Em Portugal, de há duas décadas a esta parte, tornou-se chique e politicamente correcto falar em reformas, como se este conceito fosse sinónimo de mudança milagrosa. As reformas não passam de mudanças pontuais, que nada resolvem de significativo. A meu ver, trata-se apenas de uma justificação para que determinados conceitos e práticas possam ser implementadas em nome do bem público. Ao mesmo tempo, permitem o recuso ao conveniente argumento que as reformas exigem sacrifícios. Desta forma, consegue-se a aceitação de determinados padrões, de interesse público muito discutível, mas convenientes ao poder instituído e a determinados proveitos particulares.
Verificando-se que o conceito de "reforma" (tal como é politicamente entendido em Portugal) não conduz a benefícios significativos na vida dos cidadãos, entra-se numa espiral reformista que tende a perpetuar-se. Ao fim de duas décadas de reformas, este país tende a transformar-se numa manta, não de retalhos mas de remendos sucessivos.
Venho de uma família de modestos alfaiates de aldeia. Lembro os tempos da ditadura em que a pobreza fazia com que os clientes habituais do meu pai, também ele alfaiate de aldeia, pobres agricultores ou operários, lá iam para pôr remendos nas calças de cotim, já várias vezes remendadas. É esta a imagem que eu tenho deste país. Na minha infância, estes remendos, a partir de certa altura, deixaram de ser necessários para a maior parte das pessoas. Porque houve uma revolução. Mal ou bem, essa revolução foi o primeiro passo para que a vida das pessoas começasse a melhorar.
Se as reformas actuais continuarem a perpetuar-se como remendos num par de calças velho, corremos o risco de, mais dia menos dia, começarmos a clamar por uma revolução. E nessa altura talvez as altas esferas do nosso querido país se apercebam dos erros que cometem.
Se os hospitais não têm condições para atender os portugueses, faz-se uma reforma da saúde. Entretanto, as clínicas dos ricos prosperam e os pobres desesperam. Se a segurança social está em crise, faz-se uma reforma do sistema e entretanto, mais uns milhares levam um rombo na aposentação. Se a educação está em crise, faz-se uma reforma para certificar a ignorância e avaliar os professores enquanto (e isso ninguém vê) os alunos saem da escola cada vez mais ignorantes porque os professores não podem ensinar como querem e sabem.
E o que é que isto tem a ver com o futebol? Nada, diz o leitor. Tudo, digo eu, com o respectivo pedido de desculpas por contrariar a sua opinião. Eu explico: há claques a ir parar à cadeia, há violência nos estádios, há corrupção comprovada por todos os lados, há arbitragens que chegam ao cúmulo de não ver 4 penaltis num jogo e terem uma avaliação de "bom", há jogadores de futebol sem receber 4 meses seguidos, há clubes na falência, etc. etc...
E o que fazem os responsáveis pelo desporto em Portugal? Remendos! Os clubes endividam-se para ir buscar craques de duvidosa qualidade ao estrangeiro e o que fazem aos nossos jovens jogadores? Os clubes não têm dinheiro para investir nas camadas jovens. E que tem feito o poder político para incrementar a prática desportiva?
O desporto em Portugal, tal como o país em geral, precisa de mudanças a longo prazo. Assim como os políticos não deviam agir em função do timing das eleições, também os clubes não deviam agir em função do sucesso desportivo imediato. É preciso incrementar a prática desportiva, apoiar muito mais o desporto escolar, subsidiar a formação desportiva, combater, de forma pedagógica, a violência nos recintos desportivos, punir impiedosa e imparcialmente a corrupção e apoiar com medidas concretas os clubes que privilegiem a formação. Isso sim, seria reformar, no verdadeiro sentido do termo.
Quote from: cardoso on 20 de November de 2008, 14:15
Em Portugal, de há duas décadas a esta parte, tornou-se chique e politicamente correcto falar em reformas, como se este conceito fosse sinónimo de mudança milagrosa. As reformas não passam de mudanças pontuais, que nada resolvem de significativo. A meu ver, trata-se apenas de uma justificação para que determinados conceitos e práticas possam ser implementadas em nome do bem público. Ao mesmo tempo, permitem o recuso ao conveniente argumento que as reformas exigem sacrifícios. Desta forma, consegue-se a aceitação de determinados padrões, de interesse público muito discutível, mas convenientes ao poder instituído e a determinados proveitos particulares.
Verificando-se que o conceito de "reforma" (tal como é politicamente entendido em Portugal) não conduz a benefícios significativos na vida dos cidadãos, entra-se numa espiral reformista que tende a perpetuar-se. Ao fim de duas décadas de reformas, este país tende a transformar-se numa manta, não de retalhos mas de remendos sucessivos.
Venho de uma família de modestos alfaiates de aldeia. Lembro os tempos da ditadura em que a pobreza fazia com que os clientes habituais do meu pai, também ele alfaiate de aldeia, pobres agricultores ou operários, lá iam para pôr remendos nas calças de cotim, já várias vezes remendadas. É esta a imagem que eu tenho deste país. Na minha infância, estes remendos, a partir de certa altura, deixaram de ser necessários para a maior parte das pessoas. Porque houve uma revolução. Mal ou bem, essa revolução foi o primeiro passo para que a vida das pessoas começasse a melhorar.
Se as reformas actuais continuarem a perpetuar-se como remendos num par de calças velho, corremos o risco de, mais dia menos dia, começarmos a clamar por uma revolução. E nessa altura talvez as altas esferas do nosso querido país se apercebam dos erros que cometem.
Se os hospitais não têm condições para atender os portugueses, faz-se uma reforma da saúde. Entretanto, as clínicas dos ricos prosperam e os pobres desesperam. Se a segurança social está em crise, faz-se uma reforma do sistema e entretanto, mais uns milhares levam um rombo na aposentação. Se a educação está em crise, faz-se uma reforma para certificar a ignorância e avaliar os professores enquanto (e isso ninguém vê) os alunos saem da escola cada vez mais ignorantes porque os professores não podem ensinar como querem e sabem.
E o que é que isto tem a ver com o futebol? Nada, diz o leitor. Tudo, digo eu, com o respectivo pedido de desculpas por contrariar a sua opinião. Eu explico: há claques a ir parar à cadeia, há violência nos estádios, há corrupção comprovada por todos os lados, há arbitragens que chegam ao cúmulo de não ver 4 penaltis num jogo e terem uma avaliação de "bom", há jogadores de futebol sem receber 4 meses seguidos, há clubes na falência, etc. etc...
E o que fazem os responsáveis pelo desporto em Portugal? Remendos! Os clubes endividam-se para ir buscar craques de duvidosa qualidade ao estrangeiro e o que fazem aos nossos jovens jogadores? Os clubes não têm dinheiro para investir nas camadas jovens. E que tem feito o poder político para incrementar a prática desportiva?
O desporto em Portugal, tal como o país em geral, precisa de mudanças a longo prazo. Assim como os políticos não deviam agir em função do timing das eleições, também os clubes não deviam agir em função do sucesso desportivo imediato. É preciso incrementar a prática desportiva, apoiar muito mais o desporto escolar, subsidiar a formação desportiva, combater, de forma pedagógica, a violência nos recintos desportivos, punir impiedosa e imparcialmente a corrupção e apoiar com medidas concretas os clubes que privilegiem a formação. Isso sim, seria reformar, no verdadeiro sentido do termo.
Mais um grande texto.
É caso para dizer que se precisam de reformas, mas daquelas mesmo a serio...
Não precisamos de "reformas". Ideias não faltam e, algumas, pessoas competentes também as há. Precisamos é de "tomates". ;D
Quote from: Bvna on 20 de November de 2008, 14:28
Não precisamos de "reformas". Ideias não faltam e, algumas, pessoas competentes também as há. Precisamos é de "tomates". ;D
e ovos ;D
Quote from: cardoso on 20 de November de 2008, 14:15
O desporto em Portugal, tal como o país em geral, precisa de mudanças a longo prazo. Assim como os políticos não deviam agir em função do timing das eleições, também os clubes não deviam agir em função do sucesso desportivo imediato. É preciso incrementar a prática desportiva, apoiar muito mais o desporto escolar, subsidiar a formação desportiva, combater, de forma pedagógica, a violência nos recintos desportivos, punir impiedosa e imparcialmente a corrupção e apoiar com medidas concretas os clubes que privilegiem a formação. Isso sim, seria reformar, no verdadeiro sentido do termo.
Destaco este último parágrafo, que na minha opinião é essencial que estas mudanças aconteçam, parece que vamos de mal a pior. Ainda hoje no jonal "O Metro" dizia que numa sondagem realizada aos portugueses, estes apareciam como, um dos povos europeus mais insatisfeitos e infelizes no que respeita à qualidade de vida. Nós que até somos conhecidos por sermos bastante alegres...
È bem verdade o que o Cardoso escreve neste momento este país é uma manta de remendos de reformas mal feitas.
A ministra da educação acaba de me dar mais um exemplo do que afirmo: aí está mais um remendo mal amanhado.
Às vezes este país é mesmo uma vergonha!
concordo contigo Cardoso, o futebol português chegou a este estado, porque os responsaveis pelos nossos clubes, são pessoas com muito pouca massa cinzenta, a inteligencia infelizmente não é o ponto mais forte deles, temos um futebol português sem credibilidade, sem espectadores, com arbitros incompetentes, com dirigentes incompetentes e com clubes que apoiam claques que insultam jogadores, que fazem estragos nas viaturas, com droga, com armas, com equipas que contratam jogadores e não têm dinheiro para pagar os salarios, para onde caminha o futebol em Portugal?
Discordo totalmente com este texto, em Portugal dizem que se fazem reformas, mas se se tenta fazer uma na educação os professores não deixam, se se tenta na saúde os médicos não deixam e por aí fora. ::)
Portugal até pode precisar de reformas mas os lobbys, sindicatos e profissionais com privilégios acima da média não deixam as coisas mudar.
Em Portugal há medo de alterar o status quo em qualquer sector da sociedade seja no desporto seja na função publica.
PS: Espero não ser insultado por este comentário lol ;D
Quote from: 1 on 21 de November de 2008, 10:28
Discordo totalmente com este texto, em Portugal dizem que se fazem reformas, mas se se tenta fazer uma na educação os professores não deixam, se se tenta na saúde os médicos não deixam e por aí fora. ::)
Portugal até pode precisar de reformas mas os lobbys, sindicatos e profissionais com privilégios acima da média não deixam as coisas mudar.
Em Portugal há medo de alterar o status quo em qualquer sector da sociedade seja no desporto seja na função publica.
PS: Espero não ser insultado por este comentário lol ;D
Em relação ao não deixarem fazer as reformas é bastante simples, as mesmas tem apenas como objectivo reduzir custos, sendo assim não são verdadeiras reformas. Quando os políticos descerem dos seus pedestais e tomarem conhecimento da realidade e realmente começarem a reformar o que está mal ai ninguém vai ficar contra.
As reformas fazem-se após o conhecimento da realidade, se esta é ignorada não ha reforma possível.
Veja-se o caso dos professores, dividem-se os professores em professores titulares e professores (apenas)
Os titulares (mais competentes segundo o ministério) avaliam os outros professores, enquanto eles (os titulares) serão avaliados por uma comissão independente ( que ainda não está constituída nem regulamentada).
Ora o critério para esta divisão nos professores foi, imagine-se, o tempo de serviço, o mesmo tempo de serviço que não serve para avaliar os professores e dai ter sido criado o modelo de avaliação. E onde fica a educação nisto tudo? quando se criam programas decentes e se acabam com as disciplinas que apenas tem como intuito ocupar os miúdos? quando se criam condições nas escolas para os professores exercerem ai a sua actividade e não em casa...
