ANTÓNIO CONCEIÇÃO
«Quero chegar ao topo mas não tenho pressa»
Entrevista de Gonçalo Guimarães
Como tem corrido a sua primeira experiência no estrangeiro, logo num clube que estava em situação complicada?
— Era um dos objectivos que tinha na minha carreira e ao cabo de dois meses e meio o balanço é extremamente positivo. Já conhecia o presidente há alguns anos e aceitei o desafio. A adaptação foi fácil e, felizmente, encontrei um excelente grupo de jogadores, que aderiu rapidamente às minhas ideias. Conseguimos melhorar a situação classificativa, garantir a presença numa prova europeia e conquistar um lugar na final da Taça da Roménia.
— A renovação foi o reconhecimento do bom trabalho realizado...
— Sim, e para um treinador também é muito agradável um projecto desportivo como o do Cluj, que visa títulos e participações europeias. Houve vários factores que pesaram na minha decisão, inclusive a consciência de que as coisas em Portugal não estão fáceis. O senão é estar longe do país, família, amigos e das rotinas diárias, mas é assim a vida de um profissional. Tenho de procurar clubes que me dêem estabilidade para desenvolver o meu trabalho.
— Foi convidado pelo Sp. Braga quando estava no Trofense?
— Sim, e esse é um dos grandes clubes portugueses, apetecível para qualquer treinador, pelo crescimento que tem tido, pelas condições de trabalho, pelo quadro de jogadores e pela ambição do seu presidente, mas na altura não foi oportuno porque estava vinculado ao Trofense e não quis abandonar esse projecto.
— Foi contactado por António Salvador nos últimos tempos?
— Não, não fui.
«Campeonato romeno é muito competitivo»
— Que diferenças encontrou entre o futebol romeno e o português?
— Ao contrário do que as pessoas possam pensar, aqui joga-se com muita intensidade e ritmo durante 90 minutos, o nível competitivo é alto, o que não quer dizer seja sempre bem jogado. O equilíbrio é muito grande, há várias equipas com capacidade para lutar pelo título.
— Vencer a Taça da Roménia seria o seu primeiro grande título...
— Já fui campeão nacional da Liga de Honra, pelo Trofense, mas é óbvio que a conquista da Taça da Roménia iria enriquecer a minha carreira, o meu currículo. O FC Timisoara é um adversário difícil, mas tudo faremos para vencer.
« Peskovic já estava em andamento...»
— O Cluj já contratou Peskovic. Seguem-se mais jogadores do mercado português?
— Peskovic era uma contratação já em andamento quando cheguei ao Cluj, mas concordo plenamente porque fez uma grande época na Académica. Temos referenciados vários jogadores, sobretudo da América do Sul e de Portugal, mas a nova lei, que obriga a ter oito jogadores romenos nos 18 inscritos em cada jogo, obriga-nos a reflectir e, provavelmente, a mudar a política.
— Já fez um jogo nas provas europeias, pelo V. Setúbal, em Heerenveen. Ficou aquele bichinho?
— Sem dúvida. Qualquer treinador deseja estar presente de forma consecutiva nas provas europeias, convivendo com clubes de outra dimensão. Essa presença assídua faz parte dos meus objectivos.
— Quais os seus objectivos de carreira, a longo prazo?
— Tenho objectivos definidos, mas não tenho aquela ambição desmedida de os alcançar já amanhã. Procuro dar passos seguros e vou ganhando maturidade e experiência. Sinto que tenho qualidade e capacidade para desenvolver bons trabalhos em clubes com ambições.
«Assim estão a matar o futebol português»
— Como vê o grave problema dos salários em atraso em Portugal?
— Já passei por essa situação e lamento muito porque nos clubes mais modestos portugueses os jogadores e treinadores não ganham tanto quanto isso para estarem vários meses sem receberem salários. Acho que se está a pagar a factura dos erros do passado. Tem de haver uma revisão profunda, pois assim está a matar-se o futebol em Portugal.
— O FC Porto foi justo campeão?
— Claramente. A estrutura organizativa do FC Porto é uma referência em toda a Europa. Aqui na Roménia, em particular, fala-se muito disso. A equipa que mais ganha tem de ter mérito, por mais que se tente lateralizar as coisas.
— Álvaro Pereira acabou por ir para o FC Porto e não para o Benfica. Ficou surpreendido?
— Surpreendido não, porque sabíamos que havia outras propostas e vários clubes interessados, inclusive de Espanha. O FC Porto anda sempre atento, certamente já conhecia o jogador e aproveitou o impasse do Benfica para contratar o jogador. É um atleta muito ofensivo, o que é uma virtude, mas terá de ser um pouco trabalhado no aspecto defensivo.
Elogio dos jogadores
CLUJ — O trabalho realizado por António Conceição, desde que chegou ao Cluj, tem merecido rasgados elogios por parte dos jogadores, e não se pense que apenas os portugueses, pois Bogdan Mara, que estava encostado quando o técnico chegou, já vai na selecção. Entre os portugueses o espírito é idêntico. «Podem pensar que para nós é mais fácil termos um treinador do nosso país, mas a responsabilidade é maior. Todos os jogadores estão muito satisfeitos com o trabalho dele», vinca Tony, que o conhece do E. Amadora. Já Nuno Claro vive a primeira experiência e defende que o trabalho tem sido «muito positivo». Prova disso é a «renovação contratual».
in A BOLA
Sem dúvida um grande bracarense e que um dia vai levar o nosso clube aos títulos.
Qualidade não lhe falta.
Parabéns pela Taça vencida ontem e boa sorte para a próxima época.