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O silêncio dos dirigentes

A pandemia tem trazido efeitos nefastos nos estádios de futebol. O afastamento forçado dos adeptos dos recintos desportivos, aliado à paragem das competições a determinada altura, retirou hábitos de ver os jogos ao vivo, pois o futebol reforçou a sua posição de espetáculo que chegava às nossas casas através da televisão. A tecnologia substituía a presença física, bem à maneira da imposição do teletrabalho a que o mundo se viu obrigado, por decisão das diversas entidades responsáveis. Era a vivência de um mundo desconhecido, na qual era imperioso evitar que os tempos pandémicos tivessem efeitos devastadores nas populações, pois era assumido que o futuro se apresentava demasiado incerto, para as pessoas que estavam habituadas a saber que terrenos pisavam.

A ciência, cada vez mais evoluída, foi investigando e chegou a respostas diferentes ao vírus do momento ao longo dos últimos tempos. Era urgente encontrar soluções, que devolvessem a normalidade ao mundo. Foi assim que, num curto e eficiente período de investigação, se chegou às vacinas e com elas parecia que a acalmia iria regressar. Portugal deu, mais um, grande exemplo ao mundo ao aderir em massa ao processo de vacinação, ficando de fora os negacionistas e outros grupos mentalmente criados, que estavam em clara minoria. Felizmente, digo eu. Mas, o mundo é muito heterogéneo e os países mais ricos viram o processo de vacinação avançar rapidamente, ao passo que os países pobres viviam uma situação antagónica e essas populações ficavam à mercê de um vírus que teima em sofrer mutações, tentando enganar a ciência.

Muitos meses depois de serem afastados dos estádios, os adeptos começaram a regressar ao seu local natural, de forma gradual, mas muito mais lenta do que se supunha. A criação do certificado digital agilizava as entradas nos diversos locais, tanto cá dentro como lá fora, e era um incentivo adicional para os indecisos se vacinarem. Tudo parecia lógico neste processo. A melhoria global da situação levou ao alívio das medidas restritivas que pareciam vigorar há uma eternidade e parecia que o mundo poderia finalmente começar a ver como endémica uma coisa que tinha sido pandémica. A chegada do inverno, aliada a elevadas percentagens de pessoas por vacinar pelo mundo e a uma imunidade ao vírus que foi mais curta do que era expectável, forçou os diferentes países a imporem de novo medidas apertadas às populações.

No contexto acima referido, Portugal definiu que a partir da entrada de mais um indesejável estado de calamidade, as restrições aumentassem consideravelmente, no acesso a diversos locais, entre os quais os recintos desportivos que aqui me importa abordar. O certificado de vacinação, ou de recuperação da doença, deixa de ser via verde para entrar nos recintos desportivos, fechados ou abertos, sendo exigido um teste negativo a cada pessoa que queira ver, por exemplo, um jogo de futebol. Ora, este entrave adicional será mais um prego no caixão que estão a fazer ao desporto em geral e ao futebol em particular, pelo que o número de adeptos nos estádios, que desceu vertiginosamente nos estádios portugueses, vai encolher bastante nos próximos tempos, até porque as farmácias não conseguirão capacidade de resposta a tantas solicitações de testes, por muito que os políticos digam que haverá para todos.

Perante o contexto acima descrito, estranho bastante o silêncio dos dirigentes do futebol português, que só deverão reagir quando perceberem o óbvio, de que as pessoas deixarão, por muito tempo ou de vez, de frequentar os estádios e o futebol passará a ser um espetáculo de televisão, como muitos parecem desejar, numa imposição sem limites de que manda quem paga. Os adeptos são a essência do futebol e como tal devem merecer o carinho e a defesa intransigente dos dirigentes, de clubes ou outras organizações, de maneira a evitar o definhamento que se anuncia ao futebol luso, com os seus (ir)responsáveis a assobiarem para o lado, evitando ver a situação lamentável a que se irá chegar em breve. Espero, por isso, que quem comanda acorde, antes que seja tarde de mais.

in zerozero.pt

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