@braços
Eumesmo
Mas o engraçado mesmo é ouvir a minha mãe, professora, a dizer que gostava de ter tempo para um coisa de pouca importância, porque importante mesmo são as papeladas e as reuniões, como é ensinar a ler, escrever e fazer contas...
Quem não está no meio, está contra a revolta dos professores porque não imagina no que se tornou a profissão, em que se relegou o mais importante, o ensino, para 2º ou mesmo para 3º plano! Ele é objectivos, é planos de recuperação, é reuniões para escolher a cor do papel higiénico, bla bla bla...
Tempo para preparar as aulas? Pois...
Mas finalmente os pais começam a ter a percepção de que esta "reforma" só prejudica os filhos! E que fiquem todos com essa noção bem vincada, porque é a mais pura das verdades!
E concordo com o eumesmo! Elas são feitas em gabinetes em Lisboa por quem tem filhos em colégios que vão de mercedes para lá!
Quando se promoveu o encerramento das escolas com menos de 10 alunos, alguém pensou nos miudos que ficaram a 10, 15 kms da escola mais próxima? Que tem que acordar antes das 6 da manha à espera do transporte da camara que tem que fazer um circuito de mais de uma hora para ir buscar outros como eles que moram longe demais? Ou será que a venda dos terrenos e edificios onde se encontravam as escolas, interessava a alguém com "presença" nas autarquias?
Ah, é o modelo nórdico, diziam "eles"! Mentira vergonhosa! Na Noruega, na zona mais inóspita, no norte, onde vive o povo Sami, se houver uma aldeia com uma criança, o estado coloca nessa escola um professor.
E depois, crianças de 6 anos, com aulas das 8 às 17! :o Como querem eles que as crianças consigam estar tantas horas numa escola? Há a completa noção de que as crianças ficam exaustas, sem qualquer motivação para aprender e muito menos com tempo para brincar, coisa fundamental para o bom desenvolvimento duma criança! Aquelas nossas tardes de futeboladas, de corridas de Bike ou do que fosse pura e simplesmente acabaram...
Até à porra dos ATL cortaram os fundos!
Mais uma vez, e como disse o eumesmo: dinheiro, custos, euros... Tudo o que eles disserem de optimização do que for...balelas! Redução de custos! Mais nada!
Mas este efeito vai-se notar dentro de 10 anos. Não duvidem. Se os adolescentes de hoje vão sendo cada vez mais um bando de imbecis (todos nós o fomos um bocado ;D) com poucos valores, muitos direitos e quase nenhuns deveres, pelo menos na sua maioria, (desculpem-me os adolescentes deste forum, mas a verdade está aí), daqui para a frente, vai ser ainda pior...
Não duvidem que este país é uma manta de retalhos, onde tudo é feito para reduzir custos ou beneficiar alguém que tenha interesses ocultos(ou nem tanto) e apenas com visão de curto prazo! Se as coisas fossem feitas de forma consciente, a pensar no bem da sociedade e viradas para o desenvolvimento sustentado do país, não duvido que o pessoal apoiasse e que a coisa até resultasse!
E quem fala no caso da educação, fala em tantas e tantas outras coisas! Basta pegar num livro de história económica e ver como esbanjamos rios de dinheiro e de intenções em planos, reformas e medidas completamente ineficazes e muito menos eficientes!
Quote from: Kilo on 21 de November de 2008, 11:50
Mas o engraçado mesmo é ouvir a minha mãe, professora, a dizer que gostava de ter tempo para um coisa de pouca importância, porque importante mesmo são as papeladas e as reuniões, como é ensinar a ler, escrever e fazer contas...
Quem não está no meio, está contra a revolta dos professores porque não imagina no que se tornou a profissão, em que se relegou o mais importante, o ensino, para 2º ou mesmo para 3º plano! Ele é objectivos, é planos de recuperação, é reuniões para escolher a cor do papel higiénico, bla bla bla...
Tempo para preparar as aulas? Pois...
Mas finalmente os pais começam a ter a percepção de que esta "reforma" só prejudica os filhos! E que fiquem todos com essa noção bem vincada, porque é a mais pura das verdades!
E concordo com o eumesmo! Elas são feitas em gabinetes em Lisboa por quem tem filhos em colégios que vão de mercedes para lá!
Quando se promoveu o encerramento das escolas com menos de 10 alunos, alguém pensou nos miudos que ficaram a 10, 15 kms da escola mais próxima? Que tem que acordar antes das 6 da manha à espera do transporte da camara que tem que fazer um circuito de mais de uma hora para ir buscar outros como eles que moram longe demais? Ou será que a venda dos terrenos e edificios onde se encontravam as escolas, interessava a alguém com "presença" nas autarquias?
Ah, é o modelo nórdico, diziam "eles"! Mentira vergonhosa! Na Noruega, na zona mais inóspita, no norte, onde vive o povo Sami, se houver uma aldeia com uma criança, o estado coloca nessa escola um professor.
E depois, crianças de 6 anos, com aulas das 8 às 17! :o Como querem eles que as crianças consigam estar tantas horas numa escola? Há a completa noção de que as crianças ficam exaustas, sem qualquer motivação para aprender e muito menos com tempo para brincar, coisa fundamental para o bom desenvolvimento duma criança! Aquelas nossas tardes de futeboladas, de corridas de Bike ou do que fosse pura e simplesmente acabaram...
Até à porra dos ATL cortaram os fundos!
Mais uma vez, e como disse o eumesmo: dinheiro, custos, euros... Tudo o que eles disserem de optimização do que for...balelas! Redução de custos! Mais nada!
Mas este efeito vai-se notar dentro de 10 anos. Não duvidem. Se os adolescentes de hoje vão sendo cada vez mais um bando de imbecis (todos nós o fomos um bocado ;D) com poucos valores, muitos direitos e quase nenhuns deveres, pelo menos na sua maioria, (desculpem-me os adolescentes deste forum, mas a verdade está aí), daqui para a frente, vai ser ainda pior...
Não duvidem que este país é uma manta de retalhos, onde tudo é feito para reduzir custos ou beneficiar alguém que tenha interesses ocultos(ou nem tanto) e apenas com visão de curto prazo! Se as coisas fossem feitas de forma consciente, a pensar no bem da sociedade e viradas para o desenvolvimento sustentado do país, não duvido que o pessoal apoiasse e que a coisa até resultasse!
E quem fala no caso da educação, fala em tantas e tantas outras coisas! Basta pegar num livro de história económica e ver como esbanjamos rios de dinheiro e de intenções em planos, reformas e medidas completamente ineficazes e muito menos eficientes!
ARAILHO...Eu já nem te bato palmas...eu faço-te é 3 vénias!! ;)
PS: puto, mostra isto à mãe que ela fica toda contente!! ;D ;D
Mas não seria de esperar que os profissionais tivesse os seus metodos de trabalho organizados e prontos a ser apresentados antes de começarem a trabalhar?
Não seria natural que as coisas fossem feitas ao longo dos anos sem ser em cima do joelho e sem ser sempre da mesma forma rotineira?
E será que se os alunos são avaliados quem é responsável pela sua ignorância tb não deveria ser avaliado e julgado por isso?
Será que a ignorância cada vez mais marcada nos últimos anos foi provocada pela avaliação implementada há alguns meses?
E porque é que os sindicatos eleitos pelos professores e que assinaram um acordo há meia dúzia de meses (que agora querem rasgar) não levantaram mundos e fundos e não convocaram passeatas de 120 mil quando foram implementados programas de ensino que visavam o facilitismo?
Será que só se manifestam agora porque com este acréscimo de trabalho acabaram-se algumas das regalias que tinham? Coitadinhos dos professores... maspoucos falam dos alunos que assim ficam cada vez mais ignorantes porque têm cada vez menos aulas.
E já agora: os palahços que atiraram ovos deviam era todos ir apreender que protestar não quer dizer agredir.
Caro 1
nunca serias insultado pelo facto de teres exposto a tua opinião, com toda a correcção! É essa correcção que muitas vezes falta e que, associada ao preconceito, leva a ódios e maniqueismos.
O eumesmo e o Kilo responderam melhor do que eu faria, de qualquer forma quero acrescentar umas coisas:
Como professor, sempre fui contra determinados privilégios (o Zé é testemunha de que há anos que penso assim): nunca concordei com o facto de termos um horário diferente (hoje temos um horário de 35 horas mas há anos a unica coisa que constava do nosso horário eram 22 horas de aulas). Nunca concordei com o facto de progredirmos na carreira apenas com tempo de serviço, por exemplo.
E não sou só eu. A maioria dos meus colegas sempre desejaram um estatuto que nos dignificasse perante a sociedade, que afastasse essa ideia de que eramos priviligeados; até porque não eramos: sempre tivemos necessidade de gastar muitas horas em casa, simplesmente essas horas não estavam declaradas nos nossos horários. E como as pessoas "não as viam", logo, não existiam...
Dizes que nós não deixamos implementar as reformas. Quais reformas? Verdadeira reforma seria deixar de ensinar aos putos inutilidades absolutas sem saberem ler nem escrever. O meu filho sai de casa às 8 e 20 e chega às seis e meia!!!! E quem se preocupa com isto? Já viste a ministra ou o Albino a defender isto? E isto é só um exemplo...
Como professor titular, digo-te também: não pedi esse cargo a ninguém! Tenho colegas mais experientes que eu, se calhar mais competentes que não são titulares! E sabes o que ganho com isto? O direito execrável de avaliar os meus colegas! Vou assistir e avaliar aulas de colegas mais experientes que eu. Se lhe der uma avaliação pouco satisfatória faço figura de parvo, de pretensioso, de invejoso e por aí fora. Se lhe atribuir uma avaliação de Muito Bom ou Excelente, ele fica com o lugar nas quotas que à partida podia ser para mim: avaliado e avaliador concorrem para as mesmas quotas!!! Achas isto bem?
Enfim, isto são apenas pormenores...
Mas olha, já estou na fase em que me farto de rir com isto. Principalmente quando vejo opiniões como tenho lido que, baseadas na mais completa ignorância vêm com lugares comuns como : "estão manipulados pelos comunistas"... ou "não querem ser avaliados" ou "a culpa é dos sindicatos que rasgaram o acordo anterior" haja paciência!
PS - (sem conotação política ;)) - eu tenho alunos que estão a sair do 9º ano sem saber escrever uma frase completa. Alguns deles, se viessem escrever aqui no fórum eu teria vergonha de dizer que fui professor deles. E alguns de vocês não fazem a mais pequena ideia do que nos custa admitir isto. Nem calculam as angustias, o desespero e a impotência com que nós, professores assistimos a isto! A sensação de que não nos deixam ensinar... conheço colegas com graves problemas de saúde mental por causa destas coisas... agora não me digam que não sabemos ensinar... quem está por dentro disto sabe distinguir o "não querer" do "não poder"...
Quote from: cardoso on 20 de November de 2008, 14:43
Quote from: Bvna on 20 de November de 2008, 14:28
Não precisamos de "reformas". Ideias não faltam e, algumas, pessoas competentes também as há. Precisamos é de "tomates". ;D
e ovos ;D
e se acrescentamos a hamburguer o mac donalds inventa ja um nome e vende a rodos!!!
