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O outro lado

O SC Braga deslocou-se a Guimarães e neste artigo irei abordar o outro lado, menos interessante, do futebol, que se encontra para além do retângulo de jogo e que poucas vezes é analisado. Este é sempre um jogo especial para ambas as equipas, um jogo que mexe de modo claro com os sentimentos mais recônditos dos adeptos, o que por vezes faz ultrapassar os limites mais racionais da ação, individual ou coletiva.

O jogo começou bem antes do apito do árbitro, com a polémica dos bilhetes disponibilizados, em número inferior ao que a lei determina, situação que se tornou pública sob forma de comunicado de ambas as partes. A primeira remessa, de oitocentos bilhetes, esgotou em poucas horas, fazendo crer que afinal em Braga há adeptos, e tornando real a necessidade de solicitar nova quantidade, dentro do que está legalmente estabelecido. Por fim, o bom senso imperou e o pedido bracarense foi atendido, ainda que de modo enviesado.

A deslocação a Guimarães, que dista apenas duas dezenas de quilómetros de Braga, foi feita em algumas dezenas de autocarros, por óbvias razões de segurança. A polícia montou um esquema de segurança que privilegiava a integridade física de todos, mas que continha muitas falhas, como vem sendo habitual sempre que se trata de mobilizar adeptos de Braga. A título de exemplo, refiro que as pessoas foram forçadas a permanecer nos autocarros, com estes já estacionados na Universidade do Minho, o que contraria as regras sanitárias em vigor. Fez-se, em seguida, o percurso a pé que haveria de levar todos até ao estádio, num cordão de segurança que fazia lembrar zonas de conflito real espalhadas pelo mundo.  A entrada foi feita devagar, devagarinho e quase parada, num ritmo que enerva a mais pacata das almas presentes.

No relvado houve rivalidade dura e um apoio incrível das almas braguistas, que se revelou infrutífero, pois a derrota haveria de chegar sobre o fim, com a sorte a sorrir a quem mais se contentava com o empate a uma bola que se registava. Mas aconteceu futebol e dois erros deram outros tantos golos aos vimaranenses, sendo o mais grave o último, pelo facto de o jogo estar mesmo no fim e por ter resultado de um lance, aparentemente, inofensivo. Foi o delírio dos de Guimarães, que ao fim de sete anos de seca conseguiram vencer o grande rival de sempre, o que despoletou os desproporcionados festejos observados. A bem da verdade, ao SC Braga exigia-se mais e melhor, pois sem igualar, no mínimo, a atitude e a entrega ao jogo, a mera qualidade isolada deixa o fracasso mais perto, como aconteceu.

Alguns jogadores não perceberam mesmo que este é um jogo especial para os adeptos, o que se lamenta. A superioridade teórica, que não se demonstra em campo, não vence, e estes jogos, tal como as finais, são para se vencer e não para se jogar e nesse aspeto os conquistadores foram melhores.

O regresso a Braga foi mais uma penosa caminhada, muitas vezes imóvel, de muitas horas, para que todos chegassem, por fim, ao conforto do lar.

As horas despendidas, o exorbitante preço dos bilhetes, a gaiola onde colocaram os adeptos a ver futebol aos quadradinhos, com uma casa de banho minúscula de uma sanita apenas para tanta gente e os maus serviços regulares da polícia, que voltou a descambar para o já habitual lado da violência gratuita, são fatores que carecem de reflexão alargada, pois a continuar assim serão cada vez mais as pessoas que cedem aos hábitos mudados pela pandemia e se afastam dos estádios. Assim, não há paixão que aguente tanta adversidade.

 

In Diário do Minho de 10-02-2022

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