Imaginem um caçador, com uma espingarda de grandes dimensões, que faz imenso barulho. Imaginem um enorme bando de infelizes aves que sobrevoam a zona onde o nosso caçador se encontra. Este, perante tão grande abundância de presas, nem precisa de fazer pontaria; dispara em todas as direcções e algumas das aves caem mortas em redor do caçador. Assim é o Miguel Sousa Tavares: dispara para todos os lados e são tantos os alvos que, de vez em quando, acerta. Mas tal como no caso do caçador que dispara "ao calhas", também ele cai no ridículo ao errar alvos aparentemente fáceis.
Vem tudo isto a propósito do facto de o guarda-redes Eduardo ter tido um desabafo sobre os que criticaram a sua titularidade na selecção Nacional. No calor da vitória sobre a Bósnia, Eduardo, a meu ver, precipitou-se porque respondeu à letra a quem não merecia qualquer tipo de resposta; no entanto, Miguel Sousa Tavares, como se diz em linguagem popular, enfiou a carapuça. Obviamente, os largos e abundantes espaços que lhe são dados na Comunicação Social permitem-lhe argumentar a seu bel-prazer.
Trata-se de um caso de popularidade cuja explicação só é estranha a quem não conhecer este país onde os franco-atiradores são admirados e venerados; em que a Comunicação Social explora os bem-falantes porque é deles que o povo gosta; não interessa muito ouvir argumentos complicados; interessa ouvir frases feitas que se possam repetir no café. Não interessa sequer se se trata de verdades ou mentiras; o que interessa, sim, é que, com frases curtas e voz grossa, essas frases entrem facilmente no ouvido. É por isso que eu considero estes "opinadores" profissionais como os "pimbas" da intelectualidade.
Miguel Sousa Tavares, como outros, aderiu à moda do futebol; é sabido como este desporto pode propagandear um nome, mesmo para o efeito de vender livros de qualidade discutível. No entanto, ele tem todo o direito de emitir as opiniões que entender, assim como eu tenho o direito de dizer que já não consigo ouvi-lo, como nunca consegui ler com agrado qualquer dos seus livros. Só lamento é que a comunicação social e a opinião pública em geral aceite passivamente as suas "inverdades", como agora se diz (porque a palavra "mentira" parece soar mal mesmo a quem a pratica).
O certo é que o futebol é cada vez mais um meio muito bem explorado para projectar determinadas pessoas menos capazes de se afirmarem nos seus verdadeiros ofícios. Essas pessoas têm todo o direito de expressarem opiniões mas não me parece justo nem razoável que, graças ao mediatismo que o futebol lhes dá, acabem por se conseguir impor em outros meios, como sejam a literatura, o cinema, a política, etc. em que o mérito no respectivo ofício deveria ser a maior justificação para a sua projecção.
Somos, cada vez mais, um país de franco-atiradores e de patos-bravos. Disparamos para todos os lados, como o faz MST. Dizemos mal de tudo, desde que não haja o risco de sermos penalizados (por exemplo se o patrão estiver a ouvir – porque o "senhor engenheiro" tem sempre razão). Por outro lado, somos também um país de patos-bravos: gostamos de andar, de pensar, de falar e de agir atrás do bando. Para onde o bando for, nós vamos. E se o chefe do bando é bem-falante e aparece na televisão, batemos palmas e até nos enternecemos com as suas opiniões, mesmo que baseadas nas tais "inverdades".
Esta tendência para criar ídolos com pés de barro só pode ser combatida de uma forma: se todos nós nos esforçarmos por desenvolver o nosso espírito crítico; a nossa autonomia intelectual. Porque ter espírito crítico não é, como pensam alguns, falar mal de tudo e de todos: é conseguir ter opiniões próprias. É rejeitar o "pronto a pensar" que os senhores da televisão nos oferecem a troco de um protagonismo pimba e artificial.
Falou e disse!
Muito bem!!!
Por aqui também se explica por que a esmagadora maioria dos portugueses torce por três clubes... andam em bando! Excelente texto, Cardoso!
bela imagem do que é o nosso pais....falta aí a cusquice da vida alheia e temos Portugal no seu melhor
excelente Cardosão
Fidelis Bracara
Braga e Basta
Bem ... contava com outro assunto ;) ;) ;) ;) mas este também é pertinente. E bastante oportuno.
Escreveste bem meu caro Cardoso. Nós sabemos como outros assuntos foram por "esse senhor" comentados de modo incompetente e disparatado. Adiante ...