Depois daquilo que foi dito pelo eumesmo, Kilo e Cardoso não há muito a acrescentar. Todas as ditas reformas não visam o melhoramento da qualidade dos serviços, sejam eles médicos, de educação, etc,. mas sim uma simples diminuição de custos. E com tantas reformas a qualidade dos serviços pouco melhora, prejudicado unicamente as pessoas que não recebem o tratamento que merecem e têm direito, e perdendo a confiança nos serviços públicos.
Quote from: Kramer on 21 de November de 2008, 14:06
Depois daquilo que foi dito pelo eumesmo, Kilo e Cardoso não há muito a acrescentar. Todas as ditas reformas não visam o melhoramento da qualidade dos serviços, sejam eles médicos, de educação, etc,. mas sim uma simples diminuição de custos. E com tantas reformas a qualidade dos serviços pouco melhora, prejudicado unicamente as pessoas que não recebem o tratamento que merecem e têm direito, e perdendo a confiança nos serviços públicos.
Exactamente. Isto leva-me a ir mais longe um pouco: não será objectivo ultimo dos governantes "despachar" os alunos para o privado? Olhem que era uma solução bestial (no verdadeiro sentido do termo, porque bestial vem de besta)... e já está a acontecer...
Quote from: Bracarense on 21 de November de 2008, 13:11
Mas não seria de esperar que os profissionais tivesse os seus metodos de trabalho organizados e prontos a ser apresentados antes de começarem a trabalhar?
Não seria natural que as coisas fossem feitas ao longo dos anos sem ser em cima do joelho e sem ser sempre da mesma forma rotineira?
E será que se os alunos são avaliados quem é responsável pela sua ignorância tb não deveria ser avaliado e julgado por isso?
Será que a ignorância cada vez mais marcada nos últimos anos foi provocada pela avaliação implementada há alguns meses?
E porque é que os sindicatos eleitos pelos professores e que assinaram um acordo há meia dúzia de meses (que agora querem rasgar) não levantaram mundos e fundos e não convocaram passeatas de 120 mil quando foram implementados programas de ensino que visavam o facilitismo?
Será que só se manifestam agora porque com este acréscimo de trabalho acabaram-se algumas das regalias que tinham? Coitadinhos dos professores... maspoucos falam dos alunos que assim ficam cada vez mais ignorantes porque têm cada vez menos aulas.
E já agora: os palahços que atiraram ovos deviam era todos ir apreender que protestar não quer dizer agredir.
Nota-se que não estás por dentro do verdadeiro sentido do protesto dos professores! Ninguém está contra a avaliação! Apenas contra ESTE método! Dou-te um exemplo: uma professora vai ser avaliada por outra com menos 15 anos de serviço e que nos últimos nove não deu aulas por estar a fazer trabalho de bibliotecária! Bonito, não é?
O problema é que não tem MESMO tempo pra ensinar. Aulas até às 17. Reuniões após esse horário. E depois? Fazer as fichas? Corrigi-las? E deves saber que nem todos os alunos andam ao mesmo ritmo e são precisas horas em casa para preparar matéria para tentar equilibrar esses mesmo ritmos!
A ignorancia que grassa neste país? Opa, vai perguntar aos paizinhos que de há uns anos para cá deixam fazer tudo e mais alguma coisa aos seus meninos perfeitos! Hoje em dia não há regras, não há castigo nem consequencia para os actos das crianças!
Resultado? Desleixo, despreocupação e a arrogância de achar que o professor é um empecilho! E de que eles é que sabem!
Não há milagres! Isto estava-se à espera ha muito tempo...
Além de que se não fosse a revolta das massas de operários e de outras forças de trabalho, ainda hoje se trabalhava 20 horas por dia a troco de 2 ou 3 pães! Quando as coisas estão mal (notoriamente) e há uma força quase totalitarista a negar que se altere de forma equilibrada, há que lutar, seja com palavras, ovos ou greves! E depois quando cedem, lá está...vem os remendos às reformas! ::)
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 13:59
PS - (sem conotação política ;)) - eu tenho alunos que estão a sair do 9º ano sem saber escrever uma frase completa. Alguns deles, se viessem escrever aqui no fórum eu teria vergonha de dizer que fui professor deles. E alguns de vocês não fazem a mais pequena ideia do que nos custa admitir isto. Nem calculam as angustias, o desespero e a impotência com que nós, professores assistimos a isto! A sensação de que não nos deixam ensinar... conheço colegas com graves problemas de saúde mental por causa destas coisas... agora não me digam que não sabemos ensinar... quem está por dentro disto sabe distinguir o "não querer" do "não poder"...
Cardoso,
Tenho de perguntar isto, a culpa é da Ministra, é das Reformas? De quem é a culpa de que os alunos nao saibam ler? Minha? Dos pais? Dos professores? Dos alunos, que nao sabem ler quanto mais aprender? De quem é a culpa? é do facilistismo associado ao ensino? Não percebo isso, sinceramente nao percebo. Seremos nós portugueses burros por natureza? Os alunos nao sabem ler, quem tem de ser responsabilizado? Quem? Deem-me respostas, por favor! Porque nao podem ensinar? Quem vos proibe de tal coisa? É por terem de preencher dezenas de papeis por eles chumbarem? Porque nao se manifestam, acerca disso? Porque apenas agora que aos olhos da sociedade, perdem regalias e vou exigem algo, é que se revoltam. Onde esteve a vossa preocupaçao pelo ensino durante os tempos em que vos "proibiam" de ensinao? Expliquem-me, por favor, eu sou portugues, sou jovem, quero viver aqui, quer ter familia aqui, quero o meu país a andar para frente. Eu acordo todos os dias às 7h da manha, vou de comboio para o Porto 1h, trabalho 9h sem parar, tenho burocracia, muita! Luto pela honestidade, justiça, igualdade acredito nisso e luto imenso por isso, mas digam-me por favor o que se tem de fazer para isto entrar nos eixos!
Quote from: xpt_nautilus on 21 de November de 2008, 14:19
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 13:59
PS - (sem conotação política ;)) - eu tenho alunos que estão a sair do 9º ano sem saber escrever uma frase completa. Alguns deles, se viessem escrever aqui no fórum eu teria vergonha de dizer que fui professor deles. E alguns de vocês não fazem a mais pequena ideia do que nos custa admitir isto. Nem calculam as angustias, o desespero e a impotência com que nós, professores assistimos a isto! A sensação de que não nos deixam ensinar... conheço colegas com graves problemas de saúde mental por causa destas coisas... agora não me digam que não sabemos ensinar... quem está por dentro disto sabe distinguir o "não querer" do "não poder"...
Cardoso,
Tenho de perguntar isto, a culpa é da Ministra, é das Reformas? De quem é a culpa de que os alunos nao saibam ler? Minha? Dos pais? Dos professores? Dos alunos, que nao sabem ler quanto mais aprender? De quem é a culpa? é do facilistismo associado ao ensino? Não percebo isso, sinceramente nao percebo. Seremos nós portugueses burros por natureza? Os alunos nao sabem ler, quem tem de ser responsabilizado? Quem? Deem-me respostas, por favor! Porque nao podem ensinar? Quem vos proibe de tal coisa? É por terem de preencher dezenas de papeis por eles chumbarem? Porque nao se manifestam, acerca disso? Porque apenas agora que aos olhos da sociedade, perdem regalias e vou exigem algo, é que se revoltam. Onde esteve a vossa preocupaçao pelo ensino durante os tempos em que vos "proibiam" de ensinao? Expliquem-me, por favor, eu sou portugues, sou jovem, quero viver aqui, quer ter familia aqui, quero o meu país a andar para frente. Eu acordo todos os dias às 7h da manha, vou de comboio para o Porto 1h, trabalho 9h sem parar, tenho burocracia, muita! Luto pela honestidade, justiça, igualdade acredito nisso e luto imenso por isso, mas digam-me por favor o que se tem de fazer para isto entrar nos eixos!
Ir para a Finlândia ;D
Para mim o problema está na base, nas matérias que são leccionadas, nos conteúdos que são escolhidos para serem leccionados aos alunos. E isto começa logo na primária (não sei se ainda se chama primária :D) tendo depois resultados nos seguintes anos escolares.
Os pais também têm um quota parte de culpa neste processo.
Quote from: xpt_nautilus on 21 de November de 2008, 14:19
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 13:59
PS - (sem conotação política ;)) - eu tenho alunos que estão a sair do 9º ano sem saber escrever uma frase completa. Alguns deles, se viessem escrever aqui no fórum eu teria vergonha de dizer que fui professor deles. E alguns de vocês não fazem a mais pequena ideia do que nos custa admitir isto. Nem calculam as angustias, o desespero e a impotência com que nós, professores assistimos a isto! A sensação de que não nos deixam ensinar... conheço colegas com graves problemas de saúde mental por causa destas coisas... agora não me digam que não sabemos ensinar... quem está por dentro disto sabe distinguir o "não querer" do "não poder"...
Cardoso,
Tenho de perguntar isto, a culpa é da Ministra, é das Reformas? De quem é a culpa de que os alunos nao saibam ler? Minha? Dos pais? Dos professores? Dos alunos, que nao sabem ler quanto mais aprender? De quem é a culpa? é do facilistismo associado ao ensino? Não percebo isso, sinceramente nao percebo. Seremos nós portugueses burros por natureza? Os alunos nao sabem ler, quem tem de ser responsabilizado? Quem? Deem-me respostas, por favor! Porque nao podem ensinar? Quem vos proibe de tal coisa? É por terem de preencher dezenas de papeis por eles chumbarem? Porque nao se manifestam, acerca disso? Porque apenas agora que aos olhos da sociedade, perdem regalias e vou exigem algo, é que se revoltam. Onde esteve a vossa preocupaçao pelo ensino durante os tempos em que vos "proibiam" de ensinao? Expliquem-me, por favor, eu sou portugues, sou jovem, quero viver aqui, quer ter familia aqui, quero o meu país a andar para frente. Eu acordo todos os dias às 7h da manha, vou de comboio para o Porto 1h, trabalho 9h sem parar, tenho burocracia, muita! Luto pela honestidade, justiça, igualdade acredito nisso e luto imenso por isso, mas digam-me por favor o que se tem de fazer para isto entrar nos eixos!
Como disse atrás:
"A ignorancia que grassa neste país? Opa, vai perguntar aos paizinhos que de há uns anos para cá deixam fazer tudo e mais alguma coisa aos seus meninos perfeitos! Hoje em dia não há regras, não há castigo nem consequencia para os actos das crianças!
Resultado? Desleixo, despreocupação e a arrogância de achar que o professor é um empecilho! E de que eles é que sabem!"
Ir para a rua protestar porque os pais viraram uns prepotentes ignorantes e acham que o seus filhos sao os maiores la da zona e que não podem ser responsabilizados por nada do que fazem? E mesmo que não sejas um pai destes, até uma lambada bem assente num filho dá cadeia!!! :o :o
A era dos psicologos tem destas coisas! ::)
Os melhores alunos sao quase sempre os que tem acompanhamento em casa, uma educação com regras e que respeitam a autoridade do professor (Quando este se dá ao respeito)!
Acreditas que a minha mãe muitas vezes chega à turma e metade não "estudou a lição" em casa? Fala com os pais e sabes qual é a resposta genérica? "Ah, ele(a) disse que não queria ou que não lhe apetecia..."
Não quero com isto dizer que os professores são todos uma maravilha! Não! Há professores maus, como sempre houve e há-de haver! Assim como maus profissionais em qualquer área!
Mas também não seja inocente ao ponto de achar que é possivel mobilizar uma classe quase na sua totalidade apenas por pequenos arranjos ao sistema que foram feitos ao longo dos tempos e que resultaram nisto! Mas que agora, todos somados, o monstro que criaram, é muito maior do que eles!
