Jorge Coroado colaborou como perito no processo 'Apito Dourado'. Nesta entrevista fala das pressões, dos recados e das ameaças que recebeu ao longo da carreira. Lamenta "a subserviência dos árbitros ao poder" e diz que esteve uma vez em casa de Valentim Loureiro e não gostou. Defende que árbitros e dirigentes envolvidos no 'Apito Dourado' deveriam cessar funções e aconselha Maria José Morgado a estar atenta.
Correio Sport – Depois de mais de 25 anos na arbitragem, o que soube pelo 'Apito Dourado' que não conhecesse já?
Jorge Coroado – De tudo o que saiu até agora, nada foi novidade. São coisas antigas e práticas velhas. A única matéria menos conhecida era a existência de uma relação tão directa entre autarquias e futebol.
– Árbitros arguidos devem continuar a arbitrar?
– Nem árbitros suspeitos devem continuar a arbitrar nem dirigentes suspeitos devem continuar a dirigir. Mas nós em Portugal damos muito valor aos vigaristas.
– Que conselho dá a Maria José Morgado?
– Que esteja atenta, que evite chamuscar-se neste processo.
– Ao longo destes dois anos colaborou no processo...
– Como outros, fui nomeado perito pelo Ministério Público.
– Conheceu casos concretos de corrupção na arbitragem?
– Directamente não. O que sempre notei foi uma enorme subserviência dos árbitros perante pessoas a quem reconheciam autoridade, para progredirem na carreira.
– Esse medo está relacionado com as classificações...
– Exactamente. A postura subserviente partia do próprio árbitro que na hora de decidir um lance encolhia--se. Vou dar-lhe um exemplo: há uns anos, num FC Porto-Benfica, aos 20 minutos de jogo, perante uma falta gravíssima do João Pinto, o árbitro fez de conta que nada viu. Pouco depois, encontro-o: "Olha lá porque é que não mostraste o vermelho?" Diz-me ele: "Expulsar o capitão do FC Porto, aos 20 minutos, nas Antas?! Deves estar maluco". Este medo sempre me incomodou.
– Medo de Pinto da Costa e de Valentim Loureiro...
– Sem dúvida. Esses eram as principais figuras, aquelas a quem se reconhecia maior poder pelos cargos que ocupavam e os árbitros temiam-nos. O Benfica e o Sporting também tinham o seu peso, mas não como os outros dois casos.
– Tentaram comprá-lo?
– Não. Mas quando discordei publicamente da integração da arbitragem na Liga de Clubes, o director executivo, José Guilherme Aguiar, teve uma conversa comigo, muito curiosa, no seu gabinete, a 2 de Dezembro de 1996, em que contou o seguinte: quando era vice-presidente do FC Porto disse um dia ao Paulo Futre que ou cumpria as regras ou não podia jogar naquele clube. "E olhe que o Futre era a estrela da companhia", rematou. Percebi o recado: ou me calava ou me punham à margem.
– Foi posto à margem?
– Não. Calei-me. E no ano seguinte até fui o primeiro.
– E pressões em jogos?
– Citei numa pessoa do FC Porto, conto agora um caso com alguém ligado ao Benfica. Em 87 ou 88, Porfírio Alves, do Conselho de Arbitragem, disse-me que na parte final dos campeonatos certos clubes não me queriam a arbitrar nos jogos em casa. Foi claro que se tratou de uma tentativa de me explicar que se fosse mais flexível poderia apitar mais jogos.
– Voltou a ceder?
– Durante uns tempos procurei rectificar um ou outro comportamento mas não consegui. Não estava a ser eu e voltei ao meu caminho.
– Algum dia um colega lhe confessou um suborno?
– Não. Os meus colegas não morriam de amores por mim e eu não morria de amores por eles. Um dia disseram- -me que um dos meus fiscais-de-linha tinha recebido uns bens. Não sei se foi verdade ou não. Mas comecei a notar-lhe um comportamento estranho.
– O que lhe fez?
– Corri com ele da minha equipa.
– Viu árbitros a enriquecer?
– O que sempre vi foi uma enorme vontade de agradar ao poder. Nos anos 80 contava-se a história de um árbitro que se afastou da arbitragem após o pagamento de uma verba do conselho de arbitragem.
– Ficou surpreendido com o envolvimento de Pinto de Sousa no 'Apito Dourado'?
– Pinto de Sousa é um homem afável, pouco disponível para confrontos, dado a consensos. Tendo em conta este perfil, acredito que é muito capaz de se ter deixado envolver em situações pelas quais está indiciado. Mas não o vejo a fazê-lo para tirar proveitos pessoais, mas sim para não se aborrecer.
