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Art DM - O Primeiro de Abril

Started by cardoso, 02 de April de 2009, 19:03

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cardoso

Na semana que hoje termina passou mais um primeiro de Abril. Confirmou-se a tendência dos anos anteriores: as mentiras passam despercebidas. Há uns anos havia verdadeiros escândalos com essas mentirinhas que, depois de reveladas, nos faziam rir da tolice com que acreditávamos. Hoje já ninguém vai na conversa. Passam despercebidas entre as outras ou então os jornalistas já desistiram de tentar enganar os leitores.
Perante esta situação quase deprimente, em que já nem as mentiras têm piada, decidi dedicar uns minutos a pensar nas causas do fenómeno. Encontrei três explicações possíveis:
Primeira  hipótese – estamos todos muito mais espertos. Todos sabemos como o nosso governo tem investido na educação: os professores agora dão aulas muito melhores porque preenchem fichas de auto e hetero-avaliação, os alunos faltam muito menos às aulas porque senão não acontece nada, muitas escolas andam em obras, o que dá muitos empregos a quem faz a escolaridade toda e o Magalhães já começou a elevar culturalmente os utilizadores do Messenger e do Hi5. Assim, já ninguém acredita quando os ingénuos jornalistas escrevem piadas de Primeiro de Abril como "Empresa X despede 500 operários por causa da crise, mau grado os lucros deste ano" ou "árbitros tendem a beneficiar os grandes" ou ainda "corrupção aumenta em Portugal".
No fundo, isto de ser culto tem os seus contras: já não nos podemos divertir naquela ingenuidade que a ignorância fornece.
Segunda explicação possível – somos tão estúpidos que nem vale a pena mentir, porque o povo acredita em tudo. Sem ser muito radical, talvez possamos admitir que temos uma certa dificuldade em distinguir a verdade da mentira. Vejamos alguns exemplos soltos: os crimes prescrevem porque a justiça não só é cega como sofre de amnésia; esquece facilmente. Crimes cometidos há muito tempo deixam de ser crimes porque o tempo tudo cura e o perdão é um acto piedoso. Isto é mentira ou verdade? É difícil responder, não é? Além disso, pensar nisto cansa imenso.
Outro exemplo: para combater a crise temos de reduzir os salários. Obviamente isto provoca problemas aos pobres. Mas os pobres são muitos. Se tirarmos um bocadinho que seja a cada pobre, obtemos muito. Pelo contrário, se tirarmos um pedaço a cada rico, pouco obtemos porque eles, coitados, são poucos. Verdade ou mentira? Afinal, isto é mais difícil do que um exame de matemática do nono ano!
Terceiro e último exemplo: modificar as regras do futebol e introduzir tecnologias na arbitragem iria trazer mais justiça. Lá está: pode ser verdade para alguns, mas para os mais importantes, os que aparecem na televisão, é mentira porque com melhores arbitragens lá se vai o sal do futebol que, como todos sabemos, é o escândalo e a corrupção.
Terceira hipótese explicativa – talvez estas mentirinhas não resultem porque em Portugal a mentira tem sido monopolizada. Talvez para mentir seja necessário um certo estatuto que os jornalistas não têm. Como dizia Oscar Wilde, "mentir com finura é uma arte". Pelo contrário, dizer a verdade é corriqueiro, é coisa vulgar e trivial. Não é o comum dos mortais que domina essa arte sublime. Nós, os do povo (e os que escrevem no jornal também são povo, note-se) vivemos no mundo do real, do banal, da verdade.
Duas notas importantes:
1 – Quando é que o seleccionador nacional abrirá os olhos para ver a necessidade de incluir João Pereira na selecção A? A ridícula adaptação do jogo com a Suécia não é prova suficiente?
2- O meu obrigado ao senhor Paulo Fafe pelo texto da passada sexta feira sobre o estado penoso do futebol português. Trata-se de alguém que me habituei a admirar noutras lides que não as do futebol, pela sua imparcialidade, espírito crítico, sensatez e inteligência. Agora surpreendeu-me agradavelmente nesta sua incursão pelo futebol.

eduardo_manulo

Como sempre caro Cardoso, Grande texto  ;D
Quem não sente, não entende! SCB1921@

susana


Ana Cunha

Realmente não se compreende por que motivo o João Pereira não está nos convocados da Selecção A. Há coisas que enfim... Se calhar se estivesse a jogar no estrangeiro...

A.COSTA

Está muito bem Cardoso. Parabéns.

Bom descanso Gverreiro.
[b] No S. C. BRAGA só nos baixamos para beijar o símbolo

DiogoEA


lininho

O texto está, como de costume, impecável.
Obrigado cardoso.

Quanto à temática que o texto aborda, não acho que o dia das mentiras seja o 1 de Abril, mas o resto do ano. Quer na vida social, económica ou desportiva.
Não me alongo mais porque corro o risco de dizer asneiras e o tópico/texto não o merece.
zé: futuro capitão. 8-)