Os professores não tem problemas em trabalhar até às 18 horas, se necessário for! Mas tu não trazes trabalho pra casa, ou trazes? (e digo de forma obrigatória, não por opção)!
Caro Bracarense.
Antes de mais viva o nosso SCBraga!!! Temos de ganhar Sábado. O ABC joga quase à mesma hora, logo, não vou ver o ABC!
Em relação ao que escreveste acerca do tema da actualidade: "Reformas na Educação", permite-me que te coloque as seguintes questões:
Quote from: Bracarense on 21 de November de 2008, 13:11
E será que se os alunos são avaliados quem é responsável pela sua ignorância tb não deveria ser avaliado e julgado por isso?
A professora, responsável pelo melhor resultado, em média, no exame nacional de Matemática em escolas públicas, afirmou que as suas turmas também têm alunos de zero! Ora bem, que nota é que atribuirias a essa professora? Excelente pela média dos seus melhores alunos ou insuficiente pelos seus maus alunos que não conseguem resolver uma equação do 2º grau? É que ela é a professora dos 2 protótipos de alunos! Já agora se uns são bons pq é que os outros são maus? É culpa é da prof?
Quote from: Bracarense on 21 de November de 2008, 13:11
Será que a ignorância cada vez mais marcada nos últimos anos foi provocada pela avaliação implementada há alguns meses?
Certamente que não! Mas eu e centenas de milhares como eu, talvez até tu, estudámos segundo um sistema de educação que é considerado por este governo como errado e a necessitar de reformas profundas! A pergunta que te coloco é se não te sentes um homem culto e educado capaz de enfrentar o mundo do trabalho? Afinal a escola estava mal? Eu quero ver agora com todos estes facilitismos!
Posso-te dizer que conheço alguns casos de professores que foram agredidos simplesmente por tirar um telemóvel a um aluno dentro da sala de aula. Esses alunos, segundo o novo estatuto do aluno, NÃO PODEM REPROVAR!!! Para além disso, esses alunos andam, algumas vezes, a humilhar e às vezes a agredir os miúdos mais novos e a impedir que estes consigam adquirir mais e melhores conhecimentos. Achas correcto?
Quote from: Bracarense on 21 de November de 2008, 13:11
E porque é que os sindicatos eleitos pelos professores e que assinaram um acordo há meia dúzia de meses (que agora querem rasgar) não levantaram mundos e fundos e não convocaram passeatas de 120 mil quando foram implementados programas de ensino que visavam o facilitismo?
Passeatas de 120 mil? Pois, se fosse uma passeata poderia bem ser num dia de semana porque assim, para além de usar um direito democrático, evitava perder um fim de semana e poderia estar junto da minha filha que apenas tem um mês (já agora, já é sócia do Braga ;-)).
Quote from: Bracarense on 21 de November de 2008, 13:11
Será que só se manifestam agora porque com este acréscimo de trabalho acabaram-se algumas das regalias que tinham? Coitadinhos dos professores... maspoucos falam dos alunos que assim ficam cada vez mais ignorantes porque têm cada vez menos aulas.
Os alunos não ficam com menos aulas! O trabalho adicional é feito fora do horário da componente lectiva! Tens trabalhar numa escola para perceberes que o que escreveste visa uma minoria de professores que, assumo, representam mal a classe. Muitos tinham hábitos absentistas e eram maus profissionais, mas isso há em todas as profissões, ou não?
Quote from: Bracarense on 21 de November de 2008, 13:11
E já agora: os palahços que atiraram ovos deviam era todos ir apreender que protestar não quer dizer agredir.
As agressões foram lamentáveis.
Quando se consegue pôr uma classe inteira a protestar, isso, para além de ser um feito histórico, denota que algo está efectivamente mal, pena é que o efeito destas medidas apenas serão visíveis daqui a uma ou duas gerações.
Saudações braguistas!
Caro Nautilus
fazes tantas perguntas que nem sei por onde começar... é que as tuas dúvidas são as da maior parte dos portugueses. Vou tentar ser o mais sintetico possível porque este não é o âmbito do fórum.
Em primeiro lugar, o faciulitismo já vem de longe e o descontentamento dos professores em relação a isso, também. As causas remotas para a degradação das aprendizagens tem a ver com contextos muito complexos. Assim ao correr da pena, posso referir 4 desses contextos:
1- Contexto Social: Antes do 25 de Abril, como sabes, a repressão estendia-se até à escola. Eu levei tareia porque não conseguia escrever tudo "em cima da linha" ou por deixar marca de borracha quando apagava um número errado! De repente, a revolução trouxe liberdade. Mutos exageraram. Formou-se uma gerção libertária que teve consequências sociais profundas. De repente, passou-se do oito para o oitenta.
2- Contexto socio-económico: a melhoria das condições de vida, natural e nítida nos anos 80 e 90, acarretou um acréscimo do materialismo consumista. Este contexto criou nos jovens a sensação de quero, logo posso, logo tenho! Digamos que este fonómeno relegou para segundo plano o interesse no investimento futuro por parte dos jovens. De repente parece que deixava de ser preciso qualquer esforço para trinufar na vida. Já não era preciso estudar!
3- Ao nível das ciências pedagógicas, criou-se um determinado conceito de pedagogia centrada na criança cuja aplicação foi, mais uma vez exagerada! Associada ao factor anterior, criou-se a ideia que para estudar tinha de haver diversão. Aprender tinha de ser divertido. Colocou-se de lado o espírito de sacrifício. O bom professor é aquele que diverte. Mais nada. Eu sei que não era esta a intenção, mas foi nisto que a nova pedagogia redundou na prática.
4- Contexto político: a democracia faz depender os governos do sufrágio popular. Graças a Deus! No entanto, isto tem efeitos colaterais, nomeadamente o populismo. Perante uma sociedade interessada no "para hoje há, para amanhã Deus dará", a caça ao voto tem de se basear naquilo que há de mais popularucho. E há poucas coisas mais popularuchas do que garantir o sucesso de forma quase administrativa. Os pais querem ouvir o quê? Que o filho sabe resmas de filosofia? Que sabe os Lusíadas de cor? Ou que passou de ano? Pais satisfeitos votam melhor... e são muitos; não são mais que as mães mas quase.
Se associares isto tudo ao actual contexto economico-financeiro, aí tens...
agora porque é que não nos revoltamos mais cedo?
Quem te disse que andamos felizes e contentes? Quantas greves já fomos obrigados a fazer? Quantos de nós já foram parar ao hospital psiquiátrico? Qual é a profissão mais comum entre os clientes do Dr Bessa? Não sabes quem é? Qualquer professor sabe: é um dos melhos psiquiatras de Braga.
Porque não fomos antes fazer manifestações a Lisboa? Porque a prepotência do ministério nunca atingiu esta dimensão!
Porque é que não nos preocupamos antes com o insucesso das aprewndizagens? Preocupamo-nos sempre! Essa foi, é e será sempre a nosso maior proeocupação. Se não aparecemos na televisão tantas vezes como agora, isso não seignifica que não tenhamos tido sempre uma voz activa nessa luta.
Mas devolvo-te a pergunta, noutro formato: onde têm estado as associações de pais na luta pela melhoria da qualidade do ensino? Eu respondo-te: na luta contra os professores porque é fácil sacudir a água do capote!
Nautilus e outros foristas que não têm a mesma opinoião que eu: não leiam nas minhas palavras qualquer ressentimento em relação às vossas opiniões. Se todos fossem frontais, correctos e preocupados como voc~es, este era um país bem melhor.
Um abraço.
PS- quero só reforçar uma coisa que o Aurélio disse: a "passeata" podia ter sido num dia de semana; a lei sindical permiti-lo-ia.
Ena tava a responder mas o aurelio (que conhece a realidade do ensino na primeira pessoa) já respondeu de uma forma completa.
Vou relatar na 3 pessoa (já que a minha namorada é professora)
Como o Aurelio referiu os piores alunos são aqueles em que os pais não se interessam minimamente pela sua educação, são os mesmos pais que agridem professores quando o filhe é repreendido, e que dizem que á da competência dos professores educar os seus filhos porque eles não tem tempo, porque estão a trabalhar (parece que os professores não tem família).
Agora comparando o meu horário com o horário de um professor, eu tenho 40 horas de trabalho semanal para cumprir das 9h as 19h com a respectiva pausa para almoço, um professor tem que cumprir 35 horas de trabalho como qualquer outro funcionário publico, sendo que 22 horas normalmente são de aulas, restam 13 horas não lectivas, das quais 6 são cumpridas nas escolas para trabalho não lectivo, como aulas de substituição e trabalho de secretaria etc. etc , e as restantes 7 Horas (acho que não estou enganado nestes valores) são para preparar as aulas, testes, correcção de testes etc.
Se eu chegar atrasado ao trabalho 5 minutos, posso perfeitamente sair mais tarde os 5 minutos e assim repor o atraso.
O professor se chegar 5 minutos atrasado tem 1 hora de falta.
Se for necessário ficar para alem da hora, não recebo horas extra, mas da mesma forma não me descontam se por algum motivo tiver que sair mais cedo, chama-se a isto flexibilidade, eu tenho obrigações para com quem me paga o salário, e só se as cumprir é que a empresa funciona e me pode pagar o salário.
Se um professor trabalhar para alem do estipulado no horário, não pode ser mais cedo de uma aula para resolver alguma questão sem que lhe seja marcada falta.
Eu tenho um computador na empresa, cadernos, canetas, no fundo todo o material de trabalho que preciso para desempenhar a minha função, na minha empresa ainda é ministrada formação mais ainda do que a que se encontra prevista na legislação.
Um professor tem que ter o seu computador para trabalhar, a sua impressora, para imprimir os testes que faz, canetas para corrigir os testes, par alem disso paga a luz que consome no exercício das suas funções, e ainda dizem que não está na escola a trabalhar (haja paciência).
Um professor tem a seu cargo em regra geral 7 turmas, podendo chegar as 9, nas quais tem cerca de 28 alunos, o que totaliza 196 alunos ou 252 no caso das 9 turmas, que se podem repartir por 3 anos lectivos. Significa que um professor tem que preparar 3 diferentes tipos de aulas, pelo menos 3 tipos de testes diferentes e corrigir 196 ou 252 testes, sempre que é feito um teste (por período são 2)
Na correcção desses testes são perdidos muito mais que o tempo estipulado para esse trabalho, sem que recebam horas extra, no entanto para para ver os jogos do Braga, seja no estádio ou na Tv quando não é possível assistir in loco.
Os miúdos hoje em dia são todos "hiperactivos" e como são assim catalogados pelos psicólogos, os professores tem que aceitar isso e tentar não perder a paciência, quando o miúdo interrompe a aula de 30 em 30 segundos com tudo, excepto algo que tenha a ver com a aula.
O professor não pode enviar o miúdo para a rua, quando ha actos de indisciplina, porque o miúdo não pode simplesmente ir para a rua como no nosso tempo, tem que ir para a sala de estudo ou biblioteca, que não funcionam em determinadas alturas em que ha aulas, ou seja tem que aguentar o miúdo por muito que este falte ao respeito ou que perturbe a aula.
Poderia apresentar ainda relatos de situações de faltas de respeito e mesmo agressões, o caso do ovos á ministra, demonstra o respeito que a juventude tem.
Há que referir uma coisa muito importante, o respeito e a educação deve ser dada em casa.
Na escola ministram-se conhecimentos.
