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Simplesmente absurdo

A jornada vinte e um da liga portuguesa proporcionou um dérbi do Minho, sempre diferente dos outros dérbis. O estádio vimaranense registou meia casa, com números aparentemente reais, algo que não se registava há muito tempo, em tempos bem antes do início da pandemia que mudou hábitos de muita gente. Os sentimentos que um jogo destes proporciona sobrepõem-se a tudo e a fronteira entre o racional e o irracional é muito ténue. É uma paixão arrebatadora que move as pessoas, mesmo aquelas que nos outros dias do ano veem os clubes com um ar neutral.

Assistir, como visitante, a um jogo destes é uma verdadeira aventura e implica um gasto temporal simplesmente absurdo. Pela parte que me toca foram oito horas que utilizei neste encontro e muitas foram as pessoas em situação análoga. Duas cidades separadas por uma vintena de quilómetros não podem permitir que o rol de dificuldades para ir ao estádio do adversário seja ao nível de uma montanha, que se vê, mas que dificilmente se alcança.

A logística de uma deslocação é grande, sendo impensável não viajar de autocarro nestes jogos, por óbvios motivos de segurança, cuja lamentável situação demorará anos a inverter, se as pessoas de ambas as partes quiserem fazer algo para salvar o futebol. Seria muito mais cómodo fazer esta curta viagem de carro particular e até jantar na cidade que se visita, mas, para isso há muitos comportamentos desviantes a corrigir.

Sobre esta viagem, a polícia montou um esquema de segurança capaz de fazer inveja a quem defende os dois lados da barricada entre a Ucrânia e a Rússia. Parecia até que por ali iam passar perigosos criminosos, capazes de abalar a segurança da cidade visitada. Em seguida, parar os autocarros na Universidade do Minho e manter as pessoas fechadas em tempos pandémicos, tal como aconteceu, é algo que não deveria orgulhar ninguém. Seguida viagem pedestre até ao estádio havia nova façanha na entrada, onde a incompetência e a lentidão da segurança combinava bem com a postura arrogante da polícia. É inaceitável que uma entrada possa requerer tanto tempo para cumprir as formalidades necessárias.

O jogo foi o melhor de tudo e a rivalidade entre os clubes esteve em limites elevados, como deve ser, tendo terminado em festa de quem foi feliz ao chegar a uma vitória caída dos erros bracarenses, que roçaram o obsceno. Ora, este triunfo escapava há sete anos aos vimaranenses e, por isso, deu azo a festejos próprios de uma conquista épica, que envolveu “volta olímpica” da equipa ao estádio, que valorizaram em demasia o feito alcançado, com a sorte e o labor de quem lutou muito por isso.

Assistir a um jogo como visitante implica estar numa jaula, a que os dirigentes chamam, com simpatia, de gaiola, nada dourada diria eu. O local por norma já é mau e com aquela rede o futebol é visto aos quadradinhos, condições que em nada se coadunam com o exorbitante preço dos bilhetes. Estas são razões suficientes para afastar as pessoas cada vez mais do futebol.

Findo o jogo houve uma prolongada espera dentro do estádio, onde se incluiu a já tradicional violência gratuita da polícia. Chega a ser penoso ver polícias, armados até aos dentes, a bater em pessoas indefesas, na maioria esmagadora das vezes sem qualquer justificação. A postura arrogante e demonstradora de força da polícia é absolutamente condenável, ainda que o balanço feito por si deva ser, por certo, positivo, apesar das várias fotografias tremidas onde ficaram seus os agentes.

O percurso, feito novamente a pé, até aos autocarros lá aconteceu a muito custo e, por fim, o regresso a Braga, que no meu caso coincidiu com um novo regresso à cidade que escolhi para viver. Era, finalmente, a chegada ao doce lar, em Guimarães, que deixa para trás uma aventura tão longa e complicada que desmotiva outras deslocações, para mal do futebol. Eles, em conjunto, não sabem, nem sonham o mal que estão a fazer e os estádios estarão cada vez mais desertos.

 

In zerozero 06-02-2022

Imagem zerozero

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