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40 anos de amor

Volta e meia sopra um vento que nos traz memórias doces, de tempos eternos, gravados num cantinho do nosso coração e que nos encaminha para o mel doce da recordação de quem nos marcou indelevelmente e faz parte da nossa construção enquanto pessoa, a vários níveis.

Faz por estes dias, 40 anos que dois professores marcaram a minha vida. Numa altura em que fazer desporto não tinha a reconhecida importância que tem hoje, o meu pediatra aconselhou a prática da ginástica e da natação como ajuda para as maleitas que me atingiam e para as quais ninguém descobria solução. Numa cidade onde nada existia nesta área, para crianças, os professores Agostinho Costa e Manuel Dantas Leite, tornaram-se a minha salvação.

A verdade é que, aquilo que foi receitado como uma terapêutica, que deu resultado, diga-se de passagem, acabou por ser um dos tempos mais prazeroso da minha vida. Fiz parte das turmas do professor Agostinho Costa. A ele devo o rigor na prática do exercício físico, com ele aprendi a nunca desistir, a repetir até ser perfeito, a confiar, a confiar cegamente sempre que ele dizia que eu ia conseguir, mesmo quando aquele mortal e meio ou aquele flick flack parecia impossível para mim. Ainda o ouço dizer-me, como se fosse uma coisa de nada, enquanto encolhia os ombros, “eu sabia que ias conseguir, tu és a minha Nadia Comaneci”.

Ia sempre mais cedo para as aulas de ginástica. Ficava a ver o professor Manuel Dantas Leite dar aulas aos mais pequenitos, traquinas, irrequietos, a aprenderem a fazer filinha para as cambalhotas no tapete, primeiro desastradas, às vezes interrompidas pelo choro do não consigo, ombreado com a calma de quem ensinava com amor e paciência a acreditar que era possível fazer melhor. E quando era melhor, o professor Manuel fazia com que parecesse muito melhor do que era e o menino ou a menina sentiam-se os heróis do dia, como se tivessem ultrapassado um obstáculo do mesmo nível que o bicho papão e tivessem tido um prémio nobel.

Eramos uma família e o Sarau anual de Ginástica no pavilhão da André Soares, soava ao nosso Natal. Eram muitas horas de trabalho, de trabalho conjunto, de ensaios de coreografias, onde o prémio maior eram os aplausos dos familiares e amigos que enchiam a bancada do pavilhão no dia em que mostrávamos à cidade a nossa destreza física. Sorriam, dizia o professor Manuel, agradeçam os aplausos, relembrava sempre. E ainda hoje ecoa no meu cérebro, o som da palma do professor Agostinho Costa que dava início à corrida para o exercício do trampolim que me catapultava no ar e fazia soar um “uau” na bancada, seguido de palmas sinceras de admiração por parte do público.

Mas com os professores Agostinho Costa e Manuel Dantas Leite, aprendemos mais do que ginástica, aprendemos mais do que natação, atividade que praticávamos nos meses de julho e de setembro, na piscina de Barcelos. Aprendemos a ser gente, aprendemos a ajudar os mais novos, a ter obrigações, a cumprir tarefas. Os mais velhos tinham sempre de ajudar os mais novos, a despir e a vestir, a por toucas e tirar toucas, a pentear cabelos, a apertar sapatilhas, a ajudar a abrir o pacote de bolacha e a insistir para comerem o lanche todo.

Passaram 40 anos, os meus filhos também passaram pelas mãos destes professores. Famílias inteiras passaram por eles. Eles deram o melhor de si. Braga deve estar-lhes eternamente grata. Para eles, a minha homenagem, o meu amor, o meu reconhecimento. 40 anos e ainda me fazem ter vontade de dar mortais. Os saltos para a piscina, esses, continuam a ser perfeitos. 40 anos e parece que foi ontem.

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