Se o meu pai soubesse que eu faltei ao respeito na escola, estava tramado eu não o professor que me repreendesse.
Respostas como "Ela(e) não queria ir a escola, e então ficou em casa", são dadas pelos pais de miúdos com 12 e 13 anos, quando a policia (depois de comunicado o abandono, por parte do professor) vai a casa (3 meses depois de comunicado o abandono) porque abandonaram a escola, pergunto qual a responsabilidade de um professor por esta situação?
Ha bons e maus professores, já os havia no nosso tempo de estudantes, já havia alunos que faltavam ao respeito e que eram colocados na rua, e chumbavam ano após ano, até terem idade para trabalhar nas obras.
Enquanto os considerados especialistas em educação, pensarem que são especialistas em educação, e enquanto os responsáveis políticos forem irresponsáveis, vamos continuar a ter uma educação com problemas.
Eu sou avaliado por um superior, não por um colega que exerce as mesmas funções que eu, e tenho nessa avaliação a nota que me for dada de acordo com o meu desempenho.
Dois professores que tenham perfis idênticos podem ter notas diferentes, devido aos limites impostos. Ou seja o Governo quer premiar o mérito dos professores mas só de alguns porque senão fica caro.
Se alguém quiser perceber o porque da contestação ao modelo de avaliação convido-o a ler a legislação sobre o mesmo para ver o quão ridículo o modelo é.
Fico-me por aqui que já escrevi demasiado...
@braços
Eumesmo
Quote from: aurelio II on 21 de November de 2008, 14:38
Caro Bracarense.
Antes de mais viva o nosso SCBraga!!! Temos de ganhar Sábado. O ABC joga quase à mesma hora, logo, não vou ver o ABC!
Em relação ao que escreveste acerca do tema da actualidade: "Reformas na Educação", permite-me que te coloque as seguintes questões:
Caro aurelio II,
Infelizmente estarei a trabalhar e não poderei assistir nem ao jogo do Braga nem ao do ABC.
Força para ambos e rumo à vitória.
Em relação às tuas questões/comentários:
1º - A culpa dos bons e maus não é só dos professores. Mas também o método de avaliação não é baseado só nisso, caso contrário não seria necessário assistir às aulas dos avaliados.
2º - Considero que muito do que sou devo-o à escola mas tb reconheço, e já na altura o dizia, que muito há a melhorar e não é por o passado ter sucesso que se deve estagnar;
- Os alunos que agridem professores e outros alunos não devem ser reprovados, devem sim ser julgados e punidos criminalmente; se são graúdos para agredir tb são graúdos para serem punidos;
- O facto de se ter, erradamente, acabado com as reprovações não quer dizer que a avaliação dos professores seja errada;
3º - Peço desculpa pelo termo passeata. Mas porque é que "manifestações" de 120 mil não ocorreram para lutar contra programas educativos que visam o faciltismo?
4º - A minha referência a menos aulas era em relação às greves; Não trabalho numa escola mas fui aluno e conheço muitos professores, pelo que o trabalho extra-lectivo é necessário para completar o horário semanal de trabalho
- Em todas as profissões há maus profissionais (na minha tb) e é por isso que a avaliação é fundamental; quem é mau deve ser "punido" e se incapaz de melhorar, excluido.
5º - Tens toda a razão nesse ponto.
2 comentários mais:
I - por uma maioria a protestar não quer obrigatoriamente dizer que o que se faz está errado; quer sim dizer que a maioria dessa classe discorda
II- é ou não verdade (e já ouvi dizer de tudo e ainda não tenho a certeza) que os sindicatos que representam os professores assinarma um acordo que agora desejam que seja suspenso?
Saudações bracarenses.
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 14:09
Quote from: Kramer on 21 de November de 2008, 14:06
Depois daquilo que foi dito pelo eumesmo, Kilo e Cardoso não há muito a acrescentar. Todas as ditas reformas não visam o melhoramento da qualidade dos serviços, sejam eles médicos, de educação, etc,. mas sim uma simples diminuição de custos. E com tantas reformas a qualidade dos serviços pouco melhora, prejudicado unicamente as pessoas que não recebem o tratamento que merecem e têm direito, e perdendo a confiança nos serviços públicos.
Exactamente. Isto leva-me a ir mais longe um pouco: não será objectivo ultimo dos governantes "despachar" os alunos para o privado? Olhem que era uma solução bestial (no verdadeiro sentido do termo, porque bestial vem de besta)... e já está a acontecer...
Cardoso permite-me discordar um pouco desta tua última afirmação. Não me parece nada, antes pelo contrário, que haja qualquer interesse em beneficiar o privado. As decisões tomadas vão em sentido contrário. Ainda a semana passada foi anunciado pela ministra da saúde um cheque dentista apenas para os alunos do ensino público. Ora aqueles que como eu têm os seus filhos no ensino privado estando a fazer um esforço financeiro suplementar para o poderem suportar, pensando que desta forma estão a dar o melhor aos seus filhos (sobretudo em termos de segurança e organização), vêem-se confrontados com medidas como esta e outras que apenas olham para uma parte e esquecem-se daqueles que pagam do seu próprio bolso o ensino dos seus filhos e ainda ajudam a pagar o ensino público através dos seus impostos, sem que sejam ressarcidos em nada e ainda por cima não têm direito a programas que eles próprios ajudam a pagar com os seus impostos, porque são benesses apenas para o ensino público.
Conheço a realidade do ensino público e do ensino privado. A minha mãe foi professora do ensino público durante toda a sua vida profissional, a minha esposa é professora do ensino privado e já o foi do ensino público. Eu próprio, não sendo professor, tenho acompanhado de perto e lido muitas vezes com alunos com dificuldades, a quem tento ajudar a ultrapassá-las. Tenho vários familiares próximos, uns no ensino público, outros no privado. Tanto no ensino público como no privado há bons professores e outros menos bons, sendo que considero haver uma larga maioria de bons professores. Infelizmente o ensino está mal e a culpa não é certamente dos professores, profissionais dignos e que muito têm dado a este país e pouco recebem em troca, vejam os seus ordenados, sem menosprezo para com um pedreiro, pode-se dizer que este e muitos outros profissionais menos qualificados auferem vencimento superior àqueles que se esforçaram e conseguiram uma licenciatura e que estão dispostos a transmitir o conhecimento, valor inestimável, e muitas vezes educar aqueles a quem os pais muitas vezes apenas se preocupam em dar de comer e vestir.
O ensino em Portugal está a atingir um nível sofrível, em virtude daquilo que têm sido as orientações provenientes dos gabinetes do ministério da educação, onde há gente a mais e que muitas vezes foi lá parar porque não gostava de aturar alunos. Devo dizer que tenho um familiar que não gostava de ensinar (aturar os alunos) e foi para inspector no ministério. Como ele há muitos. O ministério da educação é um organismo enorme, cheio de pessoas, geralmente bem pagas, a congeminar pareceres duvidosos e muitas vezes completamente fora da realidade. O ministério não é apenas a ministra e os secretários de estado, há muitas centenas de funcionários superiores, que no ar condicionado do seu gabinete conseguem parir ideias luminosas, como aquela de fazer subir as estatísticas artificialmente, dando o diploma do 12º ano a toda a gente e que governantes pouco exigentes e pouco preocupados com a evolução do país, mas sim das estatísticas, acolhem com muito agrado e colocam rapidamente em prática. Não tenho visto os intelectuais deste país (se é que ainda os há) a insurgirem-se contra a fraude que dá pelo nome de "novas oportunidades". Esta coisa das novas oportunidades, que já contempla mais de meio milhão de pessoas, não se destina a dar conhecimento, a dar competência técnica às pessoas, mas apenas a fazer subir as estatísticas e a enganar os incautos que pensam que com aquele diploma irão ter um futuro brilhante. Um programa sem um mínimo de exigência, sem qualidade, onde não se aprende nada, serve apenas para enganar aqueles que o frequentam e a dar um mau exemplo para aqueles adolescentes e jovens que não têm muita vontade de estudar, que vêem ali uma forma fácil de sem esforço ser-lhes dado aquilo por que eles não lutaram. É preocupante, especialmente para as futuras gerações assistirem a embustes destes, onde alguém que tem conhecimentos ao nível do 4º ano, recebe um diploma do 12º ano. Mais preocupante é que para empregos no estado, esses estarão em pé de igualdade com aqueles que estudaram e se esforçaram por conseguir o 12º ano a sério. Já havia o ensino recorrente (e continua) que sempre servia para alguns pais dizerem "o meu filho tinha um professor que o tomou de ponta e chumbou-o, mas agora ele fez a disciplina com 17", esquecendo-se de dizer que o seu querido filho tinha entretanto ido para o ensino recorrente onde o nível de exigência é parecido com aquela coisa "das novas oportunidades".
Antigamente, para aqueles que pelas mais diversas razões não tinham tido oportunidade de estudar enquanto jovens, havia uma possibilidade de concorrer ao ensino superior de forma séria e exigente, onde tinham que provar os conhecimentos num exame feito para esse efeito, chamado exame ad-hoc. Agora, desde 26 de Março de 2006, há uma coisa para quem tem mais de 23 anos de idade, que permite de forma simples e sem esforço aceder ao ensino superior todos aqueles que não conseguiram concluir o 12º ano. Basta para isso a análise do currículo, uma entrevista e um teste de "lana caprina". Quando pela primeira vez vi um anúncio de uma universidade com o seguinte teor: "se não conseguiu acabar o ensino secundário faça uma licenciatura", pensei que fosse uma burla de uma universidade privada a pretender enganar os alunos para lhes sacar uns bons euros ao fim do mês. Qual não foi o meu espanto quando me fui informar e verifiquei que afinal se tratava de um decreto-lei que estipulava aquele procedimento e que estipula obrigatoriamente vagas reservadas para tão ilustres candidatos, até para medicina!
Quanto à questão da avaliação dos professores, concordo com ela, aliás, como a grande maioria dos professores. Penso que não haverá dúvidas que o problema está na forma e não na sua existência. Quando temos políticos mal preparados e mal aconselhados o resultado final não pode ser bom. É preciso primeiro que tudo conhecer a realidade e não pensar apenas em quotas para poder reduzir a massa salarial, impedindo a progressão na carreira a muitos profissionais zelosos e competentes que se veriam desta forma artificialmente afastados dessa progressão. Na minha profissão sou anualmente avaliado e também avaliador e as avaliações, assim como a formação de base e formações complementares, contam para a progressão na carreira. A grande diferença que eu vejo é que eu tive formação para fazer avaliação de desempenho, enquanto que essa oportunidade não foi dada aos professores. Os professores foram formados para ensinar e avaliarem os seus alunos, por norma através de testes escritos, não para avaliarem colegas. Na minha profissão jamais seria possível eu ser avaliado por alguém com menos formação que eu, com menos antiguidade que eu. Não se pode construir a casa pelo telhado, é preciso primeiro criar condições, dando formação adequada aos professores e não implementar um sistema que coloca em competição avaliador e avaliado.
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 13:51
Caro 1
nunca serias insultado pelo facto de teres exposto a tua opinião, com toda a correcção! É essa correcção que muitas vezes falta e que, associada ao preconceito, leva a ódios e maniqueismos.
O eumesmo e o Kilo responderam melhor do que eu faria, de qualquer forma quero acrescentar umas coisas:
Como professor, sempre fui contra determinados privilégios (o Zé é testemunha de que há anos que penso assim): nunca concordei com o facto de termos um horário diferente (hoje temos um horário de 35 horas mas há anos a unica coisa que constava do nosso horário eram 22 horas de aulas). Nunca concordei com o facto de progredirmos na carreira apenas com tempo de serviço, por exemplo.
