A época desportiva ainda não terminou em todos os escalões, mas as mudanças em Braga anunciam-se em doses variadas, em diferentes equipas e cargos.
Começo esta reflexão pela equipa principal, de onde saiu Carlos Carvalhal, depois de ter deixado o seu nome gravado em letras de ouro na história do clube, após ter vencido a Taça de Portugal e ter chegado a três finais. Esta gravação ganha outro significado pelo facto de o técnico ser braguista desde o berço, dado que veio a este mundo numa casa onde o braguismo era uma “doutrina” a seguir. O treinador bracarense e braguista de coração mostrou a sua competência a vários níveis, ficando na memória de todos o facto de ter estreado na equipa principal arsenalista muitos jovens provenientes da Cidade Desportiva. O lado pior das redes sociais mostrou um ódio ao desempenho do técnico, revelador de uma consciência escassa sobre a realidade contextual, por parte de alguns adeptos.
Uma das coisas que mais custou na temporada que está a findar foi a eliminação na Taça de Portugal, ante um Vizela que num tempo não muito distante já foi satélite do SC Braga, com relevo especial para a temporada em que Domingos Paciência levou os bracarenses à final da Liga Europa, que viria a perder em Dublin com um golo que hoje a tecnologia anularia. Essa derrota em Vizela significou a perda de um título que Coimbra viu os brácaros a conquistar com brilho na temporada anterior, e aconteceu numa semana horrível, que custou a eliminação precoce nas duas taças internas e fez sangrar os corações braguistas, que se alegrariam com a ponta final positiva realizada, por oposição aos maus hábitos dos últimos longos anos.
Por tudo o que fez de bom em Braga nos últimos dois anos, mesmo com erros de percurso, aqui ficam os meus parabéns e agradecimentos a Carlos Carvalhal por tudo o que fez para engrandecer o clube, ficando como o técnico do centenário, que conseguiu vencer nessa idade marcante.
Para liderar a nova equipa técnica, António Salvador escolheu Artur Jorge, outro Gverreiro desde as origens, que assim deixa a equipa B. O que se espera é que o treinador que agora chega à sua cadeira de sonho, em função da resiliência e competência demonstradas, seja capaz de proporcionar motivos para sorrir a toda a Legião. Uma coisa que me parece certa, à partida, é que a equipa irá encarar cada jogo como se não houvesse amanhã, dado o perfil aguerrido do novo treinador.
A equipa B conhecerá novo comandante, sendo apontado o nome de Vasco Botelho, que levou o Estoril a conquistar a dobradinha no escalão de Sub-23. Curiosamente, a Taça Revelação foi obtida frente ao SC Braga esta semana, no município de Tábua, após prolongamento, num jogo em que a arbitragem voltou a registar um dia negativo. Aliás, o setor da arbitragem tem sérios motivos de reflexão face a nova ausência de mais uma fase final, desta vez no Mundial do Catar, debatendo o longo caminho que há a percorrer para devolver a credibilidade ao setor, de modo que o futebol possa crescer ao nível da transparência e seriedade, antes que seja tarde de mais.
O mercado de verão promete ser intenso para as bandas da Brácara Augusta, em função da valorização de alguns dos seus elementos. Em nome do equilíbrio financeiro, que recebeu uma boa ajuda com nova entrada direta na fase de grupos da Liga Europa, os cofres bracarenses poderão ser recheados em breve por alguns milhões, face à inevitável mudança de ares de, pelo menos, dois jogadores. Mas este é apenas um palpite meu. Al Musrati surge no topo das mudanças em perspetiva e só faço votos para que saia para o estrangeiro, de preferência para uma grande equipa, tal como este “monstro líbio” merece, em função da sua imensa qualidade. Sobre outros nomes não me pronuncio por agora, ainda que o meu desejo seja o de RH21 continuar a capitanear os Gverreiros do Minho.
Uma nota final para a merecida, ainda que tardia, chamada de Ricardo Horta e David Carmo à seleção principal. Se o central pode ajudar a colmatar uma lacuna da equipa lusa, em função da sua inegável valia, no caso do avançado, que é recordista de golos em Braga, mesmo sem ser um ponta de lança, é o reconhecimento demorado da sua qualidade, demonstrada ao longo dos tempos em Braga, desde que aí encontrou a sua “casa de conforto” e que parece ser o seu habitat natural. É caso para dizer: abençoado processo de naturalização dos dois jogadores, que tardou, mas chegou.
In zerozero.pt de 29-05-2022