– Conhece árbitros que vivam acima das suas possibilidades?
– Há situações que sempre estranhei, mas há quem faça milagres com o dinheiro. Vi quem ganhasse menos do que eu ter carros muito melhores do que o meu, viajar muito mais do que eu, frequentar restaurantes acima da média. Mas não vou fazer juízos.
– Alguma vez entrou em casa de um dirigente?
– Duas vezes. Na de Adriano Pinto, onde almocei e onde não se falou por um segundo de futebol. E, a convite do sr. Pinto de Sousa, acompanhado por mais dois árbitros, na de Valentim Loureiro. Foi após um Boavista-Benfica, no final da década de oitenta, um jogo arbitrado por Carlos Valente, que o Boavista perdeu. Foi muito constrangedor. Não gostei do comportamento de Valentim Loureiro e muito menos da maneira como ele tratou as pessoas que estavam ao seu serviço, os empregados da casa.
– Nunca esteve em casa de Pinto da Costa?
– Nunca. Nem faço ideia onde mora.
– Como eram as vossas relações?
– Em 1993, no dia 28 de Dezembro, num Boavista-FC Porto, expulsei 3 jogadores do FC Porto e dois do Boavista e ainda ficou por marcar um penálti contra o FC Porto que, por estar de costas, não vi. No final, o Pinto da Costa entra na cabine dos árbitros de forma muito agreste que não me agradou. Tive que lhe lembrar que aquela era a minha cabine e, portanto, o melhor que ele tinha a fazer era sair.
– Como é que ele reagiu?
– Pinto da Costa reconhece quem o enfrenta.
– Leu o livro de Carolina?
– Não conheço a senhora nem privei com ela. Se se tratasse de um homem diria que estava ali um corno atraiçoado. Como é uma mulher, trata-se do testemunho de um coração traído.
– Ofereceram-lhe serviços de prostitutas?
– Na Roménia, foi-me oferecida a companhia de uma senhora, lindíssima, que não era prostituta mas que estava obrigada a fazê-lo sob pena de despedirem o marido. Foi uma situação terrível e degradante. Mas em Portugal também não era nem é uma novidade.
– Foi ameaçado?
– Fui, no Estádio da Luz, em 1991, no final de um Benfica-Torreense, pelo sr. Gaspar Ramos. Em 1995 o mesmo dirigente disse aos berros que iria fazer de tudo para acabar com a minha carreira.
– De que clube recebeu mais pressões?
– Do Benfica e dos seus dirigentes. Inquestionavelmente. Estou convicto de que se mais carreira não tive foi por influência de gente do Benfica. De Gaspar Ramos a Luís Filipe Vieira, que vetou o meu nome, em 2002, para vice-presidente do Conselho de Arbitragem.
– Mas fez uma carreira longa.
– Só por duas vezes fui o melhor árbitro. Quando confrontei Pinto de Sousa, ele disse que a Associação do Porto dava cabo dele se, em dois anos consecutivos, o primeiro da lista fosse um árbitro de Lisboa.
– Algum dia duvidou das suas classificações?
– No ano em que fiquei em 22.º lugar achei estranho.
– Vítor Pereira, como presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, pode melhorar o sector?
– Se não fizer o que sempre fez, ou seja, a permanente procura de distinções pessoais.
– Sempre foram rivais. Falam-se?
– Institucionalmente cumprimento toda a gente. Como também faço festas aos animais.
– Qual foi o presente mais caro que já recebeu de um dirigente?
– Um serviço de porcelana da Vista Alegre, que o então presidente do Beira-Mar, Silva Vieira, mandou entregar em casa de minha mãe. Pedi-lhe que fosse levantar o embrulho porque não o queria e comuniquei o caso ao Conselho de Arbitragem. A notícia saiu num jornal, Silva Vieira resolveu insultar-me e foi responder a Tribunal. Ao fim de dez anos foi condenado e indemnizou-me. Com esse dinheiro e um bocadinho mais comprei um carro, um Citroën C 3.
– Tem apitos dourados?
– Seis. Um que recebi do Sporting, no tempo de Sousa Cintra, e os outros foram-me dados por jornais.
– E relógios?
– Cerca de 50 relógios que me foram oferecidos pelos clubes, dos mais variados valores. A minha regra para aceitar estes presentes foi sempre simples: apenas aceitava ofertas que eu pudesse comprar e só as recebia depois dos jogos. Porque muitos dirigentes apareciam antes dos jogos e no final, se a equipa perdia, esqueciam-se.
– Havia quem aceitasse ou oferecesse carros?