E não sou só eu. A maioria dos meus colegas sempre desejaram um estatuto que nos dignificasse perante a sociedade, que afastasse essa ideia de que eramos priviligeados; até porque não eramos: sempre tivemos necessidade de gastar muitas horas em casa, simplesmente essas horas não estavam declaradas nos nossos horários. E como as pessoas "não as viam", logo, não existiam...
Dizes que nós não deixamos implementar as reformas. Quais reformas? Verdadeira reforma seria deixar de ensinar aos putos inutilidades absolutas sem saberem ler nem escrever. O meu filho sai de casa às 8 e 20 e chega às seis e meia!!!! E quem se preocupa com isto? Já viste a ministra ou o Albino a defender isto? E isto é só um exemplo...
Como professor titular, digo-te também: não pedi esse cargo a ninguém! Tenho colegas mais experientes que eu, se calhar mais competentes que não são titulares! E sabes o que ganho com isto? O direito execrável de avaliar os meus colegas! Vou assistir e avaliar aulas de colegas mais experientes que eu. Se lhe der uma avaliação pouco satisfatória faço figura de parvo, de pretensioso, de invejoso e por aí fora. Se lhe atribuir uma avaliação de Muito Bom ou Excelente, ele fica com o lugar nas quotas que à partida podia ser para mim: avaliado e avaliador concorrem para as mesmas quotas!!! Achas isto bem?
Enfim, isto são apenas pormenores...
Mas olha, já estou na fase em que me farto de rir com isto. Principalmente quando vejo opiniões como tenho lido que, baseadas na mais completa ignorância vêm com lugares comuns como : "estão manipulados pelos comunistas"... ou "não querem ser avaliados" ou "a culpa é dos sindicatos que rasgaram o acordo anterior" haja paciência!
Sei o que se passa porque entre outras coisas tenho uma mãe professora com 20 e tal anos de docência que não é titular por meio ponto (ou algo do género) e mesmo assim vai ter que avaliar(ou iria ter que avaliar) por ser a prof com melhor pontuação no seu grupo (grupo de inglês salvo erro). A avaliação é uma palhaçada e quanto a horas de trabalho sim são muitas agora com as formações mas mesmo assim trabalham menos que a muita gente no sector privado sem duvida.
O problema é que não são oferecidas soluções convincentes pelos professores e qualquer coisa que se faça são contra, nunca ouvi dizer bem de nada e também nunca vi manifestações por causa dos programas serem fracos (já são de há muitos anos para cá). Quando foram afectados é logo de bandeirinha pra Lisboa não os vejo a fazer o mesmo pelos alunos (e tenho uma família cheia de professoras imaginem as "discussões" no jantares de familia ;D)
Só mais uma coisa não entendo como sofrem tanto os professores e mesmo assim continua a haver tanta gente a querer ser professor. Devemos ser um povo que todos têm apetência para o ensino.
A única coisa que posso compreender é que como antes trabalhavam pouco agora têm horários normais e acham demais.
Conheço muita gente que trabalha bem mais horas que 1 professor, bem mais intenso e recebe bem menos que um professor, e hoje em dia ou fazem isso ou não têm emprego, o professor mesmo que seja incompetente (o que também há vários) continua a leccionar sem qualquer stress
Cardoso,
O que eu queria saber é, como é que é possivel que um aluno que nao sabe ler, consiga atingir o 9º ano? Como é que isto é possivel?
Apesar de tudo obrigado pelo teu esforço de tentar perceber o que escrevi! E nem me passa pela cabeça que haja ressentimentos por termos opinioes diferentes, vivemos em sociedade democratica e pluralista e somos todos pessoas de bem que procuram no fundo um mundo melhor, para todos.
O Professor Aurelio II é uma grande professor, se todos os professores fossem como o Srº Aurelio II não era preciso avaliações aos professores ;)
Quote from: 1 on 21 de November de 2008, 16:53
Só mais uma coisa não entendo como sofrem tanto os professores e mesmo assim continua a haver tanta gente a querer ser professor. Devemos ser um povo que todos têm apetência para o ensino.
A única coisa que posso compreender é que como antes trabalhavam pouco agora têm horários normais e acham demais.
Conheço muita gente que trabalha bem mais horas que 1 professor, bem mais intenso e recebe bem menos que um professor, e hoje em dia ou fazem isso ou não têm emprego, o professor mesmo que seja incompetente (o que também há vários) continua a leccionar sem qualquer stress
O querer ser professor, hoje em dia, é estupidez! É desemprego directo!
Mas eu ainda não vi os professores queixarem-se de estar muitas horas na escola! O problema é essas horas na escola, mais as horas que tem que trabalhar em casa...por obrigação! Ou seja, é o que tu achas normal, mais umas quantas horas por dia!
Ou essas profissões, a dos horários normais, EXIGEM que se trabalhe em casa? Não vejo nenhum bancário sair às 17 e levar pastas debaixo do braço!
E sabes que se um professor for apanhado na escola fora das horas do seu expediente não acontece nada, e se na banca fores apanhado dentro do balcão, nem que seja a conversar, sem ter o livro de horas extraordinarias assinado, a multa chega aos 7000€ (se não me engano muito)?
E os professores protestarem pelos problemas dos alunos??? :o E para que servem as associações de pais???
Gostava de desenvolver mais a resposta mas tenho uma reunião às seis e meia por causa da avaliação (não estou a ser irónico).
Só umas notas:
- Na minha profissão, como em todas as outras, há muitos "bananas" que só lá andam para ganhar o deles e só protestam quando lhes mexem no bolso. Sou o primeiro a admitir isso. Não aceito é que me metam no mesmo saco. A mim e à grande maioria dos meus colegas.
- Não cabe aos professores fazer greves ou manifestações por causa dos programas. Cabe aos professores protestar e propôr alterações, como sempre fizemos em sede própria: associações de professores, sindicatos, direcções regionais, etc. Nunca nos calamos sobre isso. Nunca tivemos foi o apoio dos pais. Como diz o Kilo, para que servem as associações de pais.
- Infelizmente, Nautilus, levaria um tempão desgraçado a explicar porque é que alguns alunos chegam ao nono ano sem saber escrever. Só te digo uma coisa: nada se consegue sem esforço. E as aulas não chegam. Nunca chegarão. Aprende-se a escrever escrevendo. Alguns dizem que eu escrevo bem. Talvez. Pelo menos dou poucos erros. Sou sobredotado? Não! Escrevo muito. Os nossos alunos escrevem o quê? SMS's e quejandos... e em casa, quem os manda treinar a escrita? Por outro lado, caro amigo, nem imaginas os riscos que corre um professor que reprove um aluno só por ele não saber escrever!!! Dizem-te logo que essa é apenas uma das competências a avaliar. As outras contam tanto como essa. E são muitas... A reprovação é hoje um processo burocrático muito complexo e que envolve riscos sérios para os professores. A letra da lei é que a reprovação é uma medida excepcional. Claro que o odeal é que eles aprendam sem reprovar. Mas como estamos longe de ter condições para cumprir esse ideal!
Só para finalizar: é por gostar tanto dos meus alunos que luto! Eu não quero mais regalias e aceito de bom grado qualquer avaliação desde que a minha vocação e a minha missão (ensinar) não seja posta em causa. A minha verdadeira avaliação é de vez em quando ouvir dizer aquilo que o J. Vaz disse ao Aurélio II. Isso sim, deixa-me muito mais feliz que os mil e poucos euros que recebo por mês...
só mais uma coisa: 1, não há muita gente a querer ser professor; há muita gente a querer emprego, nem que seja ser professor!
Quote from: Kramer on 21 de November de 2008, 14:27
Quote from: xpt_nautilus on 21 de November de 2008, 14:19
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 13:59
PS - (sem conotação política ;)) - eu tenho alunos que estão a sair do 9º ano sem saber escrever uma frase completa. Alguns deles, se viessem escrever aqui no fórum eu teria vergonha de dizer que fui professor deles. E alguns de vocês não fazem a mais pequena ideia do que nos custa admitir isto. Nem calculam as angustias, o desespero e a impotência com que nós, professores assistimos a isto! A sensação de que não nos deixam ensinar... conheço colegas com graves problemas de saúde mental por causa destas coisas... agora não me digam que não sabemos ensinar... quem está por dentro disto sabe distinguir o "não querer" do "não poder"...
Cardoso,
Tenho de perguntar isto, a culpa é da Ministra, é das Reformas? De quem é a culpa de que os alunos nao saibam ler? Minha? Dos pais? Dos professores? Dos alunos, que nao sabem ler quanto mais aprender? De quem é a culpa? é do facilistismo associado ao ensino? Não percebo isso, sinceramente nao percebo. Seremos nós portugueses burros por natureza? Os alunos nao sabem ler, quem tem de ser responsabilizado? Quem? Deem-me respostas, por favor! Porque nao podem ensinar? Quem vos proibe de tal coisa? É por terem de preencher dezenas de papeis por eles chumbarem? Porque nao se manifestam, acerca disso? Porque apenas agora que aos olhos da sociedade, perdem regalias e vou exigem algo, é que se revoltam. Onde esteve a vossa preocupaçao pelo ensino durante os tempos em que vos "proibiam" de ensinao? Expliquem-me, por favor, eu sou portugues, sou jovem, quero viver aqui, quer ter familia aqui, quero o meu país a andar para frente. Eu acordo todos os dias às 7h da manha, vou de comboio para o Porto 1h, trabalho 9h sem parar, tenho burocracia, muita! Luto pela honestidade, justiça, igualdade acredito nisso e luto imenso por isso, mas digam-me por favor o que se tem de fazer para isto entrar nos eixos!
Ir para a Finlândia ;D
Para mim o problema está na base, nas matérias que são leccionadas, nos conteúdos que são escolhidos para serem leccionados aos alunos. E isto começa logo na primária (não sei se ainda se chama primária :D) tendo depois resultados nos seguintes anos escolares.
Os pais também têm um quota parte de culpa neste processo.
Ao ler estas mensagens, fez-me lembrar um ano da faculdade, em que na minha turma havia uns alunos de ERASMUS vindos da Alemanha, e numa apresentação oral em que eles fizeram em inglês, a professora vira-se para todos na sala e diz :"Olhem para estes vossos colegas estrangeiros, vejam como se faz uma apresentação oral, a capacidade de sintese, de estruturação." Na altura ficamos todos com o pensamento de que eles eram mais do que nós em alguma coisa.
Uma coisa é certa, o nosso ensino anda muito mal, se não fosse o curso não teria as bases que tenho em termos de escrita e fala. Lembro-me que no secundário não nos ensinavam a fazer trabalhos, nós também tinhamos culpa parte nisso, havia muito pouco incentivo em que alguns até passavam para não chumbarem pela terceira vez.
Quote from: justLooking on 21 de November de 2008, 19:23
Quote from: Kramer on 21 de November de 2008, 14:27
Quote from: xpt_nautilus on 21 de November de 2008, 14:19
Quote from: cardoso on 21 de November de 2008, 13:59
PS - (sem conotação política ;)) - eu tenho alunos que estão a sair do 9º ano sem saber escrever uma frase completa. Alguns deles, se viessem escrever aqui no fórum eu teria vergonha de dizer que fui professor deles. E alguns de vocês não fazem a mais pequena ideia do que nos custa admitir isto. Nem calculam as angustias, o desespero e a impotência com que nós, professores assistimos a isto! A sensação de que não nos deixam ensinar... conheço colegas com graves problemas de saúde mental por causa destas coisas... agora não me digam que não sabemos ensinar... quem está por dentro disto sabe distinguir o "não querer" do "não poder"...
