultrapassar os 45 milhões, o painel de controlo envia o processo para os órgãos disciplinares da UEFA.

Que sanções podem ser aplicadas aos infractores?

"O quadro de sanções ainda não está definido", explica Paulo Relógio, afirmando que até ao final desta época deve estar finalizado. As sanções "podem passar por exclusão da competição, suspensão de actividade desportiva, retirada de pontos nas competições europeias e proibição de inscrição de jogadores". E cada caso será avaliado individualmente, tendo em conta a situação do clube e as suas perspectivas, acrescenta este advogado.

A UEFA vai controlar as despesas e receitas operacionais. E os passivos serão tidos em conta?

"É uma das questões em aberto", responde Luís Paulo Relógio: "Temos procurado sensibilizar a UEFA. É que, por um lado, não se podem criar buracos no sistema, mas, por outro, o sistema não pode ser uma sentença de morte para os clubes."

O fair play financeiro é algo completamente novo?

Não, explica Luís Paulo Relógio. É, sim, uma "nova fase" do actual sistema de licenciamento. Actualmente, são as federações nacionais que verificam, em Março, se os clubes candidatos à participação nas provas europeias cumprem os requisitos exigidos. Com o fair play financeiro, além deste controlo, haverá também um acompanhamento por parte da UEFA. Hugo Daniel Sousa


in Público

1

O Braga não vende por valores absurdos por isso acredito que não vá sentir esta medida com tanta força como outros.

De qualquer das maneiras devemos fazer os nossos orçamentos a partir de 2011 a guiar só pelas receitas ordinárias.
Parece-me que isto apesar de tudo vai ser pior para os clubes grandes. E os salários dos jogadores vão descer muito...

rvx

Eu não estou por dentro da evolução económica do Braga, mas será que as receitas ordinárias(sem incluir transferências) são suficientes? Tenho quase a certeza de que as receitas das assistências são insignificantes, e não me parece que o marketing dê assim tanto dinheiro. Só estou a imaginar as receitas televisivas e parcerias capazes de providenciar receitas significativas.

De facto, parece-me impossível reduzir os custos assim tanto, sem uma perda de qualidade significativa.

Olho Vivo

Quote from: RVX1921 on 12 de January de 2011, 16:15
Eu não estou por dentro da evolução económica do Braga, mas será que as receitas ordinárias(sem incluir transferências) são suficientes?

Aparentemente, as receitas de transferências são consideradas para avaliação do equilíbrio financeiro (ver Que receitas e despesas contam? em Perguntas e respostas).

O que certamente se passará, no entanto, é que as transferências atingirão valores bastante mais baixos...