– Havia quem os comprasse com muitas facilidades de pagamento.
UM ÁRBITRO GARRIDO (OPINIÃO DE ANTÓNIO TADEIA, JORNALISTA)
Para o último jogo da sua carreira, a final da Taça de Portugal de 2001, entre o FC Porto e o Marítimo, Jorge Coroado apareceu de preto. Numa altura em que aos árbitros estava aberta a hipótese de escolherem toda uma panóplia de cores berrantes – vermelho, amarelo – o mais garrido juiz de campo da história do futebol português voltou ao negro. Uma forma de lembrar a tradição ou mais uma tentativa de ser diferente, de se constituir como protagonista de um jogo onde, por norma e se tudo correr bem, são os futebolistas quem monopoliza as luzes da ribalta?
Coroado nunca teve medo de ser a notícia. Pelo contrário: enfrentou sempre as câmaras com um misto de dever e satisfação – e talvez por isso consiga hoje ser comentador de arbitragem com presença regular numa estação de rádio, duas de televisão e um jornal desportivo e tenha colocado o nome nos tops de vendas de livros em Portugal, através da edição pela Prime Books de 'O Último Cartão', escrito a meias com o jornalista Jorge Baptista.
Nesta obra, o bancário de Carnaxide denuncia a podridão que encontrou nos 26 anos em que andou pela arbitragem activa (de 1975 a 2001), chama "chico-esperto" a Valentim Loureiro, diz que Pinto da Costa é "intratável", regressa ao caso da polémica expulsão de Caniggia num Benfica-Sporting, que lhe valeu até hoje a má vontade do Benfica, ao episódio da "azia" que disse sentir depois de se ter apercebido dos erros cometidos num Chaves-Sporting, em prejuízo claro dos 'leões', ou à recusa de um valioso serviço de louça oferecido pelo então presidente do Beira-Mar, Silva Vieira.
No livro, pode ver-se Coroado como ele é: egocêntrico ao ponto de quase parecer desequilibrado, mas ao mesmo tempo desassombrado e honesto, sem qualquer sentimento corporativo de defesa de classe ou instinto político virado para o tráfico de influências.
A maior prova encontra-se logo no ano em que subiu a internacional (1990), quando recusou participar numa homenagem a Lourenço Pinto, então presidente da Comissão de Arbitragem, por nela encontrar resquícios de um condenável "beija-mão". "De cardeais Richelieu já tenho a minha conta", disse então o homem que, já depois de abandonar os relvados, reagiu com um "Não sei quem é" à notícia de um processo que lhe tinha sido movido pelo ex-colega Vítor Pereira ou que provocou o seu próprio veto para dirigente dos árbitros com mais uma provocação aos poderes instituídos: "No futebol português há majores, mas há muitos com vontade de serem promovidos a coronéis sem jagunços".
Por estas e por outras mostras de radicalismo – como as cenas de pancadaria protagonizadas em Julho com o árbitro Paulo Costa, no funeral do ex-árbitro Vítor Correia –, este confesso adepto do Belenenses, onde chegou a praticar atletismo, ainda hoje divide os adeptos de futebol em Portugal. E não admira que assim seja. Findo o seu último jogo, perguntaram-lhe o que ia fazer a seguir. Coroado disse que talvez tentasse tirar um curso de Direito. "Assim, da próxima vez que me chamarem aldrabão, serei um aldrabão licenciado". Mas nunca consensual.
Alexandra Tavares-Teles
A podridão do futebol está bem patente nesta entrevista. Os 3M é que mandam no futebol e repito o que já disse num outro tópico :
3 primeiros lugares com acesso á champions são para os 3M e "mai nada".
Haja juiz, ou procurador, ou poder politico, ou Maria da Fonte ou quem quer que seja para limpar, para arrasar esta escumalha.
Isto podia ser um excerto de um livro de ficção onde os seres rastejantes mandam.
É pena ser realidade e estar ao virar da esquina.
Não podemos aceitar isto mais estes senhores tem de uma vez por todas ir para a prisão ponto final. Portugal não pode ser a republica das bananas.
Ao ler isto, são demasiados os sentimentos, muitos deles contraditórios, para que os possa exprimir em palavras... :-\ :-\ :-\
Futebol para mim é a bola, jogadores, público, beber umas cervejas com os amigos, mandar umas car**das nos jogos, etc
Dirigentes, empresários, arbitragens etc ...é melhor nem pensar muito nisso se não nem vejo mais futebol....Tento fazer de conta que nem existem...