Cardoso,
Tenho de perguntar isto, a culpa é da Ministra, é das Reformas? De quem é a culpa de que os alunos nao saibam ler? Minha? Dos pais? Dos professores? Dos alunos, que nao sabem ler quanto mais aprender? De quem é a culpa? é do facilistismo associado ao ensino? Não percebo isso, sinceramente nao percebo. Seremos nós portugueses burros por natureza? Os alunos nao sabem ler, quem tem de ser responsabilizado? Quem? Deem-me respostas, por favor! Porque nao podem ensinar? Quem vos proibe de tal coisa? É por terem de preencher dezenas de papeis por eles chumbarem? Porque nao se manifestam, acerca disso? Porque apenas agora que aos olhos da sociedade, perdem regalias e vou exigem algo, é que se revoltam. Onde esteve a vossa preocupaçao pelo ensino durante os tempos em que vos "proibiam" de ensinao? Expliquem-me, por favor, eu sou portugues, sou jovem, quero viver aqui, quer ter familia aqui, quero o meu país a andar para frente. Eu acordo todos os dias às 7h da manha, vou de comboio para o Porto 1h, trabalho 9h sem parar, tenho burocracia, muita! Luto pela honestidade, justiça, igualdade acredito nisso e luto imenso por isso, mas digam-me por favor o que se tem de fazer para isto entrar nos eixos!
Ir para a Finlândia ;D
Para mim o problema está na base, nas matérias que são leccionadas, nos conteúdos que são escolhidos para serem leccionados aos alunos. E isto começa logo na primária (não sei se ainda se chama primária :D) tendo depois resultados nos seguintes anos escolares.
Os pais também têm um quota parte de culpa neste processo.
Ao ler estas mensagens, fez-me lembrar um ano da faculdade, em que na minha turma havia uns alunos de ERASMUS vindos da Alemanha, e numa apresentação oral em que eles fizeram em inglês, a professora vira-se para todos na sala e diz :"Olhem para estes vossos colegas estrangeiros, vejam como se faz uma apresentação oral, a capacidade de sintese, de estruturação." Na altura ficamos todos com o pensamento de que eles eram mais do que nós em alguma coisa.
Uma coisa é certa, o nosso ensino anda muito mal, se não fosse o curso não teria as bases que tenho em termos de escrita e fala. Lembro-me que no secundário não nos ensinavam a fazer trabalhos, nós também tinhamos culpa parte nisso, havia muito pouco incentivo em que alguns até passavam para não chumbarem pela terceira vez.
Eu também tive na Polónia a fazer um curso de verão onde estavam cerca de 100 alunos sendo 30 portugueses. Os "estrangeiros" chegavam sempre a horas e vestidos de maneira adequada à situação, os portugueses cheguei a ver a chegar 1h atrasados e a ter uma conferencia com o ministro da economia polaco de havainas, calções, manga caviada e óculos de sol. Exame final só não passaram 2 estrangeiros e portugueses passaram 3.
É uma questão de mentalidade do país e dos portugueses.
O meu caso pessoal na escola nunca me senti motivado nunca estudei 1 minuto... até ao 12º com conhecimentos de cultura geral sempre passei e entrei na universidade que queria. Aí já me arrastei passei sempre cadeiras mais gerais e reprovei as mais especificas, sempre que tive cadeiras com professores estrangeiros (nomeadamente Americano, Sul Africano e Inglês) passei e com em 2 casos as melhores notas da universidade. Agrada-me muito mais o estilo de ensinar, a forma de avaliação a motivação dada aos alunos ( um deles obrigava a darmos nós as aulas e era muito exigente). Claro que a maior parte dos alunos programados para a escola portuguesa achavam muito complicado e que o professor era parvo por ser diferente.
Os programas e a forma de ensinar em Portugal para mim é má e isso também molda a sociedade.
http://gatofedorento.sic.pt/videos/a-extrema-burocracia-nas-escolas
;D ;D ;D
Quote from: El_Gavion on 21 de November de 2008, 12:09
Quote from: Kilo on 21 de November de 2008, 11:50
Mas o engraçado mesmo é ouvir a minha mãe, professora, a dizer que gostava de ter tempo para um coisa de pouca importância, porque importante mesmo são as papeladas e as reuniões, como é ensinar a ler, escrever e fazer contas...
Quem não está no meio, está contra a revolta dos professores porque não imagina no que se tornou a profissão, em que se relegou o mais importante, o ensino, para 2º ou mesmo para 3º plano! Ele é objectivos, é planos de recuperação, é reuniões para escolher a cor do papel higiénico, bla bla bla...
Tempo para preparar as aulas? Pois...
Mas finalmente os pais começam a ter a percepção de que esta "reforma" só prejudica os filhos! E que fiquem todos com essa noção bem vincada, porque é a mais pura das verdades!
E concordo com o eumesmo! Elas são feitas em gabinetes em Lisboa por quem tem filhos em colégios que vão de mercedes para lá!
Quando se promoveu o encerramento das escolas com menos de 10 alunos, alguém pensou nos miudos que ficaram a 10, 15 kms da escola mais próxima? Que tem que acordar antes das 6 da manha à espera do transporte da camara que tem que fazer um circuito de mais de uma hora para ir buscar outros como eles que moram longe demais? Ou será que a venda dos terrenos e edificios onde se encontravam as escolas, interessava a alguém com "presença" nas autarquias?
Ah, é o modelo nórdico, diziam "eles"! Mentira vergonhosa! Na Noruega, na zona mais inóspita, no norte, onde vive o povo Sami, se houver uma aldeia com uma criança, o estado coloca nessa escola um professor.
E depois, crianças de 6 anos, com aulas das 8 às 17! :o Como querem eles que as crianças consigam estar tantas horas numa escola? Há a completa noção de que as crianças ficam exaustas, sem qualquer motivação para aprender e muito menos com tempo para brincar, coisa fundamental para o bom desenvolvimento duma criança! Aquelas nossas tardes de futeboladas, de corridas de Bike ou do que fosse pura e simplesmente acabaram...
Até à porra dos ATL cortaram os fundos!
Mais uma vez, e como disse o eumesmo: dinheiro, custos, euros... Tudo o que eles disserem de optimização do que for...balelas! Redução de custos! Mais nada!
Mas este efeito vai-se notar dentro de 10 anos. Não duvidem. Se os adolescentes de hoje vão sendo cada vez mais um bando de imbecis (todos nós o fomos um bocado ;D) com poucos valores, muitos direitos e quase nenhuns deveres, pelo menos na sua maioria, (desculpem-me os adolescentes deste forum, mas a verdade está aí), daqui para a frente, vai ser ainda pior...
Não duvidem que este país é uma manta de retalhos, onde tudo é feito para reduzir custos ou beneficiar alguém que tenha interesses ocultos(ou nem tanto) e apenas com visão de curto prazo! Se as coisas fossem feitas de forma consciente, a pensar no bem da sociedade e viradas para o desenvolvimento sustentado do país, não duvido que o pessoal apoiasse e que a coisa até resultasse!
E quem fala no caso da educação, fala em tantas e tantas outras coisas! Basta pegar num livro de história económica e ver como esbanjamos rios de dinheiro e de intenções em planos, reformas e medidas completamente ineficazes e muito menos eficientes!
ARAILHO...Eu já nem te bato palmas...eu faço-te é 3 vénias!! ;)
PS: puto, mostra isto à mãe que ela fica toda contente!! ;D ;D
Quando ela fizer um intervalo na burocracia "sponsored by Lurdinhas", eu mostro! ;D
Já não há muito a dizer sobre isto.O Cardoso e o Kilo, sobretudo, disseram o que havia para dizer. Só espero que aqueles que pensavam que os professores não querem este modelo de avaliação porque não querem ser avaliados ou porque não querem fazer nenhum, tenham mudado de opinião, tenham percebido que é uma injustiça e uma estupidez da "Sra." Ministra!
Eu, por ser filho de dois professores, sei o que eles sofrem, principalmente a minha mãe, que é professora do 1º Ciclo! E isto também sobra para mim; por exemplo, deixei de ter liberdade no visionamento dos Telejornais na presença dos meus pais: sempre que a Lurdinhas ou o Sócrates aparecem, automaticamente tenho que mudar de canal! ;D
Para além disso, vejo a minha mãe chegar a casa estourada e ainda ter que preencher não sei quantos papéis e fazer não sei quantos relatórios, inclusivé ao fim-de-semana! E nas férias de Natal vou ter que a ajudar a preencher os papéis da avaliação dos alunos!
Resumindo, vida de professor é (cada vez mais) difícil, mas a de filho de professor(es) também! ;D
P.S.: Escrever sobre Educação no SB...nunca pensei! ;D
Nem de propósito, papaprémios! Eu não sei se devia dizer isto, mas cá vai: já cheguei ao cúmulo de pôr aminha filha a corrigir TPC's a 10 cêntimos cada... sempre dá para gomas... mas a Lurdinhas é que devia pagar..
quanto à televisão, aqui é mais fácil - já não se vêm telejornais. Todos preferimos a Nova Escola do Imperador ou o American Dragon ;D
Hás-de dizer aos teus pais que experimentem. Aprende-se muito mais no Disney Channel.
E acho que te dei uma boa ideia para financiar as gomas...
Ferreira, desculpa só responder agora mas o tempo não dá para tudo.
O teu excelente texto merecia um comentário bem alargado, mas este não é o local apropriado e já nos espalhamos bastante num fórum braguista. No entanto, quero salientar alguns aspectos do teu texto
- quanto ao ensino privado, é certo o que dizes. tenho uma filha no privado e um filho no publico. Acho que, a longo prazo, o Estado vai querer "libertar-se" o mais possível do jugo da educação. Para eles, o serviço público é um peso. Neste aspecto, não me venham com modelos nórdicos porque o modelo que estão a seguir na prática é o dos sacro-santos EUA, onde a educação pública é para os pobres e a saúde paga-se com seguros. Isto não significa que eles tenham de apoiar o privado. Eles não o apoiam, como dizes, porque acham que ele tem de sustentar a si próprio e não lhes convém que a educação doi futuro se habitue a apoios estatais.
- Concordo em absoluto quando apontas o dedo à "nomenclatura" do Ministério. Aquilo está cheio de tecnocratas e burocratas que não fazem a mínima ideia do que é uma escola. Imaginem o Superbraga a ser administrado por pessoas que nunca foram ao futebol... ou uma empresa com um patrão que nunca trabalhou no ramo!
- A parte final do teu texto vai de encontro áquilo que já foi dito tantas vezes mas só o ministério não vê: estamos a formar ANALFABETOS FUNCIONAIS.
Gosto muito destes debates de ideias provocados pelos excelentes textos do cardoso.
Para não restringir muito o comentário à situação da educação em Portugal, posso dizer que fazendo uma abordagem transversal à história da humanidade, ela é feita de Reformas e Remendos. Circunscrevendo-a ao antes e após revolução de Abril, posso dizer algo que é do comum conhecimento: pobreza sempre a houve. A diferença é que esta revolução babilónica que trouxe acoplada vários direitos e deveres, de entre os quais a supracitada liberdade de expressão, foi diluindo aos poucos num registo inversamente proporcional o valor respeito.