Eu também considero que, mesmo tendo em conta o dito popular que diz que "quem não se sente não é filho de boa gente", o EDUARDO não deveria ter descido ao nível lamacento que alguns atingiram nas críticas feitas.
Quanto à resposta desse "cavalheiro" ao EDUARDO - só acontece porque o nosso país é o que é. Ai como tinha razão Mestre Almada e como tem razão Medina Carreira quando diz que isto é conversa fútil. Nem vale a pena qualquer esboço de resposta de EDUARDO a não ser a demonstração de serviço competente em campo. O resto ... são pardais aos bandos.
Pena que este artigo não seja lido em voz alta em horário nobre, tipo tempo de antena...
De resto, muito bem Cardosão!
Fabuloso!! Muito bem Cardoso.
Sobre este texto,...só posso aplaudir!
Mais uma vez Cardoso retratas a miudeza da nossa sociedade, e como ela facilmente encontra idolos +- improvaveis para idolatrar, o MST do nada aparece como brilhante comentador a que se segue uma carreira como escritor tb do mesmo calibre, pelo menos é o k apregoam, sinceramente o unico feito digno desse nome que lhe reconheço é ser filho da Sofia de Mello Breyner Andresen, de resto não gosto de o ouvir falar e muito menos dos seus livros. Acho que se aproveita da larga cobertura mediatica de que dispoe para dar opiniões pessoais, e acho k quando colocamos este tipo de pessoas a darem-se ao luxo de ter espaços de antena para darem a sua opinião pessoal muito mal andamos. E assim MST nada mais fez do que dar a sua opinião pessoal, como portista claro que apregoa que quem deve ser titular da selecção é aquele Gr que ontem fez o seu primeiro jogo "a sério", como é evidente muitos aproveitam e tb fazem propaganda às suas intenções, os benfiquistas falam do Quim, os sportinguistas apregoam a titularidade do Rui Patricio, outros falam de Ricardo e por aí fora, eu só posso dizer QUE GRANDE DOR DE DENTES QUE POR AÍ ANDA.
Boa, cardoso.
Os adeptos dos 3 mamões são mesmo aziados.
Belo texto, extremamente pertinente.
Logo após ler esse artigo n'A Bola fiquei com grande vontade de arranjar o mail desse senhor e, de forma educada claro, dizer-lhe umas quantas verdades e demonstrar-lhe que existe muito mais do que uns quantos parolos que comem e calam tudo o que ele escreve. É deplorável o uso de espaços mediáticos que este tipo de figuras(figurões) exploram para transmitirem tudo o que lhes vem à cabeça sem sequer se darem ao trabalho de aplicar um pouco de bom senso. É o país que temos em que se confunde constantemente liberdade com libertinagem!
Cardoso, apenas acrescentaria o facto de esse senhor falar em educação em relação ao Eduardo, quando no artigo em causa usa termos que de educação não sei o que têm, e ainda generaliza referindo que Eduardo atacou os adeptos, sabendo todos, e ele especificou, que a referência foi para meia dúzia de teóricos da bola. A contradição (ou ego) é tal desse dito escritor, que o próprio assumiu as críticas como sendo directamente para si!
Enfim... haja paciência... e muito cotonete em casa!!!
Saudações Braguistas!
Adorei a do "pimba intelectual" ;D ;D ;D
Parabéns Cardoso ! está excelente !!! ;)
Acima de tudo, é o prazer de ser do contra, só para parecer mais inteligente e informado do que o resto do rebanho...
Para além disso, como o referiste, é aquele tipo de pessoas a quem dá jeito aliarmo-nos e citarmos, quando não possuímos poder autocrítico suficiente para reflectirmos por nos mesmos... Enfim, infelizmente, um dos muitos 'fazedores mentais' que abundam por aí...
Excelente Cardoso!
Só agora é que tive opurtunidade de o ler. Mais uma vez um texto irrepreensivel e desta vez a dar uma chapada de luva branca a essa "coisa".
Já disse aqui o profundo desprezo que esse homem me suscita e esse mesmo desprezo ainda foi mais inflamado após as suas incompetentes "broadas" ao excelente homem que é Eduardo.
Resta-me dizer que só tenho pena que as tuas palavras sejam dedicadas a essa pessoa. Não merece o teu belo latim. ;) Pérolas a porcos mesmo.. ::)
Saudações Ultras
Infelizmente a grande maioria da população portuguesa pertence ao rebanho e este é um triste país que vive de frases feitas e ideias fabricadas pela imprensa e pelos "fazedores de opinião".