Enquanto os clubes médios/ pequenos não se unirem contra os 3 do costume nada disso vai mudar...Aos 3 do costume junto o Boavista que é dos clubes mais detestáveis, quem tem os dirigentes mais detestáveis e que foi campeão da maneira que foi....Nunca mais prendem esse majorzeco traficante de batatas que agora parece ter um herdeiro à altura....
Isto tudo é apenas mais uma história veridica passada por quem lá esteve, e muitas outras virão...nda disso é novidade pra mim, pois sei o quanto o futebol foi, é, e será corrupto se algo de radical não vier a acontecer, espero que agora a Dr.Morgado coloque os verdadeiros culpados ondes eles bem mereçem, no xadrex,cadeia neles já...pois só assim, poderemos voltar a acreditar no nosso futebol de betão...
SAUDAÇOES BRACARENSES E FORÇA BRAGA OLÉ...
è com estas coisas que cada vez eu me revolto mais, e pensar eu que podemos vir um dia a ser campeoes....
Este coroado é mesmo um passado ... e fala como se não fosse nada com ele .Há gajos com uma lata do C@t@no !!!!!!
Quote from: jaimec on 29 de December de 2006, 15:54
Este coroado é mesmo um passado ... e fala como se não fosse nada com ele .Há gajos com uma lata do C@t@no !!!!!!
É que, se calhar, não é mesmo nada com ele. Já colocaram a hipótese de haver por acaso um ex-árbitro honesto? Pode ou não ser o caso do Coroado?
Este senhor que reveja o jogo da final da taça entre o BRAGA e o porto,,no Jamor que tenho em VHS, em que perdemos por 3-1.. E mais não digo...........
Quote from: maquiavel on 29 de December de 2006, 16:13
Quote from: jaimec on 29 de December de 2006, 15:54
Este coroado é mesmo um passado ... e fala como se não fosse nada com ele .Há gajos com uma lata do C@t@no !!!!!!
É que, se calhar, não é mesmo nada com ele. Já colocaram a hipótese de haver por acaso um ex-árbitro honesto? Pode ou não ser o caso do Coroado?
Mas leste a entrevista do coroado ? Não ? Mas devias ... umas linhas acima ele admite ter cedido a pressões .Quem terão sido os clubes prejudicados nesse período de tempo ? Porque é que não falou na altura ? Eu sei que mais vale tarde que nunca, mas soa a oprtunismo e a falsa honestidade .Ai isso cheira .
Coroado...? Até me faz azia... ;D
O Sr. Coroado devia era ter vergonha na cara, e no mínimo remeter-se ao silêncio!
Se a Maria José Morgado estiver mesmo atenta... vai ser bonito, vai!
O conteúdo da entrevista não me surpreendeu, a única coisa que me questiono é se o mesmo não dá direito a uma abertura de um processo( para o Jorge Coroado e para as pessoas referidas na entrevista) ??????
Acredito em quase tudo que li.... mas o coroado???? esse gajo foi o maior porco que ja vi a arbitrar...
Para nao falar que já fez gestos obscenos para os adeptos do Braga pelo menos duas vezes...
Uma foi na mata real (naquele jogo que perdemos 4-2, dia de grande tempestade) em que fez " pissos" para a bancada dos bracarenses com os delegados da liga atraz mas o guarda chuva tapava, ainda antes de começar o jogo, quando verificava as balizas.
O outro foi no bessa num jogo que ganhamos e o quim fez grande exibição, ele marcou prai 10 faltas á entrada da area nos ultimos 15 minutos, pois o boavista tinha bons marcadores de livres. No fim, ao ouvir os protestos dos bracarenses ria-se ironicamente e fez o mesmo gesto que fez na mata real....
Tenho uma duvida: Não foi ele que expulsou o Toni para não poder jogar a final da taça contra os andrades?
estou com o Brigada253
esse rabeta do coroado sempre nos gamou forte e feio
vem agora, fazer figura de honesto e santinho, quando foi mais um dos mafiosos que por lá passou.
quase que lembra o octávio quando este dizia que eu bem avisei
o futebol ficou mais rico com a saida do coroado, ainda que se tenha de novo emprobrecido pelos reles que o susbtituíram
Agora que o caso anda a ser investigado querem todos dar uma de santinhos... ::)
Muito elucidativo!
Alguém disse que há três metralhas no futebol português? Os quais regateiam e repartem o bolo entre eles?
Alguém duvida que o crescimento do S C Braga É um espinho cravado nesta paz de botas cardadas que é o futebol português?
FORÇA ENORME SPORTING CLUBE DE BRAGA!
a esses 3 acrescentem o Boavista..clube do major contrabandista de batatas que foi campeão da maneira que foi...