Eu sei que no antes-revolução a situação era complicada: as famílias eram unidas nas adversidades, eram patriarcais e os papéis bem definidos. As pessoas mais velhas impunham mais respeito só pela idade. Era vergonhoso ficar a dever dinheiro. A escola, a igreja, a polícia eram instituições de respeito e isso reflectia-se no comportamento de todos. Trabalho havia para todos mesmo que no sector primário, secundário e terciário. Dava para escrever muito mais...
E o futebol no meio disto tudo? É o espelho da sociedade em que vivemos.
Quote from: J. Vaz on 21 de November de 2008, 17:21
O Professor Aurelio II é uma grande professor, se todos os professores fossem como o Srº Aurelio II não era preciso avaliações aos professores ;)
Ó J.! Graxa?
Se ainda fosses meu aluno chumbarias de certeza!
Abraço! ;D
Caros,
Tinha e ainda tenho imenso que dizer sobre toda esta tematica, no entanto nao sendo este o espaço indicado para me manisfestar e nao tendo tempo para colocar aqui um comentario que reproduza em toda a amplitude a minha opiniao prefiro aguardar uma outra ocasiao temporal para o fazer. Espero sinceramente o poder vir a fazer.
No entanto, nao queria deixar de passar a oportunidade sem dizer apenas duas coisas. Uma, culpar o 25 de Abril de todos os nossos problemas só o consigo ler desta forma, os portugueses sofrem todos de uma amnésia colectiva selectiva (seja sob a forma de falta de memória ou entao conhecimento de causa do que era de facto o nosso país no saudoso tempo do melhor portugues de sempre). Outra e para terminar em jeito de reflexao, vou parafrasear um antigo presidente dos Estados Unidos da America, "Ask not what your country can do for you but what you can do for your country." (JFKennedy), reflectiam nisso...se tiverem tempo claro!
Quote from: aurelio II on 23 de November de 2008, 21:22
Quote from: J. Vaz on 21 de November de 2008, 17:21
O Professor Aurelio II é uma grande professor, se todos os professores fossem como o Srº Aurelio II não era preciso avaliações aos professores ;)
Ó J.! Graxa?
Se ainda fosses meu aluno chumbarias de certeza!
Abraço! ;D
;D ;D ;D
Se estivesse noutro fórum que não este, também meteria a colherada na discussão. Como aqui se discute fundamentalmente bola, queria pegar no texto do Cardoso por aí dizendo desde já que não me parece que a comparação seja muito bem conseguida. O futebol não vai lá com reformas, é bem patente. O que o futebol precisa é uma nova relação de forças - o que está em causa no bloqueio do nosso futebol é uma questão de poder. É preciso uma revolução nas estruturas de poder!
O futebol está hoje (como esteve nas últimas décadas) entregue aos clubes e, na prática, aos mais fortes de entre estes. Esta estrutura de poder impede que os clubes, dada a concentração de forças em três deles, se possam dar ao luxo de ultrapassar uma visão centrada num interesse próprio míope. Todos nós percebemos que o que interessa à competitividade do nosso futebol como um todo (o que implica uma visão de longo prazo) não coincide com os interesses imediatistas dos clubes:uns porque as assimetrias de poder em seu favor lhes permitem reinar na mediocridade; outros pela sua fraqueza relativa, temem que a mudança venha a afectar os seus interesses... havendo ainda os que, eventualmente percebendo os benefícios de algumas alterações a longo prazo, temem represálias dos mais fortes. E que mudanças são essas? É evidente que o nosso país não tem dimensão (demográfica e sobretudo económica) para suportar duas divisões profissionais com tantos clubes. É evidente que a forma como as receitas do futebol são repartidas é um mecanismo de reforço das desigualdades entre clubes que mina a competitividade desportiva e, a prazo, ameaça a viabilidade do negócio futebol. A questão é: se há algum consenso quanto a esta leitura genérica, porquê não se consegue levá-la por diante? Precisamente porque, com o poder nas mãos dos clubes, estes não conseguem ultrapassar o seu interesse egoísta, imediatista: uns porque lhes interessa manter o statu quo, outros por receio de que alterações coloquem em causa a sua presença entre os maiores do nosso futebol; e outros por receio de provocarem ondas. Mediante isto, é evidente que não há soluções possíveis dentro do actual quadro institucional que governa o futebol. E das duas uma: ou há uma entidade externa que pressiona/força mudanças - e só pode ser o Estado através da Sec. Estado do Desporto; ou o futebol cai de podre e, nesse dia, talvez acabem essas alterações por ser implementadas mas com custos muito maiores em termos desportivos e económicos. Como não acredito que o Estado queira sujar as mãos com o futebol (qualquer que seja a cor do governo), creio que, tarde ou cedo, o meu segundo cenário acabará por concretizar-se.
Aqui fica uma opinião de José Manuel Delgado, jornalista d'A BOLA (que até não aprecio particularmente). Há muito que me parece que a proposta que faz de uma Liga com duas fases seria uma boa opção. Mas a reconfiguração dos quadros competitivos não pode estar separada de outras alterações institucionais, sobretudo a centralização das receitas televisivas (e de publicidade "genérica") numa Liga mais forte, com critérios de repartição bem mais equitativos.
O que querem os clubes?
Por José Manuel Delgado
A crise em que o Estrela da Amadora continua mergulhado (e que aflige muitos outros clubes do principal escalão que apenas ainda não saíram do armário) e a preocupação dos emblemas da II Liga quanto às receitas da competição, trouxeram à luz do dia, mais uma vez, o tema da necessidade de alterar profundamente os quadros competitivos do futebol português. Está mais do que visto que um mercado não sustenta 16 clubes profissionais na I Liga, muito menos suporta igual número na II. A questão não é nova e as soluções há muito são conhecidas. Porém, parece que é preciso que se verifiquem mais alguns estoiros para que sejam tomadas as medidas necessárias. E que medidas são essas, de que muitos clubes fogem por temerem ser por elas apanhados e outros não as querem por temerem alterações na actual correlação de forças dentro da Liga, que lhes é favorável?
Em relação ao primeiro escalão, a viabilidade passa por uma Liga de 12 clubes, que jogam entre si uma primeira fase (22 jogos); na segunda fase, os seis primeiros e os seis últimos formam duas séries, para onde transita metade dos pontos que conseguiram na primeira fase. Ou seja, até se apurar a classificação final, cada clube faz 32 jogos, em vez dos actuais 30. Com a vantagem de haver mais duelos susceptíveis de levar muitos mais adeptos aos estádios, aumentando exponencialmente não só as receitas mas também a qualidade do jogo jogado.
No que respeita à II Liga, a solução também não é difícil de levar a cabo: basta apostar na regionalização, acabando com um formato megalómano que gera receitas curtas e despesas longas.
Só um conceito de aposta firme nos derbies regionais pode devolver a vida ao escalão secundário. Enquanto a actual política de avestruz vigorar, vamos lamentar a crise do futebol profissional. Então, porque não se muda? Ora, porque tudo isto interessa à maioria dos dirigentes. Só pode...
in A BOLA
Quote from: Pedro Ribeiro on 24 de November de 2008, 12:31
...
queria pegar no texto do Cardoso por aí dizendo desde já que não me parece que a comparação seja muito bem conseguida. O futebol não vai lá com reformas
...
E o país, Pedro? O país vai lá com reformas? Era aí que eu queria chegar.
Remetendo-me ao futebol: como já discutimos a propósito de outro texto, concordo contigo quando dizes que o futebol está nas mãos de alguns. E dizes também que a uns clubes interessa o "staus quo" enquanto outros estão dominados pelo medo de fazer ondas. Concordo. Acho que uma das soluções passa pela união entre os clubes "não-considerados-grandes". falta coragem e há demasiada rivalidade, como aquela questão que a CS adora lançar (porque será?) sobre quem é o 4º grande. Sem união, os pseudo-auto-intitulados-grandes continuarão a dominar a seu bel-prazer o futebol português.
Por outro lado lanças a questão da intervenção estatal. Acontece que em portugal (e não só) ainda há muito aquela ideia que a intervenção do Estado faz lembrar os comunistas-que-comem-criancinhas. Há medo de intervir e há interesses pelo meio, como todos sabemos.
Quote from: cardoso on 24 de November de 2008, 16:02
Quote from: Pedro Ribeiro on 24 de November de 2008, 12:31
...
queria pegar no texto do Cardoso por aí dizendo desde já que não me parece que a comparação seja muito bem conseguida. O futebol não vai lá com reformas
...
E o país, Pedro? O país vai lá com reformas? Era aí que eu queria chegar.
De forma simplista, só há três situações possíveis, Cardoso:
a. Está tudo bem (ou pelo menos razoavelmente bem) no país, de forma a não termos que temer pelo futuro e não precisarmos assim de alterações significativas no modo como o país funciona;
b. Nem tudo está bem no presente e há que alterar algumas situações de forma a que as coisas não tendam a piorar, introduzindo reformas no sistema - de outro modo, o sistema (não confundir com o outro, o da bola) perderá perante grande parte da população a sua legitimidade e estará a breve trecho em causa;
c. As coisas não estão bem nem há forma de as resolver sem significativas alterações ao sistema; é preciso pois questionar tudo, a sociedade desde a base - o que termina normalmente em processos revolucionários turbulentos.
Tudo depende da percepção das pessoas. Para já, parece-me que a maioria das pessoas tem a leitura b. Mas há bem mais pessoas dispostas a aderir à tese c do que havia há alguns anos. A história mostra que quando se estica demasiado a corda, as sociedades ficam vulneráveis a movimentos de diversas origens de natureza autoritária. E estes considerandos ultrapassam (em muito) a dimensão do nosso país.
Agora, entendo perfeitamente que dentro das possibilidades de reforma há vários caminhos disponíveis. E o termo reforma tem sido usado de forma recorrente como substituto de recuo (do Estado). Falta verdade perante as populações quanto a estas escolhas - porque elas trazem alguma dor, nem todos vão sair melhor delas. Não se pode olhar apenas aos recursos sem oferecer uma visão de futuro às pessoas, sob penas de estas não estarem dispostas a sacrifícios. Somos capazes de sacrifícios quando sabemos que eles têm uma razão de ser - um futuro melhor para a maioria de nós, uma sociedade mais harmoniosa.
No caso da educação, os problemas começam quando não se assume que há um objectivo de estancar o crescimento dos custos, criando mecanismos artificiais que o procuram alcançar de uma forma dissimulada. Erro grave, a partir do qual tudo degenerou, porque as pessoas não são parvas e certamente não gostam que os problemas que lhes dizem respeito sejam resolvidos nas suas costas. Atenção: não considero que a questão dos custos suportados pelo Estado nas suas diversas áreas seja um problema menor. Não é. Basta ligar a televisão e ouvir os telejornais. Só na semana passada, não contando com os professores, sem estar muito atento, ouvi queixas de magistrados e militares, todos alegando falta de recursos nas suas áreas. E a verdade é que metade da riqueza que produzimos é consumida pelos serviços do Estado. Em contrapartida, ninguém quer pagar mais impostos. Isto não é sustentável: quem suporta o Estado não é a pequena parcela dos mais ricos nem a (cada vez maior) parcela dos pobres: é uma classe média cada vez mais empobrecida. E eu temo que se não houver um travão a este crescimento descontrolado do Estado, se atinja um limite de saturação para essa classe média, que deixe de se rever nesta configuração social, passando a adoptar o "cada um por si". Isso seria o fim do Estado Social e uma desgraça para uma franja muito alargada da população.
Muito mais havia para dizer mas este não é o fórum adequado... e já me afastei do tema bola mais do que queria... ;D ;D ;D